segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Revista Som Três - Por Luiz Domingues


Final de anos setenta e o astral contracultural de outrora estava praticamente encerrado. O discurso proposto por revistas extintas como a "Rolling Stone" brasileira e a "Rock, a História e a Glória" foram considerados ultrapassados nesses tempos sombrios. A revista "POP" estava a encerrar atividades, em sinal de franca decadência e a melhor alternativa no mercado passou a ser o revista "Música", como resistente em um mundo sob processo de mudanças radicais no campo da música, Rock em específico.
Eis que surge então uma nova revista, denominada: "Som Três", editada pela editora Três, que tinha como seu carro chefe até então, a revista "Planeta", dedicada ao ocultismo, misticismo e esoterismo em geral. Como proposta editorial inicial, a Som Três mostrou-se ainda mais radical do que a revista Música e 90% do seu espaço era dedicado a matérias sobre equipamentos de áudio, principalmente.

Mais a se parecer como uma revista sobre automóveis, mas a falar de equipamentos de áudio, era destinada não para apreciadores de música, exatamente, mas pessoas preocupadas no desempenho de aparelhagens e pouco interessadas em estéticas artísticas. O primeiro número chegou às bancas em janeiro de 1979, com a voluptuosa, Zezé Motta deitada languidamente sob um pilha de receivers, pick-ups e tape-decks, ao deixar bem clara a sua intenção editorial.

Aos poucos, contudo, o espaço dedicado à questão artística pôs-se a aumentar. Sessões mais culturais foram criadas e já nos primeiros anos da década de oitenta, a revista passou a adotar a estratégia de lançar edições especiais, paralelamente, aí sim dedicadas inteiramente à produção artística e com enfoque no mundo do Rock. Os famosos "posters da Som Três" começaram a fazer grande sucesso entre o público Rocker, ainda ligado na estética sessenta/setentista.
Para tais saudosistas dessa Era, agora vilipendiada por detratores niilistas de plantão, os tais posters da Som Três representaram sinais de alento, pois não era mais uma época favorável para idolatrar-se o "Led Zeppelin", "Yes" ou "Deep Purple" em destaque nas bancas de jornais e nesse sentido, a Som Três cumpriu um bom papel, ainda que não trazendo nenhuma grande novidade, pois os posters eram corretos como ilustração, mas na parte dos textos, pouco acrescentavam com novidades para os fãs de tais artistas. 
Surgiram então edições especiais como o "Dicionário do Rock", uma compilação de A a Z, com fichas técnicas a retratar dúzias de artistas, desde os anos cinquenta, outra iniciativa interessante. E mais uma que marcou, foi : "O Livro Negro do Rock", ricamente ilustrado.
E mais um aspecto, ainda mais salutar, foi lançar posters a retratar artistas brasileiros. Lembro-me de um poster por exemplo, lançado em 1981, no qual os grupos: "Made in Brazil" e a "Patrulha do Espaço" dividiram a matéria e alguns anos depois, um poster denominado: "Metal", onde quatro bandas também foram enfocadas, incluso a minha na época, "A Chave do Sol", com a devida ressalva de que embora não fôssemos uma banda orientada pelo Heavy-Metal, no entanto, aos olhos da revista, tal redação enxergava-nos dessa forma (dividimos espaço com as bandas : "Centúrias", "Platina" e "Abutre").
A equipe de redação da revista mantinha gente muito boa, claro. Maurício Kubrusly era chefe de redação e nomes como Gabriel Almog, Nestor Natividade, Paulo Massa, Ethevaldo Siqueira, Ayrton Mugnaini Junior, Gilles Phillipe, e Leopoldo Rey, entre outros, passaram pela redação.
O Leopoldo, aliás, foi um dos que mais abriu espaço para a revista falar mais sobre música, propriamente dita, do que equipamentos de áudio. Sua coluna, "Dr. Rock", lembrava de certa forma a coluna do Ezequiel Neves na "Rolling Stone" e também na "Rock, a História e a Glória", ao trazer uma dose de humor, ainda que mais comedida.

Quando o dito movimento "BR-Rock 80's" explodiu, a Som Três não caiu de amores pela turma do Pós-Punk, como outras revistas acintosamente o fizeram (a revista "Bizz", sobretudo). Manteve portanto uma linha editorial livre, sem rabo preso com facções e formadores de opinião tendenciosos, como observou-se em outras publicações oitentistas. 

Em janeiro de 1989, saiu a sua última edição, exatamente dez anos após o início e assim a encerrar com o seu n°121

Sou grato, pessoalmente à revista Som Três, por ter dado espaço à minha banda naquela década, A Chave do Sol, em algumas oportunidades. E sei que muitos colegas meus, também nutrem essa gratidão pelo espaço raro destinado para artistas independentes. A Revista Som Três teve sua parcela de contribuição, ainda que não fosse 100% focada na produção artística e inegavelmente era bem feita, com padrão editorial de um bom nível.
Matéria publicada inicialmente no Blog Limonada Hippie em 2012.

8 comentários:

  1. Saudades da revista Som Três. Até hoje alimento (e possuo) equipamentos de audio hi-end.

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  2. Também tenho saudades da revista que acompanhou minha juventude! Possuo a coleção inteira com alguns exemplares um pouco danificados e algumas das últimas edições faltando...
    Guardo-as com muito carinho e pretendo conseguir as edições que faltam e as danificadas também! Se alguém souber como posso conseguir, por favor me escrevam! Até mais!

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  3. Foi uma fonte preciosa de informações. Tenho todas as edições e relendo-as para matar a saudade.

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