segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Duzentos Anos de Charles Dickens - Por Luiz Domingues


Neste ano de 2012, comemorou-se o bicentenário de nascimento do escritor britânico, Charles Dickens. Entre os gigantes da literatura britânica, ninguém foi mais contundente do que Dickens ao retratar a desumanidade perpetrada pela revolução industrial.
Por mostrar os meandros das fábricas na era Victoriana, revelou ao mundo o horror dessa época, onde a exploração fora absurda, sem nenhuma preocupação da parte dos empreendedores, tampouco governantes, em relação a qualquer tipo de proteção nos quesitos de segurança dos seus operários, a trabalhar  sob um regime em torno da semi escravidão, vergonhoso em qualquer aspecto. Todavia, engana-se quem pensa ter sido Dickens, um entusiasta da teoria da luta de classes, que ganhou vida nas teorias de Marx e Engels.
Mesmo ao mostrar-se um crítico contundente dessa exploração contumaz, Dickens enxergava através de seus romances, a ocasional mudança no status quo dessas pessoas oprimidas, pelo esforço pessoal ou até mesmo por golpes fortuitos da sorte e jamais pela luta de classes. Dessa maneira, fica claro que Dickens acreditava no ser humano, apesar de ter vivido em uma época onde o massacre decorrente das más condições sociais, oriundas das arbitrariedades concernentes à incipiente indústria, foram avassaladores. Em sua biografia pessoal, há traços que revelam que ele sentiu na pele, ainda que não por muito tempo, essas agruras ocorridas dentro das fábricas victorianas.
Sob uma derrocada familiar repentina, o pai de Dickens foi preso por não honrar dívidas e dessa forma, aos doze anos de idade, o jovem Charles viu-se a trabalhar em uma fábrica que produzia graxa para sapatos masculinos, a utilizar o componente químico, betume. Pois foram horas a fio, a trabalhar nesse ambiente escuro e fétido, ao colocar rótulos nas embalagens. Com seis xelins semanais como salário, o pequeno Charles ajudava a mãe a sustentar a sua família.

Certamente essa fase de sua vida serviu-lhe como inspiração para a criação de seus principais livros, "David Copperfield" e "Oliver Twist", que retratam essa época marcada pelo extremo egoísmo. Porém, ele também foi contundente em : "Dombey and Sons", por relatar a áspera vida dos ferroviários, outro ícone da revolução industrial, onde a fumaça produzida pelas locomotivas, unia-se à das chaminés das fábricas. 
Em "The Old Curiosity Shop", Dickens falou sobre os pequenos comerciantes, assim como descreveu os artesãos ainda com características medievais, nesse turbilhão industrial do século XIX, como em, "A Tale of Two Cities", que tem a Paris da época da revolução francesa como pano de fundo, ao invés da costumeira Londres de suas outras obras. Em "Nicholas Nickleby", Dickens mostrou o opressivo sistema educacional de sua época, a revelar-se quase uma continuação da realidade dura das fábricas.
"Little Dorritt" e "Break House", mostraram o sistema jurídico e penitenciário, também implacáveis com os pobres, tal como Victor Hugo revelou o sistema francês, em "Les Miserablès".
Seus detratores acusavam-no em sempre recorrer às soluções inverossímeis para descrever situações redentoras. De certa maneira, Dickens antecipou em mais de cem anos as mesmas críticas que o diretor de cinema Ítalo-americano, Frank Capra, receberia com os seus filmes. É desnecessário portanto, descrever os desdobramentos da criação de Charle Dickens, pois a sua obra fala por si própria.


O bicentenário de seu nascimento, comemorado no mundo inteiro, é uma grande celebração, além de fazer com que lembremos que estamos a adentrar em uma nova revolução, a tecnológica, no entanto, para pudéssemos chegar até aqui, tivemos que enfrentar a revolução industrial, com os seus pontos positivos e negativos.  E ninguém descreveu melhor a revolução industrial, em seus primeiros e terríveis momentos, do que Charles Dickens.
Matéria publicada inicialmente no Blog Pedro da Veiga, em 2012

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