segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Filme : Almost Famous (Quase Famosos) - Paixão pelo Rock - Parte 1 - Por Luiz Domingues

Eis aqui um exemplo muito interessante de uma autocinebiografia que contempla uma riqueza de informações, enorme. Trata-se da história de vida de um diretor de cinema que também foi um crítico de Rock precoce, ainda adolescente, a trabalhar para um grande veículo especializado, no caso, a revista Rolling Stone. A montagem da história foi linear, contudo, pois optou-se por uma linha mestra e dentro dessa condução escolhida, várias passagens foram anexadas  em seu bojo, incluso a fazer uso de algumas sob licença poética. Não são invenções, contudo, mas vivências reais que tal personagem teve em sua trajetória, no entanto, agrupadas sem muita preocupação em seguir rigidamente a cronologia correta dos acontecimentos. A própria história de vida desse diretor, que pode ser considerado um gênio de certa forma, por ter trabalhado em uma revista de grande repercussão, na tenra adolescência, é algo extraordinário por si só. Entretanto, tal trajetória vai além, pois esse garoto não apenas mostrou virtuosismo precoce ao escrever muito bem e com discernimento, em tão tenra idade, mas também por ter algumas delas foram inclusas no bojo do filme. Digno de enaltecimento também, o fato de que anos mais tarde, esse rapaz tornou-se um diretor de cinema muito respeitado, mediante a construção de um currículo muito bom em sua filmografia e com um detalhe extra : embora necessariamente centrada no assunto, pois ele buscou outras temáticas como diretor de cinema e não fechou-se em contar apenas histórias sobre tal gênero musical e item contracultural que tanto conhece em suas entranhas. Sobre quem eu falo e qual filme em específico que ele dirigiu a narrar a sua história de vida e do qual eu irei comentar ? Esclareço a partir do próximo parágrafo.
Pois muito bem, falo sobre o cineasta, Cameron Crowe, um norte-americano que nasceu que em 1957, e quando tinha apenas quinze anos de idade, mostrava-se inteiramente arrebatado pelo Rock. Com um talento nato para exercer o jornalismo cultural, mediante uma espetacular bagagem musical e apto a criar um ótimo texto, ele passou a escrever resenhas sobre shows e lançamentos de discos para o jornal, San Diego Union. Não demorou muito e estava a ser sondado pela Revista Rolling Stone, uma das maiores especializadas em música, na América do Norte. Daí em diante, Cameron deslanchou ao criar resenhas espetaculares sobre as maiores bandas norte-americanas e britânicas da década de setenta, e para tanto, ao acompanhar turnês, assistir shows e a estabelecer amizade com diversos Rock Stars.
Tanto que ele culminou por casar-se com Nancy Wilson, vocalista e guitarrista do bom grupo Pop-Rock, "Heart", em 1986, de quem divorciou-se em 2010. Mas o Rock não foi a sua única paixão e paralelo à carreira como crítico especializado (e muito precoce, diga-se de passagem), Cameron costumava também escrever roteiros para cinema. Dessa maneira, de um roteiro seu, foi produzida a comédia : "Picardias Estudantis" (Fast Times at Ridgemont High), em 1982, e o caminho para ingressar no mundo cinematográfico, em suma, delineou-se. A colaborar com outros projetos, doravante, ele tratou em embrenhar-se no mundo do cinema e daí, não demorou em tornar-se diretor e iniciar sua carreira cinematográfica. E assim, vieram seus primeiros trabalhos, "Say Anything" ("Diga o que Quiserem"); "Singles" ("Vida de Solteiro"); este último, inclusive, ambientado em Seattle / Washington, na época do movimento "Grunge", e por ter conter a presença do grupo de Rock, "Pearl Jam" verdadeiro, em torno dos seus componentes a compor a banda fictícia, onde o personagem do ator, Matt Dillon atuasse a interpretar um Rocker (este filme tem a sua resenha devidamente publicada em meu Blog, basta ao leitor procurar por tal item no arquivo). 
Fora em "Jerry Maguire" ("Jerry Maguire, a Grande Virada"), o ponto onde começou a sua trajetória cinematográfica em parceria com o famoso ator, Tom Cruise. Todavia, ocorreu apenas em 2000, que ele resolveu contar a sua própria história, como crítico de Rock precoce, a aproveitar para acrescentar diversas passagens que grandes artistas haviam contado-lhe, em entrevistas formais e em conversas reservadas. E dessa colcha de retalhos recheada com histórias deliciosas do Rock setentista, nasceu : "Almost Famous" ("Quase Famosos").
A comentar sobre a história narrada no filme, mostra-se, portanto, a saga do personagem, William Miller (interpretado por Patrick Fugit), que é a representação do próprio, Cameron Crowe, quando jovem. Precoce, esse adolescente escrevia artigos e resenhas para o jornal local e então conhece o crítico, Lester Bangs (interpretado no filme, pelo ator, Philip Seymour Duncan), mito do jornalismo / Rock norte-americano (Bangs trabalhou nas revistas "Creem" e "Rolling Stone"). Eis que o veterano jornalista afeiçôou-se ao garoto e forneceu-lhe diversas dicas sobre o jornalismo musical Rocker. Ao melhorar ainda mais a sua escrita, eis que ele recebe o convite inusitado do editor da Revista Rolling Stone (Ben Fong-Torres, interpretado por Terry Chen), para acompanhar a turnê de uma banda emergente, chamada : "Stillwater" (que é fictícia, pois Cameron não quis usar um exemplo real que ele vivenciara, para evitar problemas com membros dessas bandas reais). Então, Willian faz o primeiro contato com a banda durante um concerto deles em 1973, ao abrir o show do Black Sabbath, sob uma arena lotada.
O contato dentro dos bastidores o enlouquece ainda mais em favor do Universo do Rock, principalmente quando conhece a groupie, "Penny Lane" (interpretada por Kate Hudson). O filme segue com a os componentes dessa banda, inicialmente a apresentar a postura em não acreditar ser possível que aquele garoto imberbe, fosse um jornalista da Revista Rolling Stone, mas finalmente ele é aceito, e assim, William passa a viajar com a banda, para observar e anotar tudo o que notara nos bastidores.
Nesse ponto, começa a grande viagem do espectador ao universo do Rock setentista, e entre passagens hilárias, e outras dramáticas, o personagem William Miller (o alter ego de Cameron Crowe e defendido pelo ator, Patrick Fugit), viaja junto a comitiva da banda, "Stillwater", ao testemunhar os sonhos de seus componentes; alegrias; brigas; decepções e fraquezas, ao ser desnudadas enquanto trabalham arduamente para chegar ao estrelato que almejam. À medida que a turnê segue, o jovem jornalista também vê-se envolto aos seus conflitos pessoais, inerentes ao fato de ser apenas um adolescente. Como por exemplo, por ser menor de idade, a sua mãe (Elaine Miller, interpretada pela ótima atriz, Frances McDormand), o deixou participar da turnê, sob protesto e dessa forma, o atormenta com telefonemas e recados constrangedores e que são amplamente ironizados, principalmente pelas groupies que acompanham a banda, como parte da comitiva. 
O editor da Revista Rolling Stone, não o conhece pessoalmente, e assim, não sabe que ele é apenas um adolescente ainda a frequentar a "High School", pois só fala com ele ao telefone e o garoto engrossa a voz para simular ser adulto. Nesta altura, William está apaixonado pela groupie, "Penny Lane", que percebe de pronto os seus olhares pouco sutis, mas ela por sua vez, está a engraçar-se com o guitarrista do Stillwater, Russell Hammond (interpretado por Billy Crudup). 
Para quem conhece a história do Rock sessenta / setentista, as referências são tantas, que caberiam certamente em uma matéria a parte. Portanto, convido-o, amigo leitor, a acompanhar a segunda parte desta resenha sobre o filme "Almost Famous", postada neste Blog e basta procurar no arquivo, resenha em que eu analiso exclusivamente tais particularidades. A encerrar esta primeira parte, digo que sobre o roteiro, acrescento que William desaponta o editor da revista por dar a entender uma certa parcialidade em distorcer os fatos para enaltecer indevidamente a banda, pois ao buscar a checagem das fontes, alguns membros do grupo, notadamente o guitarrista, Russell, negaram as informações por ele escritas e também por ter sido revelada a sua real idade cronológica. Foi algo injusto, no entanto, pois Russell apenas mentira, pois acovardara-se por uma questão de medo em expor a sua banda a ser retratada em minúcias pouco confortáveis de seu cotidiano. Portanto, Willian foi arguto em anotar tudo com precisão, exatamente como o diretor da revista esperava. 
Conflitos para alimentar o roteiro em termos de desencontros românticos são acrescidos, o que foi compreensível, pois o cinema comercial não consegue funcionar sem usar tais recursos, de uma forma obrigatória, pode-se afirmar. Nessas condições, o filme chega à sua resolução com um quase final feliz, pois Russell volta atrás em sua confirmação de fonte, e assim, a matéria é aprovada. Por conta da retratação da parte de Russell, a banda tem a sua foto publicada a anunciar a matéria principal de uma edição da revista Rolling Stone, para atingir um outro patamar em sua carreira e William é alçado a uma condição respeitável dentro do jornalismo profissional (o que foi verdade, diga-se de passagem, na vida real de Cameron Crowe), E a groupie, "Penny Lane", vai para o Marrocos em meio a uma viagem Hippie, bem típica do ideário de muitos jovens que aderiram ao movimento naqueles anos, entre as décadas de sessenta e setenta.  

Digo também o filme teve uma direção de arte brilhante. Quem viveu o Rock dos anos setenta, vai assistir o filme com lágrimas nos olhos, e quem nasceu depois, vai sonhar. A reconstituição de época, é incrível. A base dos diálogos e pesquisa, foi perfeita, pois tratou-se do métier real vivido pelo jovem, Cameron Crowe, portanto, trata-se de suas memórias pessoais e pelas quais ele tratou com muito realismo.
Na trilha sonora, vários clássicos do Rock fazem-se presentes, além da música especialmente composta pela então esposa de Cameron, Nancy Wilson, e Peter Frampton, um dos melhores amigos pessoais de Cameron e que foi assessor dos atores que representaram os músicos da banda fictícia, Stillwater, nas partes musicais e nas questões comportamentais. Ele, Peter, pessoalmente ministrou aulas de guitarra para o ator, Billy Crudup, para que este ao menos soubesse empunhá-la com fidedignidade nas cenas sobre Concertos de Rock, ao vivo. As cenas sobre os shows do Stillwater são curtas, mas muito emocionantes. Cameron quis centrar o filme nos bastidores e não exatamente nas performances musicais em si. Um filme brilhante, a retratar a magia do Rock setentista, e que eu recomendo ver, e rever. Leia a parte 2, desta resenha, devidamente armazenada no arquivo deste Blog.
Resenha publicada inicialmente no Blog do Juma, em 2011.
Posteriormente, esta resenha foi revista e aumentada, para ser publicada no livro: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll" em seu volume I, a partir da página 105.

4 comentários:

  1. Meu grande brother Luiz, mais uma vez você escreveu com propriedade naquilo que fala.Já assisti a esse filme.Também recomendo.

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  2. Muito legal, Valdi ! Esse é um filme que não só recomendo como acho importante assistir pelo menos duas vezes, tamanha a quantidade de detalhes importantes a serem observados.

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  3. Incrível filme e trilha sonora,excelente texto amigo! :)

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    1. Sem dúvida, Kim. O filme é muito emocionante, justamente por ser autobiográfico do próprio diretor, que foi um gênio adolescente como crítico de Rock de uma importante revista, como a Rolling Stone. E suas lembranças Rockers são as mais bonitas , da Era de Ouro do Rock !

      Obrigado pela atenção, amigo !

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