quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A Farra da Copa - Por Luiz Domingues

Exatamente o que esperávamos está a acontecer, ou seja, o Brasil assiste atônito a bagunça generalizada jogada ao léu, permeada pelas suspeitas em torno da organização da próxima Copa do Mundo de futebol. Primeiro aspecto: a quem interessa levantar tantas suspeitas?
 










 
Por outro lado, independente do governo que estiver no comando da administração, alguém ainda em sã consciência surpreende-se com o atraso das obras públicas, e as sabotagens inerentes que surgem sorrateiramente?
Sob o ponto de vista racional da praticidade, qual o sentido de se construir estádios faraônicos, aonde serão disputadas duas ou três partidas e que depois serão alçados à condição de verdadeiros elefantes brancos? Sim, nesse aspecto as reclamações procedem, pois, há casos de praças que terão esses estádios e sequer possuem equipes na segunda divisão do campeonato brasileiro.  
 
Diante de tal realidade, eles sustentar-se-ão posteriormente com shows musicais apenas em suas dependências? Concentrações religiosas? Festas sazonais como a chegada do Papai Noel mediante helicóptero na véspera do Natal? Jogos "caça-níqueis" da seleção brasileira (aliás, esta a cada dia com menor prestígio entre os torcedores). É isso o que os defensores da construção dessas arenas usam como desculpa para justificar tais gastos? 
 
Esse é um ponto de vista a ser escutado, mas na contrapartida, se pensarmos que a construção civil gera milhares de empregos diretos e indiretos, não é uma mera movimentação da roda da economia a gerar divisas e não gastos "inúteis" como vociferam os detratores?  É bom lembrar que nos anos trinta do século vinte, o presidente norte-americano, Franklin Delano Roosevelt, entre outras medidas, criou empregos para a construção civil e ao ser indagado sobre a suposta falta de serviço a ser executado para justificar a contratação de trabalhadores naquele instante por conta da união, foi enfático ao dizer: "se não houver nada a fazer, que escavem buracos e os tampem depois". 
 
Ora, a roda da economia sobrevive quando efetivamente gira e para tal, as pessoas precisam de emprego e salário para que, consequentemente, possam gastar os seus rendimentos e movimentar por conseguinte a indústria, comércio e agricultura. É o óbvio ululante, mas tal conceito certamente não atende as expectativas de quem só enxerga a possibilidade do acúmulo, a alimentar o mercado financeiro em torno do conceito egoísta em torno do ideário perverso de que "dinheiro faz dinheiro", por si só.
 
É bem verdade, em contrapartida, a pensar nos aspectos negativos sobre a Copa,  que as obras estruturais suscitem dúvidas. Apenas em Belo Horizonte há indícios de que algo está em curso para melhorar o transporte público.  Prefiro não mencionar a situação dos nossos ridículos aeroportos, pois o desconforto é objeto diário das reportagens da mídia, com filas imensas, cancelamentos de voos, atrasos, o vergonhoso uso do "overbooking" com usuários a perderem a cabeça e com isso, ao desejarem irem às vias de fato, contra os pobres funcionários das horríveis companhias aéreas nacionais.
Nesse aspecto do atraso da infraestrutura, o caso mais emblemático parece ser mesmo o da cidade de São Paulo. Com um estádio como o Morumbi mesmo a carecer apenas de algumas reformas estruturais, qual o sentido de se construir um novo estádio da estaca zero? Todo o processo de boicote acintoso perpetrado pela Fifa, com exigências descabidas, foi uma vergonhosa campanha velada para descartar o estádio do São Paulo Futebol Clube, mediante óbvios interesses de terceiros. Como agravante, o governo estadual está a anunciar a chegada de uma nova estação de Metrô, próxima ao estádio e para breve, o que facilitaria ainda mais a sua viabilidade.  
 
Trata-se da linha n° 4, na qual algumas estações já estão em funcionamento. É a linha mais moderna do Metrô, com tecnologia de primeiríssimo mundo. Portanto, o que justifica essa sabotagem ao Morumbi, por parte da Fifa e com as bênçãos da CBF? A última bomba em relação ao estádio do Corinthians foi deflagrada pelo prefeito, Gilberto Kassab na semana passada (escrito em 2011). 
De uma forma vergonhosa para a municipalidade, anunciou-se um pacote milionário com isenção fiscal para facilitar a vida de um clube privado e por conseguinte, da comissão organizadora da Copa.
Dessa forma, os cofres da prefeitura deixarão de arrecadar cerca de 420 milhões de reais em impostos, como IPTU e ISS. Naturalmente, os cidadãos paulistanos estão muito "contentes" por saber dessa atitude e assim, empreendimentos "fúteis" como escolas, hospitais, iluminação pública, conservação de ruas, avenidas e coleta de lixo, podem ficar em segundo plano para que um clube privado tenha o seu estádio particular com isenções fiscais e a Copa, tenha o seu palco adequado, segundo os rigores técnicos da Fifa em sua famosa carta de encargos aos organizadores locais.

Em tempo, o São Paulo FC anunciou que irá reformar o seu estádio com financiamento privado e a Sociedade Esportiva Palmeiras, que também está a reformar o seu estádio e cuja localização fica entre bairros nobres e servidos por estações de Metrô, conta igualmente com recursos privados. Portanto, esse filme já vimos no Rio de Janeiro por ocasião dos Jogos Panamericanos, e agora... não há nenhuma surpresa, não é mesmo?
 
Essa é a argumentação maior dos opositores e tirante alguns pontos nos quais eu reconheço que haja uma certa razão pontual, o fato é que gostem ou não, o evento provoca gastos para a sua realização, é evidente, no entanto, traz divisas ao país e na hora de se lidar com dinheiro, quem, em sã consciência, gasta uma fortuna sem ter a garantia que no mínimo vai recuperar o que investiu? Pois muito além disso, nesse cálculo há a garantia, sim, de que o lucro colossal é certo.   

Matéria publicada inicialmente no Blog Pedro da Veiga, em 2011.

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