quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Centro Cultural São Paulo - Por Luiz Domingues


A escavação a visar a construção do Metrô em São Paulo, começou oficialmente em 1968. No entanto, foi muito paulatinamente que tal trabalho de engenharia avançou, e desta forma, quando os trilhos que vinham da última estação do lado 'sul", Jabaquara, começou a chegar nos bairros de Vila Mariana e Paraíso, com a intenção em seguir a direção ao centro da cidade, e posteriormente aos bairros da zona norte, muitas desapropriações foram promovidas, naturalmente. 
Em um desses terrenos, uma íngreme e de grande proporção formação rochosa que margeava a Avenida 23 de maio, em sua  parte baixa, e a Rua Vergueiro, no andar superior, surgiu a ideia de construir-se um complexo de torres que abrigariam sob uma primeira instância, escritórios comerciais; consultórios médicos em várias especialidades; hotéis; um possível Shopping Center e uma biblioteca pública. Vivia-se a administração do prefeito, Miguel Colassuono e chamou a atenção que a sua ideia inicial pensara em empreendimentos privados e a conter apenas um item versado pelo interesse público e cultural, ou seja, a possibilidade de uma biblioteca. No entanto, não saiu da gaveta esse projeto e o Metrô passou, ao estender-se até a zona norte, com aquele terreno da superfície a permanecer descampado, a envolver a estação Vergueiro. 
O prefeito seguinte, Olavo Setúbal, nomeou uma nova comissão de estudos e resolveu-se fazer uma grande biblioteca, moderna, e com um conceito novo de compartilhamento da informação, ousado para a época. Contudo, a lenta burocracia municipal fez com que o projeto de 1975, só fosse pautado à licitação em 1976, e as obras começassem então, somente em 1978. Em 1979, o então prefeito, Reynaldo de Barros, passou uma borracha em tudo, e encantado com o Centro Cultural Georges Pompidou, de Paris, quis empreender algo nesses moldes, para ampliar o projeto inicial, e ao ir além de uma super biblioteca, a conter uma concepção arrojada ao abrigar teatros; salas de cinema; exposições e oficinas artísticas  / culturais, as mais diversas.

O prefeito convocou então o seu secretário de cultura, Mario Chamie, que entusiasmou-se, e com o apoio dos arquitetos, Eurico Prado Lopes e Luiz Telles a assinar a obra, tocou o projeto adiante, enfim.

Ao aproveitar-se da topografia irregular daquela imensa encosta, os arquitetos conceberam um prédio com características ousadas, a privilegiar as armações de ferro e os largos espaços envidraçados.

A enorme quantidade de entradas e saídas, conferiu a sensação de liberdade, ao extrair a possibilidade em alimentar sentimentos labirínticos ou claustrofóbicos. Apesar de ter sido concebido por prefeitos ditos, biônicos e comprometidos com o regime federal fechado de então, tal ousadia arquitetônica e sobretudo cultural, preocupou os setores mais conservadores da cúpula militar. 

Há relatos da parte dos arquitetos envolvidos nessa obra, de que fiscais apareciam constantemente a estabelecer uma série de observações impertinentes, com o claro objetivo em atrapalhar o processo.

Todavia, superada essa dificuldade, o projeto prosseguiu e graças a imaginação da esposa do secretário, Mario Chamie, surgiu o logotipo oficial do CCSP, concebido por ela e a fazer alusão à estrutura arquitetônica do complexo, com os seus ferros torneados de uma forma inusitada. Em 13 de maio de 1982, o Centro Cultural São Paulo foi inaugurado, instalado em seu histórico endereço : Rua Vergueiro, 1000. 

Dali em diante, tornou-se um polo de multi-exploração cultural, e muito rapidamente, e certamente um ponto importante para shows; teatro; cinema; exposições; saraus; palestras, etc. Nos anos oitenta, por exemplo, é muito difícil pensar em algum artista ligado ao Rock; Blues; Jazz ou MPB, do Brasil, que não tenha apresentado-se ali. As apresentações musicais fizeram história no auditório Adoniran Barbosa, em seu famoso quadrado envidraçado. 
Muitos projetos de música, realizados no vão livre, aconteceram com o passar dos anos, mas foi naquele auditório que foram guardadas as grandes lembranças do CCSP. Eu, mesmo, Luiz Domingues, tenho uma longa história pessoal com o CCSP, e especialmente com o auditório, Adoniran Barbosa. 
Apresentei-me ali, com quase todas as bandas onde toquei, em fases diferentes, e com ótimas lembranças sobre cada ocasião. Em 1983, por exemplo, apresentei-me ali pela primeira vez, como membro do Língua de Trapo. Foi uma apresentação relâmpago, concebida para homenagear o compositor, Adoniran Barbosa. Nesse show em tom de um tributo, estiveram presentes também outros artistas, tais como : Demônios da Garoa; Anna de Hollanda; Eduardo Gudin, etc. Curiosamente não ocorreu no auditório "Adoniran Barbosa", mas na sala ao lado, que era reservada exclusivamente às peças de teatro. Já em 1984, realizei três shows com o Língua de Trapo, com uma super lotação, a conter gente sentada na escada de acesso, além da tradicional "turma do vidro", a assistir gratuitamente do lado de fora.

Seguiu-se sete shows com A Chave do Sol, entre 1986 e 1988. Voltei naquele palco com o Pitbulls on Crack, nos anos noventa, por três vezes.

 

Com a Patrulha do Espaço, foram inúmeras as apresentações, entre 1999 e 2004. Na temporada de três shows cumpridos em 2004, gravamos um álbum ao vivo, (mas que só foi lançado em 2007), com o título :"Capturados ao vivo no Centro Cultural São Paulo em 2004".

Já na fase do Pedra, outra banda pela qual atuei, foram quatro shows, dois deles, para lançar os discos : "Pedra" e "Pedra II", respectivamente. 

Recentemente (2013), o CCSP passou por uma ampla reforma e dessa forma, sinaliza que pretende voltar a ser um polo de shows importantes na cidade. 
Crítica construtiva, devo observar no entanto, que ficou ainda mais burocrático do que o era anteriormente em seus meandros, e assim, agendar shows tornou-se complicado. Senhores dirigentes da entidade, melhorem isso por favor ! Tirante essa questão tecnocrata, o Centro Cultural São Paulo é ainda um grande polo de cultura na cidade, e dotado de um facílimo acesso, por estar acoplado a uma estação de Metrô (Estação Vergueiro), literalmente e portanto,  a tornar a sua localização, tranquila até para quem não conhece a cidade.
Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu, em 2013.

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