terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Ao Aproveitar o Lixo - Por Luiz Domingues


Vivemos uma época onde cada vez mais pessoas  conscientizam-se de que em meio a um planeta habitado por mais de sete bilhões de pessoas, é inviável conviver com o desperdício. Pois através de novas formas para estabelecer a rotina em prol da reciclagem de lixo; obtenção de energia e economia dos recursos naturais, surge a cada dia, ao dar-nos novas perspectivas aceitáveis em termos de sustentabilidade. E assim, uma atividade que vem a chamar a atenção pela criatividade e sobretudo pela simplicidade, veio do interior de São Paulo, especificamente da cidade de Barretos, ao norte do estado. 


Um pequeno empresário local, chamado, Flaustino de Paula, criou um método eficiente para utilizar o lixo orgânico doméstico e proveniente de bares; restaurantes e lanchonetes, para transformá-lo em tijolos e / ou fertilizantes agrícolas. Nesse método, todo o lixo coletado é esmagado em uma espécie de reator, até tornar-se uma massa disforme. Após ser secado, ela é triturada até transformar-se em pó. Após esse processo, toma um banho com dois reagentes químicos que trata em eliminar todos os agentes contaminadores, bactérias etc. 

Esses reagentes tem fórmulas registradas e atestadas em sua eficácia, pela UNESP,  a Universidade Estadual de São Paulo. Flaustino as mantém secretas, por segurança contra a espionagem industrial. Usado para a agricultura, o pó contém cálcio e também um corretivo para controlar a acidez do solo, comprovada por estudos agrônomos. Com tal substância, tem a consistência necessária para formar tijolos mais firmes do que os tradicionais, segundo estudos realizados.
Por enquanto, a empresa está a atender particulares, mas a meta de Flaustino é ter como clientela, o maior número de prefeituras, interessadas em estabelecer parcerias no processo de coleta de lixo, com o seu método de reciclagem. Essa ideia é sensacional, pois abre um caminho para resolver a questão dos aterros sanitários, verdadeiros depósitos de lixo insalubres, a revelar-se como criadouro de insetos; ratos e urubus, além da questão da contaminação do lençol freático; o comprometimento do solo; vegetação e proliferação de doenças. Com um pouco de vontade política, essa importante parceria pode revolucionar a questão da coleta e destinação do lixo orgânico, ao promover higiene, bem-estar e gerar lucros, além da eliminação do desperdício.



Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica e republicada posteriormente no Blog Pedro da Veiga, ambas em 2013

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Stan Lee, Super Herói da Imaginação - Por Luiz Domingues

Não é fácil chegar aos noventa anos de idade, ainda mais com a jovialidade e lucidez de um garoto de vinte anos. E talvez seja essa a fórmula que o norteamericano, Stan Lee utilizou durante a sua vida inteira, para alcançar essa idade, com invejável forma física e mente a mil por hora, isto é, ao manter-se mentalmente, jovem.
Nascido como, Stanley Martin Lieber, no dia 22 de dezembro de 1922, em Nova York, era filho de judeus romenos a buscar um lugar ao sol na terra das oportunidades, e teve uma infância dura. Viveu com a sua família em cubículos, e assim teve que dividir o espaço exíguo com a sua família, inevitavelmente. Desde pequeno, ele demonstrou uma imaginação fértil e gostava muito de escrever. Ao esboçar criar os seus primeiros contos infantis, pôs-se a desenvolver a sua escrita e à medida que cresceu, alimentou o sonho em tornar-se um escritor.
Todavia, a dura vida familiar, obrigou-o a ajudar o seu pai, um pequeno alfaiate e dessa forma, Stanley emendou uma série de pequenos empregos, até encaixar-se em uma redação de jornal. Porém, ainda estava longe para poder engatar uma carreira no jornalismo e dessa forma, deram-lhe o trabalho para compilar o obituário do periódico, apenas. A sua sorte começou a mudar quando enfim conheceu o editor de uma pequena editora de revistas de histórias em quadrinhos, denominada : "Timely Comics".

O seu objetivo permanecia em escrever um romance épico que tornasse-o imortal na literatura norteamericana, algo ambicioso, mas plausível em sua compreensão. Aos dezessete anos de idade, assinou pela primeira vez com o apelido, "Stan Lee", ao tentar deliberadamente disfarçar-se, pois de antemão, ele não desejava que o seu nome verdadeiro fosse vinculado à uma revista ao estilo "Comics", pois ele considerava que tal associação macularia a sua trajetória para tornar-se um grande escritor, no futuro. Pois que ironia... a sua fama viria exatamente através dos quadrinhos. Nessa primeira participação, Stan Lee assinou uma história do Capitão América, como apoiador tão somente, do roteirista titular.

E daí em diante, a pequena editora passou a crescer vertiginosamente, até tornar-se a maior rival da então maior editora do mercado, a "DC Comics", que tinha disponível em seu elenco, personagens extremamente populares como o "Superman"; "Batman"; "Aquaman" e a Mulher Maravilha, entre outros.

A pequena "Timely Comics" agigantou-se e tornou-se posteriormente, a "Marvel Comics". Um dos grandes trunfos que fez a Marvel crescer, foi pela influência direta de Stan Lee.
Ao contrário dos super-heróis da "DC Comics", os heróis da Marvel passaram a adotar um comportamento psico-sociólogico que muito os aproximou da realidade da vida. Sendo assim, o padrão do super herói invencível, que tinha em seu âmago a questão do "New Deal", fortemente alicerçada como padrão subliminar nos anos trinta (durante a Era da grande depressão), tratou portanto em adquirir um importante contraponto por parte da Marvel. O contra-ataque teve como estratégia, a humanização dos super-heróis. Eles tinham sim, os seus super poderes e certamente o propósito heroico para usá-los em prol da sociedade, contra forças ameaçadoras de interesses escusos (aliás, há exceções, pois nem todos tiveram isso como ideal de vida), contudo, cada super-herói mantinha o seu lado humano também, com fraquezas; dúvidas; problemas; angústias e até dissabores prosaicos, tal como a falta de dinheiro e as desilusões amorosas em suas vidas pessoais.

Essa perspectiva encantou o público consumidor de HQ, ao angariar uma identificação imediata com o cidadão comum e as suas agruras decorrentes do cotidiano. Ao lidar principalmente com adolescentes, de pronto essa identificação com o seu próprio universo, foi arrebatadora.
A ideia de um super herói capaz de proezas incríveis para salvar pessoas de perigos inimagináveis, mas que tinha a angústia de não ter coragem em declarar-se para a garota que gostava, por sentir-se inferior, foi uma grande sacada. E não é a grande angústia do rapaz tímido, Peter Parker, o Homem-Aranha ? E claro, a cada novo personagem concebido, mais nuances da personalidade humana foram bem explorados, para torná-los ricos em arquétipos dignos para ser estudados em termos psicanalíticos. São inúmeros os exemplos, ao raciocinarmos dessa forma.
Pensemos por exemplo em um grupo de quatro cientistas que durante uma viagem espacial são submetidos a uma espécie de radiação e todos eles desenvolvem, daí, super poderes. Muito bem, agora eles tem essa faculdade excepcional em seu favor, mas continuam sendo as mesmas pessoas, em tese, com os problemas e características pessoais que ostentavam antes do acidente.

O cientista mais velho era apaixonado pela moça e o seu cunhado é um adolescente irrequieto e altivo. O outro cientista do grupo, transforma-se em um homem com um corpo indestrutível, formado por uma impressionante formação rochosa e ao mesmo tempo em que adquire essa super força, passa a ser discriminado, porque tornou-se horrendo e assim, adquire uma fobia social, ao culminar em apenas sair disfarçado pelas ruas. Um quinto elemento desse grupo torna-se um inimigo mortal do grupo e alimenta a fantasia de ser um monarca de um reino medieval remoto, encravado em algum lugar da Europa...

Pois não é fantástica a história do Quarteto Fantástico ?

E não há como julgar-se a postura de um Ser intergalático, por ter sido acuado e dessa forma, ter ficado sem alternativas. Se não auxiliar o terrível vilão, "Galactus", simplesmente este Ser bestial devora o seu planeta, para extinguir a vida de todos, incluso os seus familiares... pois então, o que poderia fazer o Surfista Prateado, a não ser subjugar-se à condição de acólito dessa entidade terrível ?

No caso do Surfista Prateado, fica a metáfora do militarismo desenfreado dos beligerantes, sempre a dispor dos filhos de todas as famílias em prol de seus planos. E o Deus nórdico, que vítima de intrigas palacianas em Asgard, o seu reino celestial, é punido severamente pelo seu pai, o Deus Odin, supremo monarca do panteão, a viver como um humano no insípido planeta Terra ?
Toda a sua altivez como divindade, de nada vale por aqui e a dura adaptação à essa realidade, move Thor, o Deus do Trovão. E o que dizer do milionário industrial e cientista que constrói uma poderosa armadura de ferro, mas que é na verdade um homem sob delicada condição cardíaca ? Essa dualidade entre o super poder dentro da armadura e a fragilidade de um homem à mercê de um coração debilitado, é mais um exemplo dessa exposição das contrariedades humanas.

A boca pequena, fala-se que o cientista milionário, Tony Stark, identidade secreta do Homem de Ferro, foi inspirado diretamente em Howard Hughes. Faz sentido.


No caso de Namor, o Príncipe Submarino, a angústia do personagem é estar dividido por ser híbrido, meio humano (por parte de pai), e "atlante" (pela mãe). Uma clara alusão aos casamentos inter-raciais proibidos em muitos lugares.


Inspirado claramente na história de Dr Jekyll / Mr. Hyde , outro exemplo de ambiguidade dá-se com o personagem do "Incrível" Hulk. O frágil e tímido cientista, Bruce Banner, que transforma-se em uma criatura irascível quando dispara a raiva dentro de si, por conta dos raios gama que acidentalmente atingiram-no em uma experiência laboratorial, praticamente demonstra a vontade interna de cada menino frágil e vítima de "bullying" na escola, em reverter o quadro de seu infortúnio pessoal. Nesse caso, como não identificar-se e ter vontade de "ser" o Hulk, muitas vezes na vida, e assim impor o respeito ? 

No caso do universo do incrível grupamento conhecido como : "X-Men", seria possível escrever sobre cada personagem, com as suas respectivas características, tamanha a sua riqueza enquanto personagens, a revelar-se um micro cosmo da humanidade. No resumo, fica a mensagem da segregação;, do preconceito e da intolerância pelo qual tais personagens são perseguidos pelos intolerantes.


Como não pensar nisso, diante dessa história, construída em torno de uma escola de crianças e adolescentes com super poderes e incompreendidos pela sociedade e até por seus familiares, que são tratados como verdadeiros "párias" ? Está clara aí a alusão à exclusão das minorias, e reforça-se esse conceito na medida em que os personagens de X-Men surgiram quando a questão dos direitos civis na América, atingira o seu clímax, com reações raivosas da parte dos racistas de plantão.


E assim, Stan Lee não parou quieto dentro da Marvel, ao exercer diversas funções, tal como Maurício de Souza exerce-as dentro de sua companhia. Computa-se em cerca de trezentos e vinte personagens criados por ele, entre super-heróis, super vilões e personagens secundários de apoio.

Há quem não o reverencie também. Jack Kirby, um de seus mais célebres colegas na Marvel (e sem dúvida um grande criador, tão grande quanto, Stan Lee, na história dos Comic Books), chegou a criar um super herói para satirizá-lo. Ele dizia que o personagem era um "safado exibicionista e sempre disposto a enrolar as pessoas". Com a advento da TV, Stan Lee também usou bastante o veículo e ao seguir os passos de Alfred Hitchcock, diverte-se em participar de todos os filmes dos heróis Marvel, ao participar em encenar "pontas" inusitadas, sempre a possibilitar tornar-se objeto de conversas entre os fãs.

Já fez locuções; participações em filmes não necessariamente de seus heróis, mas a reverenciá-lo como um grande nome da HQ; apresentou um reality show absurdo na TV (e engraçado), onde a proposta foi inventar-se novos e insólitos super-heróis etc. Sempre bem humorado e a revelar ostentar uma vitalidade incrível, é adorado não apenas por fãs das Histórias em Quadrinhos, mas também por músicos; artistas ligados ao cinema e diversas personalidades,as mais variadas, no mundo inteiro.

Stan Lee não está mais na Marvel, diretamente, e faz tempo, enveredou pela internet, ao criar o seu próprio portal, com a empresa : Stan Lee Media. Claro que eu também sou fã do universo Marvel, desde criança e do velho, Stan Lee, uma tremenda influência em minha formação cultural.


Li, recentemente, a opinião de um jornalista a dizer que Stan Lee está para os quadrinhos, na mesma proporção em que os Rolling Stones estão para o Rock atual. Ou seja, ninguém espera que tais artistas criem nada revolucionário nos dias atuais, ambos, mas por onde passam, os holofotes acendem e todo muito gosta de ver e reverenciar. É por aí...


E que eu consiga ter a sorte de chegar aos noventa anos de idade, com essa vitalidade. Como sou um entusiasta da Marvel, desde criança, acho que tenho chance, pois não corto essa relação com a energia da infância e acredito que isso é um meio eficaz para não envelhecer. Concorda, amigo leitor ?

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Kim Kehl & Os Kurandeiros - Dia 23 de janeiro de 2013 - Quarta-Feira - 21:30 h. Magnolia Villa Bar - Lapa - São Paulo / SP



Kim Kehl & Os Kurandeiros

Dia 23 de janeiro de 2013


Quarta-feira - 21:30 h.

Magnolia Villa Bar

Rua Marco Aurélio, 884

Lapa

São Paulo  -  SP


KK & K :

Kim Kehl - Guitarra e Voz
Carlinhos Machado - Bateria e Voz
Nelson Ferraresso - Teclados
Phil Rendeiro - Guitarra e Voz
Luiz Domingues - Baixo

Participação Especial : Alexandre Rioli - Teclados

sábado, 19 de janeiro de 2013

Sábado Som - Por Luiz Domingues

Foi em um sábado de abril de 1974, que um fenômeno inimaginável para os padrões da época, ocorreu na TV brasileira, no horário das 16:00 horas. Ao estabelecer uma mudança em sua programação habitual, a Rede Globo de televisão colocou no ar um programa chamado: "Sábado Som", produzido e apresentado pelo jornalista, Nelson Motta, com o objetivo de exibir o melhor do Rock internacional, daquele momento. De queixo caído, Rockers, Freaks e Hippies tupiniquins não acostumados com tal tipo de tratamento cultural inclusivo, comemoraram a oportunidade incrível e improvável até então.
E logo de início, a estreia foi para lá de especial, com a exibição do documentário: "Live at Pompeii", uma produção de 1971, com o Pink Floyd a tocar ao vivo, nas ruínas da extinta cidade romana de Pompeia.
Um espetacular estreia de programa, portanto, com este especial, pleno de clima lúgubre e sob a aura de um Pink Floyd em grande fase da carreira. Foi inacreditável estar a assistir tal peça audiovisual na TV, em um sábado a tarde, pois não éramos norte-americanos ou europeus, acostumados a ter esse tipo de suporte nos meios de comunicação, com a devida regularidade.
Até então, havia sido rara a oportunidade para a exibição de material de grupos de Rock internacionais, salvo pequenas intervenções sazonais. Tomo como exemplo a minha experiência pessoal que deve ter se repetido para muitos aficionados da minha faixa etária, em termos de reação e repercussão desse programa inicial. Na segunda feira posterior, às 7:00 horas da manhã, no portão da escola, o assunto não foi outro entre os freaks do colégio. 
A expressão, "você viu" (?), foi repetida muitas vezes nas rodas formadas entre amigos e tornou-se o assunto da semana, sem dúvida alguma, tanto quanto um ano antes, houvera sido com a primeira exibição em larga escala dos Secos & Molhados, no programa "Fantástico", que deixou todo mundo estupefato, igualmente. E assim se sucedeu, sábado após sábado, vídeos inacreditáveis a exibir a performance de artistas que eram muito distantes para nós, a ser exibidos.
O material que alimentava o programa, foi proveniente de boas fontes das TV's norte-americanas e europeias: Don Kirshner's Rock Concert, "Midnight Special", "In Concert", "Old Grey Wistle Test"; "Top of The Pops", "Rockpalast", "Beat Club", "Ratatata", "Musikladen" etc. Sendo assim, por meses a fio, o horário das 16:00 horas, aos sábados, tornou-se sagrado para nós.
O mundo podia desabar, mas ninguém tirava-nos da sagrada poltrona da sala de estar nesse dia e horário da semana. Entre tantas pérolas que ali vislumbramos, causou furor a exibição da banda holandesa, Focus, e ouso dizer que a enorme popularidade que tal banda angariou no Brasil, iniciou-se ali no Sábado Som. 
Ninguém nunca mais se esqueceu daquela banda espetacular, com um tecladista/vocalista alucinado, que em meio a um Hard/Prog-Rock muito bem tocado, a estabelecer malabarismos vocais a la "yodol", um falsete exótico e dificílimo para cantar-se, típico do folclórico europeu, e dessa forma o Focus deu o seu recado com enorme força em torno de sua canção: "Hocus Pocus!"
The Allman Brothers Band, Alice Cooper, Poco, Chuck Berry, Triumvirat, Greenslade, Uriah Heep, Gentle Giant, Slade, David Bowie, T.Rex, Suzi Quatro, Johnny Winter, Black Oak Arkansas, Average White Band... foram inúmeros os artistas norte-americanos e europeus, oriundos de várias vertentes do Rock, que ganharam exibições memoráveis para o nosso total deleite.
O programa gerou frisson entre os Rockers, de tal forma, que permito-me contar aqui uma experiência pessoal: a minha professora de português na ocasião (eu cursava a dita "7ª" série do ensino fundamental, à época), preocupada em fugir do conteúdo pedagógico óbvio, gostava de inserir tópicos culturais nas brechas do programa didático tradicional e maçante que era obrigada a ministrar. Entre um tópico de gramática e outro de ortografia, ela gostava de estimular discussões no âmbito cultural e claro que isso foi positivo, eu devo admitir.
Todavia, como ninguém é perfeito, segundo os seus parâmetros pessoais, o Rock representava algo menor, talvez um produto da subcultura inferior, em sua opinião e portanto, um substrato que ela nutrisse desprezo, posso imaginar. Motivada pela repercussão do "Sábado Som" e pela recente visita de Alice Cooper ao Brasil, que gerara uma repercussão enorme, eis que ela propôs uma redação a ser elaborada pelos alunos, onde o tema designado foi: "quem é melhor, Alice Cooper ou Hermeto Pascoal?"
É claro que a sua intenção foi buscar argumento em nossas redações infantojuvenis, para corroborar a concepção dela, de que Alice Cooper seria supostamente inferior, por ser na sua visão preconceituosa, um artista enlatado do Rock norte-americano e cujo trabalho denotaria mau gosto por conta da sua teatralidade mórbida, de fato, etc. e tal. 
 
No entanto, através da minha redação, eu argumentei que não enxergava nenhuma disparidade entre esses artistas e pelo contrário, gostava de ambos, a começar pelas diferentes particularidades apresentadas pelos dois, e ao ir além, incluí o The Allman Brothers Band, como um exemplo a mais de sonoridade diferente e pautada pela extrema excelência artística.
Assim éramos nos anos setenta, sem preconceitos, sem tribos fechadas em nichos... tudo era divino e maravilhoso, sem divisões. Ao final de 1974, o "Sábado Som" exibiu um especial condensado do Festival "Califórnia Jam", ocorrido poucos meses antes. Para os padrões da época, foi inacreditável assistir alguns artistas participantes desse festival, ao vivo, com o frescor, dessa proximidade temporal.

E assim, ficamos petrificados nas poltronas ao ver Keith Emerson a tocar em um piano de calda, suspenso, a girar no ar como se fosse um número circense (e o foi, na prática), Ritchie Blackmore a destruir o palco sob uma fúria ensandecida, em meio às chamas, o Black Sabbath a propagar os seus temas pesados à luz do dia, ao estabelecer um contraste quase ideológico perante a sua própria obra, marcada pelo caráter soturno etc. 

Contudo, o sucesso comercial de tal empreitada Rocker talvez não fosse proporcional ao nosso entusiasmo setorizado e assim, a Rede Globo tirou o programa do ar, ainda no começo de 1975, para substituí-lo por um seriado chamado: "Star Lost"
O "Sábado Som" marcou época e gerou repercussão diluída em pequenas ações. Conheci lojas de discos e até de artigos sem relação com a música, diretamente, que abriram as suas portas com tal denominação, certamente para aproveitar a sua repercussão.
E também um selo com essa denominação, que chegou a lançar diversos artistas, principalmente bandas do chamado, "Krautrock" (uma vertente do Rock alemão sessenta/setentista, muito interessante, formada por artistas com tendência a praticar o Rock progressivo e experimental). Esse selo lançou bandas tais como: "Nektar", "Embryo", "Amon Düll II", "Guru-Guru", "Karthago", entre outras, no mercado brasileiro. 
 
Em meados de 1976, a Rede Globo repaginou o programa e o relançou sob o nome de: "Rock Concert", sem a presença de Nelson Motta, no entanto, contudo, essa é uma outra história, como diria o meu amigo, Charles Gavin... 
Matéria publicada inicialmente no Blog Limonada Hippie, em 2012