quarta-feira, 10 de julho de 2013

Campeão Mundial do Improviso - Por Luiz Domingues

                                              
Quando o Brasil foi escolhido pela FIFA, como o país sede da Copa do Mundo de 2014, tal data pareceu estar longínqua na ocasião da escolha sacramentada. Foi no ano de 2007, e sete anos aparentou ser uma eternidade para promover tantas mudanças estruturais necessárias para cumprir-se o exigente caderno de adequações da FIFA. 

E já naquele ano, o Brasil despontava como o país emergente a receber elogios da mídia internacional e ao insinuar-se enfim notado pelas nações do dito "primeiro mundo", fator raro até então. Entretanto, os problemas que suceder-se-iam, foram absolutamente previsíveis... 

Enraizado na alma do Brasil, existem signos absolutamente vergonhosos que enquanto não forem erradicados do imaginário popular, dificilmente farão com que a riqueza material conquistada pela economia do país, reflita-se como uma real grandeza digna de  colocar-nos de fato, no rol dos países desenvolvidos do planeta. Por exemplo, a vergonhosa mania que temos amalgamada em nossa alma, em orgulharmo-nos por ser um povo que resolve qualquer situação mediante uma falcatrua improvisada. 

Esse estigma é terrível, pois leva-nos a crer que fazer as coisas de qualquer maneira, sem critério de qualidade, é uma virtude, quando na verdade, é uma prática lamentável. Ligado intimamente a esse fator, existe outro estigma horrível, que é o do atraso. Brasileiro acha bonito atrasar-se, no sentido da pontualidade, ao entregar trabalhos ou tomar providências no último momento possível e muitas vezes, além do prazo final estipulado. A questão do "jeitinho", tem a conotação do improviso, da "gambiarra", do "gato". Dentro de tal mentalidade, nada é seguro, pois do pequeno reparo caseiro com a fita isolante, aos grandes empreendimentos arquitetônicos, paira no ar esse artifício que a qualquer momento descortina-se, algumas vezes sob tragédias. 

Outro estigma horrível e típico do Brasil é o orgulho da "malandragem". Se desde crianças, somos bombardeados com esse conceito, realmente fica muito difícil obter-se uma outra visão. Por sermos, supostamente, todos "malandros" e sempre dispostos a levar vantagem em tudo (certo ? ), chocamos os estrangeiros que habitam o primeiro mundo, não habituados com tal prática abusiva / extorsiva  / inaceitável, e tal procedimento padrão faz de nós, estelionatários em potencial. 


Quando Mário de Andrade criou o personagem, "Macunaíma" e Monteiro Lobato criou o "Jeca Tatu", ambos foram criados com a característica da "preguiça', como traço de personalidade dominante. Ora, se ambos são personificações típicas do brasileiro, obviamente que os respectivos autores os criaram com forte fator em tom de denúncia sócio / cultural, no entanto, parece que o povo absorveu a ideia de preguiça, como algo para orgulhar-se... 

Outro aspecto lamentável e típico do Brasil é a exaltação da sensualidade. Após décadas de propaganda maciça nesse sentido, para atrair turistas (e isso por si só já bastaria para denegrir-nos enquanto nação), não é contraditório que o brasileiro sinta-se ofendido quando percebe estrangeiros a referir-se às nossas mulheres de uma forma desrespeitosa ? Sete anos passaram e nada foi feito para atenuar essas questões. E como poderia mudar algo formatado há séculos, e com a agravante de ninguém nem discutir o assunto com um mínimo de seriedade ?  A preocupação foi apenas construir novas "arenas", e deixar em segundo plano uma série de outros fatores estruturais. 

Arenas estão a ser inauguradas, todas sofisticadas, para cair o queixo dos torcedores, entretanto, o entorno dos estádios ainda é caótico; os meios de transporte para acessá-los, precários. Aeroportos; portos; estações rodoviárias de terceira categoria; nenhum preparo para atender e informar bem os turistas...

Nem vou falar sobre a questão da segurança pública, para não fazer ninguém perder o sono. 

E vou citar mais um absurdo  : eu afirmei acima que as arenas estão deslumbrantes. Isso é verdade, mas problemas estruturais inadmissíveis estão a acontecer em tempo recorde. Na Fonte Nova, Em Salvador / BA, por exemplo, logo no primeiro dia da inauguração, verificou-se que a distância entre uma cadeira e outra, estava inadequada para uma pessoa acomodar-se; no Castelão, há relatos de pessoas que demoraram horas (eu disse : horas !) para sair do centro de Fortaleza e chegar ao estádio, para o show do Paul McCartney, ali recentemente realizado. O entorno do Maracanã está impraticável por conta das obras viárias. No Mineirão, logo nos primeiros jogos da sua pós / inauguração, foi um horror a venda de ingressos, com uma bagunça generalizada. 

Outra Arena que nem revelarei o nome, apresentou um "probleminha" no dia da inauguração : jornalistas atônitos, descobriram não haver tomadas para acessar a rede elétrica nas cabines de imprensa..."apenas esse mero detalhe" ...

Isso sem contar toda a manobra política para tirar o estádio do Morumbi do evento. Ora, está na ponta do lápis : seria necessário uma rápida reforma para adequar o Morumbi às exigências da FIFA. Isso custaria cerca de trezentos e cinquenta milhões de reais, pelos quais o São Paulo Futebol Clube, dono do estádio,  pagaria quase toda a despesa, de seus próprios cofres. Todavia,  curiosamente", a FIFA criou todo o tipo de empecilhos, ao preferir ameaçar a cidade de São Paulo, em ficar fora do evento. 

Daí, surgiu a "oportunidade" para construir-se o estádio do Corinthians, e que sob uma previsão inicial, ficou cotado em "apenas" oitocentos milhões de reais, mas que agora, às vésperas do evento, já passou do montante de um bilhão, é claro. E o Maracanã ? Acaba de ser reformado, contudo, o governo anunciou que o reformará novamente para as Olimpíadas de 2016. Brasileiro adora reforma; licitação; concorrência pública...

Na ponta do lápis, parece uma artimanha insana, e de fato assim configura-se, certamente. Mas aqui é o país do "jeitinho", da "malandragem", não é mesmo ? Recomendo assistir o documentário : "A Caminho da Copa", onde alguns aspectos do que eu citei nesta matéria, encontra respaldo.

http://www.youtube.com/watch?v=nFcA2PKIcfQ 

Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica, em 2013.

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