segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Filme : Head, a Lisergia dos Monkees - Por Luiz Domingues


Em 1968, a sitcom que era exibida com grande sucesso na TV norteamericana (e ao longo do planeta, vide o sucesso que fazia no Brasil), "The Monkees", foi cancelada, e isso ocorreu apesar dessa enorme popularidade, pois os produtores dessa atração televisiva, haviam cansado-se das constantes reivindicações feitas pelos  quatro atores protagonistas do seriado. E o que desejavam esses quatro artistas ? Pois se a série fora criada para retratar uma banda fictícia de Rock e para tanto contrataram quatro atores com alguma musicalidade nata, claro que a ideia seria usar as canções criadas por compositores de aluguel e músicos de estúdio para gravá-las.

No entanto, o sucesso fugiu ao controle de todos e criou-se entre os quatro atores, o sentimento de que poderiam mesmo formar uma banda a pleitear uma carreira na música, a compor e realizar shows, por seus próprios méritos. E de fato, eles tocavam & cantavam, e reforçado pelo fato de que mantinham muita amizade pessoal com inúmeros músicos de alto calibre do mundo do Rock; Blues e do Folk, portanto, isso só alimentou tal desejo entre os rapazes. Dessa forma, o clima ficou insustentável, nos bastidores, ao ponto em motivar o cancelamento da série (infelizmente, pois ela era absolutamente hilária). Posso afirmar, até a exagerar, que a série, "The Monkees", foi uma espécie de The Marx Brothers, ambientado em meio à loucura do Rock sessentista. Portanto, quando os quatro atores tomaram a rédea da sua situação, como banda, de fato, a compor e cuidar de seus próprios discos, eles ficaram no entanto sem o veículo da TV, que os popularizara e então, surgiu a ideia de produzir-se um longa-metragem.

Nessa altura, como já estavam muito enturmados com a fina flor do Rock e do cinema alternativo, e amparados pela fama incontestável alcançada através da TV, rapidamente captaram recursos e atraíram dois sujeitos ligados ao cinema, e reconhecidamente simpáticos ao ambiente alternativo que mostrava-se atrelado aos ideais contraculturais, e que ao estabelecer uma associação para o projeto, muito contribuíram para fazer o filme avançar : Jack Nicholson e Bob Rafelson. Após reuniões realizadas a seis "heads", literalmente, estabeleceu-se um "brainstorm", e dessa forma saiu o argumento e posterior, roteiro. Muito mais anárquicas do que foram utilizadas para compor os episódio da série da TV, as referências apresentadas foram múltiplas : surrealismo; dadaísmo; lisergia; non-sense; teatro do absurdo e psicodelia total.

Um fato curioso aconteceu no primeiro dia de filmagens : os quatro membros do The Monkees, iniciaram uma greve em pleno set de trabalho, ao saber que não poderiam obter o seu crédito no roteiro, por normas sindicais, uma praxe tradicional dentro da indústria cinematográfica norteamericana, mas por tal motivo, mas Jack Nicholson os convenceu a não tumultuar a filmagem, no dia seguinte, com os ânimos apaziguados eles colocaram-se prontos para atuar no set.
Então, para driblar tal burocracia, ficou definida a autoria do roteiro para Bob Rafelson e Jack Nicholson, com Rafelson a dirigir, igualmente. Além das composições da banda, Carole King e Harry Nilsson compareceram como compositores convidados e com Ken Thorne a compor e reger a música orquestral e incidental (esse maestro fez o mesmo no filme, "Help", dos Beatles), a trilha sonora do filme é sensacional.

Atores especialmente convidados apareceram em cenas louquíssimas, tais como Victor Mature (o veterano ator, famoso nas décadas de 1940 e 1950 e acusado de ser o maior canastrão de Hollywood, e aliás, eu nunca concordei com essa pecha que imputaram-lhe); Anette Funicello (atriz muito famosa por ser protagonista de uma longa série de filmes ambientados nas praias da Califórnia, no início dos anos sessenta, comédias musicais leves, sobretudo); Abraham Sofaer (veterano ator, muito famoso por atuar em filmes de aventuras infantojuvenis e com muitas atuações em séries de TV, sobretudo as produzidas por Irwin Allen, tais como "Lost in Space" e "The Time Tunnel", por exemplo ); Timothy Carey, ator visceral com bons trabalhos realizados com o diretor britânico, Stanley Kubrick (The Killing, Path of Glory), e outros. Além de uma aparição louquíssima de Frank Zappa, trajado com terno e gravata, a puxar uma vaca por uma coleira... e também em outra, onde um diálogo nonsense que foi travado com o guitarrista dos Monkees, Michael Nesmith (e ambos caracterizados, um como se fosse o outro, aliás, um recurso parecido com o qual o próprio Zappa repetiria no filme de 1970, "200 Motels", quando ele e Ringo Starr caracterizavam-se ambos, iguais)  como pode ser visto no "still" da foto abaixo. 
Musicalmente os Monkees haviam evoluído muito. Essa loucura psicodélica lhes fez muito bem, mas lamentavelmente, por outro lado, eles estavam nessa época, ante um grande dilema em relação ao seu espaço no mercado.
Isso por que o seu público que era infantojuvenil e predominantemente feminino, não gostou desse trabalho mais elaborado e pleno de uma loucura implícita. Por outro lado, o público Rocker, também, não, pelo preconceito em torno da banda não ser respeitada com seriedade, por ter sido criada com atores a interpretar ser membros de uma banda fictícia, criada para alimentar um seriado de TV.  Eu, particularmente, acho "Head", um bom trabalho, e certamente a apresentar um amadurecimento da banda, pelo ponto-de-vista estritamente musical.

Sobre o roteiro,  quase não há um alinhamento mínimo, pode-se afirmar, pois praticamente não existe uma história tradicional a conter começo; meio e fim. O filme começa com uma cena de fuga, bem ao estilo do cinema norteamericano, que tanto aprecia a abordagem desse tipo de ocorrência. Os quatro componentes dos Monkees estão a fugir de uma perseguição desenfreada, quando culminam em aproximar-se de uma ponte que está a ser inaugurada (Gerald Desmond Bridge). No momento crucial, os Monkees atrapalham a cerimônia de inauguração de tal obra, inclusive a roubar o microfone de um político que discursava naquele instante.  Acuados, os quatro não tem outra alternativa a não ser pular da ponte em direção à água. Nesse instante, sob a ação da câmera lenta, é muito bonita a cena, pois a canção : "Porpoise Song" é épica. Além disso, a proposta visual da cena é totalmente lisérgica, mediante o uso de cores fortes a caracterizar a psicodelia total. 

Sereias resgatam o baterista, Micky Dolenz e a seguir, a exibir uma cena longa e silenciosa, mostra uma bela garota a beijar cada componente, lentamente (personagem creditada como "Lady Pleasure", interpretada pela atriz, Mireille "Mimi Machu" Jefferson). A seguir, a tela é dividida em muitas pequenas telas a lembrar monitores de TV a mostrar cenas dos componentes em situações dispares entre si, inclusive a conter uma cena proveniente de imagens do telejornalismo que apresenta uma cena chocante de execução de um civil durante a Guerra do Vietnã. Daí em diante, inicia-se uma colagem de cenas a conter os quatro membros a intercalar-se com cenas individuais, e nesse sentido, o nonsense predomina. Uma cena aparentemente a evocar um filme de terror culmina em uma mulher a gritar, mas o seu grito não é de pavor, pois logo a seguir, sugere-se que seja a histeria por conta da banda estar em meio a um show ao vivo. Não sem antes, cenas com os membros da banda vestidos como jogadores de futebol norteamericano, mostram um painel humano composto em estádio por torcedores, a exibir a palavra : "War", e intercala-se com imagens de canhões a atirar e afins. Isso reforça-se com os quatro componentes a encenar uma sketch a sugerir uma ação de guerra, em meio a uma trincheira de front. O jogador de futebol norteamericano, Ray Nitschk, surge devidamente uniformizado como jogador e derruba Peter Tork, como se fosse o jogo em si. Bem, as metáforas pacifistas a protestar contra o conflito e o belicismo em geral, outro ponto importante em meio à ambientação contracultural sessentista, ficou óbvio.
A mudar de emissora, via controle remoto, são mostradas cenas de velhos filmes de horror  trintistas, a exibir as sensacionais atuações de atores como Boris Karloff e Bela Lugosi e a intercalar-se com comerciais de TV da época, até culminar na imagem do baterista, Micky Dolenz a caminhar sedento pelo deserto do Saara. Ele avista uma máquina de Coca-Cola, ou seja, a confirmar uma das piadas universais mais usadas como alegoria para realçar a conquista de algo impossível. No entanto, a máquina não funciona e na impossibilidade em beber uma Coca-Cola gelada no deserto, Micky revolta-se. Um tanque italiano da segunda guerra mundial aparece e o soldado em questão a pilotá-lo, resolve ajudar Micky (trata-se de Vitteloni, interpretado por Vito Scotti). Mediante o tanque, a solução absurda foi atirar contra a máquina para conseguir obter uma garrafa do referido refrigerante. Mas além da explosão, o que ocorre é mais um delírio onírico da parte de Micky Dolenz, que é visto como uma espécie de Sheik, em uma tenda árabe em meio à belas dançarinas do ventre, sob o áudio de uma canção arábica, porém absolutamente arranjada com motivações psicodélicas, observada através da música : "Can You Dig It". Os demais componentes da banda também estão presentes a usufruir desse harém. Toda a ambientação da cena tem o sentido onírico, mas totalmente tratada sob o sentido lisérgico, a insinuar a alucinação. E claro que a alucinação dá margem para uma guinada total, a justificar que uma sketch não tenha necessariamente uma ligação com a anterior ou posterior.
Dessa forma, eis que os Monkees estão agora uma cena ambientada no velho Oeste norteamericano, em meio a um ataque de índios. Tudo é absurdo nessa cena, a revelar-se uma grande farsa, supostamente amparada pelo conceito do realismo fantástico, no entanto, na prática, é apenas uma "gag" humorística com sentido televisivo. A atriz, Teri Garr, a interpretar, "Testy True", faz o papel da mocinha improvável. A graça maior dessa sketch é que Micky Dolenz, vestido como um soldado da sétima cavalaria e o guitarrista, Michael Nesmith, trajado como um "pioneiro" a la Daniel Boone, matam índios de uma forma displicente enquanto conversam sobre amenidades e ignoram os pedidos de ajuda da mulher. Entediados, eles simplesmente rasgam o cenário a caminhar por um outro quadrante do estúdio de filmagem, onde sugere-se que um outro filme está a ser filmado. David Jones aparece a tocar violino na porta de uma escola de música, quando Dolenz e Nesmith entram em cena indevidamente e Jones junta-se aos dois para também abandonar a sua filmagem. Nesse momento, a ideia da metalinguagem estabelece-se, pois e mostrada uma segunda equipe de filmagem que supostamente filmava o filme. secundário em que Jones atuava.
Surge em cena a presença de Lord "High Low" (interpretado por Timothy Carey), que faz um discurso inflamado e é retumbantemente ignorado por Dolenz; Nesmith e Jones, que evadem-se do ambiente (um pátio de manobras ferroviárias). As personagens chegam em outro quadrante do estúdio e aí a mixórdia é total, com várias pessoas caracterizadas como personagens completamente desconectadas entre si, de freiras a operários, a passar por Hippies e árabes, que saem em disparada de um bar. A confusão gerada entre essa saída em massa e a entrada dos três componentes dos Monkees, mostra-se como uma "gag" ao estilo "pastelão", a lembrar o trabalho de artistas tais como : "Laurel & Hardy"; "The Three Stooges"; "The Marx Brothers" e similares. Ali dentro, enquanto pedem sugestões para a garçonete sobre lanches e bebidas, está presente, Peter Tork, que está vestido como um típico hippie sessentista, a ostentar um sorvete em mãos, que derrete enquanto ele catatonicamente, observa tal ação incomum.
David Jones diz um gracejo à garçonete, e leva um tapa no rosto como reação da mulher e imediatamente a cena muda de uma forma radical, a mostrá-lo a apanhar em um ringue de pugilismo. Irônico, pois David era um homem franzino e com baixa estatura a apanhar em um ringue de pugilismo, portanto, nem um pouco qualificado para ser um boxeador. E ainda mais para enfrentart "Sonny" Liston, que foi um pugilista na vida real, além de ator, e que como boxeador, este atleta enfrentou entre outros, Cassius Clay (Muhammad Ali). Enquanto isso, Dolenz e Nesmith estão na plateia da luta, a agir como apostadores mafiosos. David, mesmo todo arrebentado, vê os dois a incentivar que ele fique na lona e perca a luta de vez, mas então ele avista, Tereza "Minnie" (interpretada por Annette Funicello), e lembra-se que eles foram felizes no passado, quando namoravam e ele fora um violinista (a tal cena do meta-filme, anteriormente citada). Uma encenação ridícula a mostrar David e Tereza a conversar sobre ele largar a música para lutar e pior ainda, a mostrar os bastidores da luta, segue-se. Ao final, Dolenz e Nesmith invadem o ringue, agridem e nocauteiam os dois pugilistas. Dolenz também nocauteia Nesmith e sai abraçado por uma mulher voluptuosa, Sally Silicone (interpretada por Carl Doda), e quando tudo parece encerrado para essa cena em específico, Dolenz surpreende ao também esmurrar a mulher. Contido pelos policiais, ele ajoelha-se para pedir perdão e tem a visão de Peter Tork a proferir um discurso profético e a cena volta para a lanchonete com o próprio, Peter Tork a segurar o sorvete inteiramente derretido a escorrer por sua mão. A veterana garçonete o aconselha, mas ele lavanta-se e a esmurra. É quando a garçonete retira a sua peruca e revela ser na verdade, um travesti (senhora Ace, interpretada por T.C. Jones). Bob Rafelson, o diretor do filme, aparece a interromper a filmagem e assim estabelecer ser tudo, uma loucura só. Jack Nicholson também aparece, em meio a outras pessoas da produção, enquanto o ato T.C. Jones ainda resmunga a reclamar que o soco fora verdadeiro, o que deixa dúbio se tal fala fez parte da encenação ou se foi algo espontâneo, que foi deixado na edição final para ficar ainda mais engraçado. Peter ainda argumenta com Bob Rafelson que a violência não seria aceitável no filme, em clara predisposição pacifista sob cunho hippie. Peter sai do cenário e percebe que todos o evitam, inclusive os figurantes. Ele senta-se em um canto e uma porção de neve cenográfica cai sob a sua cabeça. Em seguida, como se fosse um "promo" destacado do filme, Peter sai a caminhar sob a neve e intercala-se com David a fazer o mesmo, no entanto em meio a uma floresta, ao som de "As We Come Along", que por sinal é uma boa balada. Ao final, a quantidade de outdoors exibidos em "frames" rápidos, revela-se como uma crítica velada à sociedade de consumo.
Agora, os quatro membros dos Monkees estão em um galpão industrial, a usar macacão branco, como operários, e fatos estranhos ocorrem, com pessoas a passar penduradas por máquinas como se fossem peças. Em uma visita a um outro setor, funcionárias idosas e uniformizadas tem postura robótica e enormes maquinários a simular computadores gigantescos e bem naquela concepção antiga sobre como seria a computação do "futuro", são mostrados como um trunfo moderno. Eles estão a ser ciceroneados pelo inspetor, "Shrink" (interpretado por Charles Macauley). Pessoas morrem a esmo nesse ambiente de trabalho e somente David demonstra perceber o descalabro. Então, o cicerone conduz os rapazes a uma sala escura. Atônitos, eles não sabem onde estão, quando surge uma luz e uma voz dá o comando para que subam em uma espécie de peruca gigante. No entanto, logo o espectador é levado a perceber tratar-se da cabeleira do ator, Victor Mature (creditado no filme como : "Big Victor", pois está retratado como um gigante), que está a ser penteado por uma cabeleira. Mediante o uso de aspirador de pó, os quatro minúsculos componentes dos Monkees, são sugados  como se fossem piolhos. A viagem deles até chegar ao saco de coleta do aparelho, é marcada por um certo frisson Sci-Fi, a conter trilha incidental plena de ruídos típicos de filmes ambientados no espaço sideral e quando eles chegam enfim ao seu destino final, estão em meio a estranhos objetos e muito pós acumulado. Os três notam rapidamente que David não está entre eles e o procuram, mas este caíra fora do aparelho ao ser expelido para o lado externo. David entra em um estranho salão escuro e inteiramente vestido como um cantor vaudeville, interpreta o tema : "Daddy's Song", que é uma deliciosa canção dotada desse sabor vinte / trintista. Perfeito para o tema, com aquele sotaque britânico que ele tinha, de fato, antes de ser componente dos Monkees, David tinha acumulado em sua bagagem pessoal, essa experiência com musicais antigos e isso fora um trunfo seu, quando foi aprovado para fazer parte da banda, na ocasião de sua formação para estrelar o seriado de TV que originou-a. A bela coreógrafa, Toni Basil (e que assinou a coreografia toda do filme), aparece e interage a dançar com ele em tal número. David encerra a sua performance em grande estilo, e quando sai do salão, tudo muda. Um grupo de jovens o aplaude, mas ouve-se o mugido de uma vaca. Ao sair do galpão, ele percebe que um rapaz cabeludo conduz a vaca em questão. É Frank Zappa em pessoa que é creditado no filme como : "crítico". O diálogo que Frank Zappa e David Jones travam, é bastante nonsense. Deixo abaixo, exatamente as falas (inclusive da vaca, que faz uma intervenção ao final), com a devida tradução em português, a seguir. E que o leitor tire as suas conclusões :

Frank Zappa : That song was pretty white.
David Jones :Well, so am I. What can I tell ya ?
Frank Zappa : You've Been working on your dancing though.
David Jones : Oh, yeah, yeah. Well, I've been rehearsing it. Glad you noticed that.
Frank Zappa : Yeah, it doesn't leave much time for your music. You should spend more time on it because the youth of America depends on you to show the way.
David Jones : Yeah ?
Frank Zappa : yeah.
Cow : Monkees is the craziest people...

E a tradução em português :

Frank Zappa : Essa música era bem branca.
David Jones : Bem, eu também. O que posso dizer-lhe ?
Frank Zappa : você tem trabalhado na sua dança.
David Jones : Ah, sim, sim. Bem, eu tenho ensaiado. Que bom que você percebeu isso.
Frank Zappa : Sim, não deixa muito tempo para a sua música. Você deveria dedicar mais tempo a isso, por que a juventude da América depende de você para mostrar o caminho.
David Jones : Sim ?
Frank Zappa : Sim.
Vaca : Monkees é a pessoa mais louca...
Eis que os outros três componentes saem enfim do confinamento em que encontravam-se, dentro de um aparelho de aspirador de pó, mas com o seu tamanho normal, a deixar na verdade, uma caçamba de lixo. Eles são flagrados por um policial que aborda-os (oficial Faye Lapid, interpretado por Logan Ramsey). Perguntados sobre o que faziam ali, eles são sinceros ao dizer que estavam em meio a uma propaganda de aspirador de pó, e que haviam sido sugados da cabeleira de uma pessoa e claro que o policial fica nervoso por considerar essa resposta como um deboche da parte dos rapazes. Mas eis que um destacamento militar aparece e em meio a uma manobra com armas, o policial é distraído e todos safam-se, incluso David, que aparece ali, também. David resolve ir ao toilette para recompor-se e quando abre o armário atrás de um espelho, depara-se com um olho gigante e daí fica apavorado com tal visão. Peter Tork entra em seguida e ao assoviar a canção dos Beatles, "Strawberry Fields Forever", também abre a porta do armário, mas nada acontece. Bem, um tipo de piada bem clichê, infantil, eu sei, mas a questão do enorme olho certamente tem outra conotação neste filme, dada a questão lisérgica insinuada e além do mais, uma mensagem subliminar escrita por extenso e que passa em "frames", quase imperceptíveis, também tem a ver com o sentido da piada. Bem, a piada segue, pois David vai verificar de novo o tal armário e através dele, entra em uma outra dimensão, digamos, ao ver-se dentro de um castelo medieval abandonado. Em meio a armaduras e esqueletos humanos, risadas macabras são ouvidas. Então, eis que ao abrir uma porta, David assusta-se com a presença de uma formiga gigante.
A próxima cena é a continuação desse delírio, visto que a tal formiga na verdade estava ampliada pela ação de uma lente, usada por Dolenz, que está em meio a uma espécie de expedição arqueológica. Ele, Dolenz, assusta-se e cai da ribanceira ao som da valsa, "Danúbio Azul", e quando chega ao solo, é capturado por uma tribo de índios africanos. Aprisionado em um calabouço, ele logo percebe que ao seu lado estão presos também, Peter Tork e Michael Nesmith. Então, a parede de pedra vira-se e torna-se uma parede de azulejos e à sua frente, o oficial, Faye Lapid, surge novamente novamente o que provou ao espectador, que o pesadelo ou a "bad Trip", como queira o leitor, não acabava nunca. O local é na verdade, o banheiro onde David sumira através do espelho / armário. Os rapazes são dispensados, pois o policial na verdade, procurava por David. Sozinho no ambiente, o policial revela-se, digamos assim, pois ele dança como se fosse uma dançarina burlesca, com o devido apoio da trilha sonora, é claro. Ele prossegue em seu delírio, quando resolve abrir o armário, mas quando um caçador de savana africana e desmaia (talvez o efeito da emoção de um fã ?). 
Em seguida, um caleidoscópio psicodélico surge com os dizeres : "The Cop's Dream" (o sonho do policial). Michael Nesmith acorda desse sonho, na verdade e não o policial, e atordoado, pede que osb eus amigos abram a porta, visto que a campainha da residência está a tocar. Um mensageiro (interpretado por Percy Heldon), entrega a encomenda, que é um telegrama. Peter lê a mensagem e sai às pressas, ao aparecer a seguir, no mesmo castelo recorrente na história. Nesmith entra em um estado de suspensão em câmera lenta. Ele então sai  do transe e vê a imagem de estranhos monges a entoar uma espécie de cântico macabro. Bem, a ideia não foi tão boa assim, pois é claro que tratava-se de seus três companheiros de banda, que levantam o capuz e entoam : "Happy Birthday", para Nesmith. As luzes acendem-se e um grupo formado por vários "freaks", entram em cena para configurar uma festa surpresa. Bem, a festa psicodélica´é uma maravilha com aquela gente doida a dançar e a contar com música de primeira  ("Do I Have to Do This All Over Again"), e mediante muitas cores espalhadas pela iluminação, a atmosfera é ultra anos sessenta. Há um abuso na distorção das cores para enfatizar o caráter psicodélico da cena, o que é bastante bonito e emblemático como um documento de época. Mesmo assim, Nesmith reage mal ao final da festa, ao declarar que não gostava em ser surpreendido.
Lord "High'n' Low" (interpretado por Timothy Carey), entra emm cena novamente, desta feita, a praticar uma imitação patética do "Corcunda de Notre Dame". Os quatro Monkess caem na risada e um tiro é disparado para acabar com a euforia. Agora, Lord High'n' Low está com a arma em mãos e o ambiente é do velho oeste norteamericano. Pessoas comuns falam em depoimentos para um repórter televisivo e ao final dessa intervenção, os Monkees estão a dormir, enquanto ouve-se alguém a sussurrar : "guilty" (culpado). Trata-se de uma cela de penitenciária. Jones esforça-se para alcançar a janela e vê a presença de um swami indiano (interpretado por Abraham Sofaer), que discursa mediante o seu forte sotaque. Tudo está enfumaçado e logo descobre-se tratar-se de uma sauna e que Peter Tork está ali presente a ouvir o sábio, com atenção. A fumaça intensifica-se e Tork deixa o ambiente. Ao sair, está no lado externo dos estúdios de cinema e uma mulher grita por socorro, com muita gente a olhar para cima e ninguém dá atenção para ele, Tork. Então é revelado que uma garota belíssima a usar um minúsculo bikini, está no topo do telhado a ameaçar suicidar-se (interpretada por June Fairchild). Tork encontra Jones no banheiro, que ainda estava hipnotizado pela ação do espelho. Quando saem do toilette, a bela garota está no colo de Nesmith e Dolenz paga-lhe uma quantia, visto que apostavam anteriormente se ela pularia do telhado, ou não. Nesmith coloca a garota no colo de Tork, e quando ambos passam por uma máquina empilhadeira, eis que voltam à cena do galpão industrial, com o cicerone a conduzi-los novamente para a câmara escura. Eis que Tork afirma que a caixa em que estão alojados, não significa nada e Jones revolta-se. Então, ele insufla os demais, eles arrebentam a caixa mediante socos & pontapés e ao sair, deparam-se com o cicerone da indústria e asseclas, e são agredidos por eles, ao estilo de um filme de James Bond.
Daí em diante, os quatro Monkees passam a rasgar cenários e a eliminar os inimigos que aparecem de uma forma contínua, inclusive a utilizar tiro de canhão, para matar Lord High'n' Low e os seus asseclas. No entanto, ainda na cidade do velho oeste norteamaericano cenográfico, surge novamente o ator, Victor Mature, como um gigante a ameaçá-los. Eles entram em uma porta e novamente são aprisionados em uma câmara escura, mas desta feita trata-se de um enorme container, que é içado por um helicóptero. O container é atirado ao solo e quando o toca, espatifa-se para libertar os quatro músicos. Entretanto, mais perigo avista-se para eles, pois no deserto, todos os inimigos que enfrentaram ao longo da história, estão ali para persegui-los. então, o clima de comédia ao estilo do cinema mudo instaura-se de vez, com a devida aceleração de imagens e loucuras múltiplas a mostrar diversas cenas onde eles são atacados e inclusive pela ação de um taco de golfe gigante, que é manipulado por Victor Mature, para arremessá-los; tanques de guerra italianos que atiram; flechas lançadas por índios etc. Até a vaca de Frank Zappa reaparece para servir como montaria em algum momento da fuga. Cenas reais do telejornalismo a dar notícias sobre a guerra do Vietnã, intercalam-se com a fuga e também cenas de filmes antigos e clássicos.
Os Monkees são presos a uma máquina que irá matá-los e com a cena a exibir-se em preto & branco; acelerada e a conter o som de um piano, parece mesmo com velhos filmes vintistas. Eis que eles conseguem um "buggy" para a evasão do local, mas ao rasgar mais um cenário, voltam ao deserto, para ser ameaçados de esmagamento sumário pelo gigante, Victor Mature, que curiosamente também é mostrado em tamanho normal a assistir e bocejar ante um aparelho de TV, o próprio filme em questão, em mais uma ação de metalinguagem. Entediado, Mature chuta o aparelho de TV e simultaneamente o gigante, Mature, sente dor em seu pé e os Monkees conseguem escapar do seu ataque. Eles perdem o carro e com todos os inimigos a persegui-los, fogem a pé. Eis que a correr desenfreadamente, voltam à cena do início do filme, quando aparecem a fugir em meio à inauguração da ponte, para estabelecer a fusão circular da história, a unir o passado e o presente da ação.
Repete-se a cena inicial do filme, mas com diferenças significativas em termos de tomadas. Ao som de "Porpoise Song", novamente, ocorre que ao final, o mar revela-se na verdade, um aquário pequeno em que estão inseridos. Esse aquário está sobre a caçamba de um caminhão que parte então, e na sua parte traseira, observa-se a presença de Victor Mature, para fechar o filme. 
Em suma, mesmo que não haja uma história formal para alinhavar o filme, o grau de loucura cometido em esta obra é enorme, a demonstrar que os quatro membros da banda, aliados à Bob Rafelson e Jack Nicholson cometeram uma grande insanidade cinematográfica, contudo, com alguns méritos aleatórios como um resultado final.
Ainda a participar do filme, os atores : William Bagdad (como "Black Sheik") e Charles Irving (como o prefeito "Feedback", que atuou na cena da inauguração da ponte. Sobre as músicas dos Monkees exibidas neste filme, os seus fãs habituais não gostaram, como eu já havia observado no início da resenha. Eles eram bem jovens, e fanáticos pela produção mais Pop da banda, apresentada em seus discos iniciais e que compunham a trilha sonora do seriado de TV, que os lançou no mercado e não exatamente Rockers, como os Monkees queriam atingir e angariar o respeito e admiração. Ainda houve no bojo das canções, muitas compostas por terceiros, mas observou-se a presença de algumas compostas por eles mesmos a reforçar a ideia de que buscavam essa identidade como uma banda verdadeira e assim demarcar o rompimento com a ficção da TV que os lançara. São boas músicas, com forte incidência psicodélica, mas a trazer outros elementos igualmente, vide o som vaudeville que foi comentado e também com a presença de baladas com influência Country.
Escrito então pelos quatro componentes da banda, mais Bob Rafelson e JJack Nicholson, entretanto, como já mencionado, os Monkees não receberam créditos na autoria do roteiro. Produção a cargo de Bert Schneider: Bob Rafelson e Jack Nicholson. Direção de Bob Rafelson. O filme foi lançado em 6 de novembro de 1968, nos Esatdos Unidos e foi mal na avaliação inicial da crítica, vide as resenhas obtidas entre a maioria dos críticos, na ocasião. Poe exemplo, o jornalista, Leonard Maltin, em sua fina ironia, cometeu um certo enaltecimento ao escrever ;"deliciosamente sem enredo, mas vale a pena ver". Acho que "Head" é um momento de autoafirmação dos Monkees, como uma banda real e não fictícia, e o filme, apesar de não conter uma história e dessa forma a mostrar-se como uma peça aparentemente sem roteiro, como sugeriu o crítico, Leonard Maltin, trata-se na verdade de um grande momento da psicodelia norteamericana sessentista, com a sua colagem plena de loucuras lisérgicas a esparramar-se pelo celulóide.

"Head" teve um desempenho razoável no cinema e certamente contou com muitas exibições na TV, veículo pelo qual eu pude assisti-lo pela primeira vez, ainda na metade da década de setenta. Teve o seu lançamento em fita VHS, nos anos oitenta, seguido de lançamento em DVD e Blu-Ray, além de caixas a conter o filme em vários formatos e a trilha sonora do mesmo, também sob formatos diferentes e uma infinidade de produtos comemorativos  disponibilizados, visto que o fã clube dos Monkees sempre foi muito forte e participativo. Encontra-se disponível para assistir-se na íntegra e gratuitamente via You Tube, com tranquilidade. Eu recomendo muito o filme, mesmo que muitas pessoas não o aprovem, pois neste caso, creio que "loucura pouca é bobagem", como o leitor já deve ter ouvido alguma vez na vida.


Assista acima, "Head". Trata-se de uma cópia com padrão de fita VHS, pois é difícil achar cópias com nível superior e livremente, no You Tube ou portais de vídeos semelhantes.


Matéria publicada inicialmente no Blog do Juma, em 2011.

Posteriormente, esta resenha foi revista e aumentada para ser publicada no livro: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll", em seu volume I, a partir da página 79.

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