terça-feira, 24 de setembro de 2013

Eu (ainda) Tenho um Sonho - Por Luiz Domingues

Em 1963, um contingente formado por cerca de duzentas e cinquenta mil pessoas aglomerou-se em frente ao Memorial Lincoln, em Washington, D.C., para ouvir um discurso que entrou para a História. O pastor Batista e ativista político, Martin Luther King Jr. falou com muita propriedade sobre a necessidade premente em estabelecer-se a igualdade racial na América do Norte, e dessa forma, com a conquista dos Direitos Civis plenos, à todos os cidadãos, independente de sua origem racial.

O discurso : "Eu Tenho um Sonho", foi apenas um ato dessa grande luta, entretanto angariou uma dimensão enorme na sociedade pela repercussão midiática inédita em torno dessa discussão, e consequentemente, tornou-se emblemático. Todavia, na verdade, a luta de Martin iniciara-se alguns antes, quando este liderou um protesto contra a segregação, na cidade de Montgomery / Alabama. 
O caso de Montgomery, ocorrido em 1955, foi gerado por conta de um incidente com uma mulher negra que recusara-se a ceder o assento a uma mulher branca, dentro de um ônibus urbano dessa cidade, e uma revolta eclodiu contra a Lei que mostrava-se arcaica e descabida, portanto, em pleno século XX. Outro fato posterior, e pertinente, ocorreu em 1957, quando cinco estudantes negros foram impedidos em frequentar as aulas em uma escola, situada na cidade de Little Rock, a capital do estado de Arkansas, e assim provocar uma outra onda de protestos, pró e contra, diga-se de passagem.

Martin Luther King Jr. teve então, o papel decisivo nesses protestos, ao levar a questão a ser discutida na Suprema Corte norteamericana e daí provocar a revogação de tal Lei, para tornar proibida  a discriminação racial no transporte público. Esse foi apenas um ponto, pois na prática faltava muitas coisas essenciais na América, para que os Direitos Civis fossem de fato assegurados para todas as pessoas, e nesse ínterim, Martin teve a sua voz a cada dia mais amplificada. 
Admirador confesso do líder indiano, Mohandas Gandhi (a palavra "Mahatma", geralmente usada para designá-lo, é na verdade um "título" honorário, e muito respeitoso na cultura indiana), Martin adotou na sua postura, a observação da "não-violência", como um modus operandi, tal como o líder indiano. 
Em sua visão, Martin sabia que possivelmente haveria retaliações violentas por parte de forças racistas, principalmente nos estados do sul do país, portanto, apesar de ser algo extremamente doloroso, se os negros não reagissem, tal postura ganharia a opinião pública, via mídia. As reivindicações básicas foram : fim da discriminação racial na sociedade; direito ao voto; igualdade de condições de trabalho para os negros, enfim, a igualdade social. 

Em 1964, uma nova Lei foi promulgada, como adendo à Constituição. Com a nova Lei dos Direitos Civis, uma grande vitória, assegurou-se. No ano seguinte, uma outra conquista importante veio, através do direito ao voto, com a nova Lei eleitoral aprovada. Nesse ano de 1964, Martin ganhou o prêmio Nobel da Paz, por ter sido reconhecido o seu esforço. 
A partir de 1965, ele começou a centrar as suas baterias contra a Guerra do Vietnã, quando notou que tal intervenção nada tinha de patriótica, como o governo tentou passar essa ideia ao povo, mas a tratar-se de uma manobra geopolítica a serviço de interesses comerciais dessa forma, ele também ganhou a simpatia da juventude branca centrada na concepção anti-Vietnã, notadamente entre os Hippies. Claro, com tal atitude, amealhou ainda mais antipatia dos oponentes desses ideais, e convenhamos, em seu bojo, tratou-se das mesmas vozes reacionárias, portanto os conservadores escravocratas, pró manutenção da segregação. Em 4 de abril de 1968, Martin preparava-se para liderar mais uma marcha, em Memphis, no Tennessee, quando foi assassinado nas dependências do hotal onde hospedara-se. 
Um sujeito chamado, James Earl Ray, confessou o crime, no entanto, anos depois, declarou ter sido usado como bode expiatório. Bem, um fato s assim não foi novidade na América, vide a figura de Lee Harvey Oswald. Lamentamos a perda de um ativista de fibra, e orador brilhante como Martin Luther King Jr., é claro. 
Contudo, o seu discurso proferido na escadaria do Memorial Lincoln, em 28 de agosto de 1963, tornou-se eterno. Passados cinquenta anos dessa manifestação histórica, muitas fatores mudaram para melhor na América e por extensão, em todo o mundo.  
Contudo, há muita coisa ainda a ser melhorada, portanto, podemos afirmar que "ainda" temos um sonho, em observarmos um mundo realmente fraternal, e que não seja tal compartilhamento regido por regime totalitário, algo que sabemos, não funciona por decreto. Cabe-nos colocar em prática, propostas que leve-nos à essa harmonia, e assim, seguirmos os passos propostos por ativistas pacíficos como Mahatma Gandhi e Martin Luther King Jr.
Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica, em 2013.

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