quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O Comprimido do Vestibular - Por Luiz Domingues

Uma lenda urbana começa geralmente de forma sorrateira. Nem todas vingam, mas uma ou outra logra êxito ao espalhar-se e ganhar assim uma notoriedade. Não sabe-se quem foi o autor, mas o fato é que espalhou-se o boato de que um medicamento vendido normalmente em farmácias, embora tenha função medicinal completamente diferente, auxiliaria na concentração mental, ao estimular o foco e a memória e para ir além, potencializaria a inteligência.

Dessa forma, tornou-se uma coqueluche entre vestibulandos e "concurseiros" em geral, o seu uso indiscriminado, sem critério científico e evidentemente ao assumir os riscos de efeitos colaterais indesejáveis. O Metilfenidato, cuja finalidade medicinal é coibir o transtorno do déficit de atenção, através da hiperatividade, em nada ajuda as pessoas a ter desempenho melhor nos estudos. Contudo, como tal prática começou a sair do controle, as autoridades de saúde preocuparam-se e assim, um estudo mais aprofundado precisou ser feito. Para poder ser comprovada (ou não), essa lenda urbana, a psicóloga, Silmara Batistela, da Universidade Federal de São Paulo, empreendeu uma série de experiências e chegou à conclusão de que o medicamento não promove nenhuma melhora cognitiva. A questão do foco, relatado por estudantes impressionados com os seus supostos resultados, segundo os estudos, fora motivado pela coibição do sono. 
Efeito esse, evidentemente promovido pela anfetamina e não muito diferente dos efeitos de certas drogas usadas com objetivos recreativos. Claro, o perigo assumido pelo consumidor é grande, pois o medicamento pode desencadear problemas cardíacos graves, arritmia, por exemplo. Por ser um medicamento de uso psiquiátrico, faz-se necessária a apresentação de uma receita.
Tirante o famoso e execrável "jeitinho brasileiro", tem ouvido-se relatos de jovens que tem procurado consultas psiquiátricas e a simular sintomas de TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade), perante os doutores, com o objetivo torpe em obter uma receita. Nesse caso, não dá para deixar de lamentar que exista pessoas com talento para a dramaturgia, que desperdiçam a sua vocação, por uma causa tão pobre. Também é alarmante como a saúde pública é gerida, quando dados revelados pelo sindicato das indústrias farmacêuticas, indicam que tal medicamento teve acréscimo de 50% em sua vendagem, nos últimos quatro anos. Para encerrar, não existe remédio para aumentar a inteligência... o jeito é estudar mais...
Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica e posteriormente republicada no Blog Pedro da Veiga, ambas em 2013.

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