quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Cassinos, Sim ou Não? - Por Luiz Domingues


Houve época no Brasil, onde haviam mais de setenta grandes cassinos em plena atividade. Alguns, extremamente glamorosos, como o histórico, Cassino da Urca, no Rio de Janeiro, e o Quitandinha, em Petrópolis, no mesmo estado do Rio. 
A existência de shows musicais foi um grande mote adicional ao óbvio interesse pelas roletas e outros jogos ali existentes, e nesse sentido, muitos artistas fizeram história, como por exemplo, Carmem Miranda, que costumava causar furor nas noites do Cassino da Urca. 
Mas eis que um dia, o então presidente Eurico Gaspar Dutra, baixou um decreto a extingui-los, e assim gerar a bancarrota de vários empresários, fora o desemprego de milhares de trabalhadores que deles dependiam e sob um efeito cascata, a prejudicar a classe artística, fornecedores e demais serviços indiretos relacionados. Motivo da proibição: os cassinos seriam "antros de perdição", ao atentar aos "bons costumes" da sociedade brasileira, na visão bem conservadora sob cunho religioso, certamente.
À boca pequena, dizia-se que tal determinação de Dutra, teria sido decorrente da pressão de sua esposa, uma senhora extremamente religiosa e que incomodara-se muito com a existência de cassinos no Brasil por conta de tais convicções que tinha consigo. 
 
Paralelamente a essa proibição de 30 de abril de 1946, o jogo do bicho seguia proibido, mas incólume à vigilância da Lei, já existia a loteria federal, administrada pela Caixa Econômica Federal, para comprovar que tal medida de Dutra, constituiu-se de um ato revestido per uma tremenda hipocrisia populista.
Outro argumento forte, mostrou-se o óbvio: se em países europeus e nos Estados Unidos, os cassinos seguiam a todo vapor, sem questionamentos pseudo moralistas e/ou religiosos a impingir-lhes restrições, por que no Brasil isso estaria a acontecer?
Contudo, por aqui, a despeito do glamour de Mônaco, Estoril ou de Las Vegas, a Lei tornou-se imutável, ao atravessar décadas, apesar das pressões de empresários interessados em retomar a sua exploração. Por que?
Ao final dos anos sessenta, a Caixa Econômica Federal lançou um novo jogo, chamado: "Loteria Esportiva", baseado nos resultados dos jogos de futebol. Tornou-se uma febre, que movimentou o país por pelo menos dez anos, até que a Caixa lançasse outros jogos oficiais, estes baseados em sorteio de números. Por conseguinte, deduziu-se que a existência de tantos "jogos de azar" oficializados, e controlados por um banco estatal, não traria prejuízos morais à sociedade moderna, certo? 
Nos anos noventa, houve um "boom" em torno da aberturas de casas de bingo oficializadas, contudo, em algum momento posterior, falcatruas perpetradas por maus empresários, fizeram com que o governo promovesse a providência de fechá-los, portanto, foi uma perspectiva muito diferente da razão que motivou o presidente, Dutra, a proibir os cassinos em 1946. 
 
Nesse aspecto cabe a ressalva importante a dar conta do aspecto negativo em torno da abertura de cassinos, haja vista que, sim, a possibilidade de que tal tipo de casa de apostas sirva como uma verdadeira lavanderia de dinheiro sujo, é imensa. Portanto, se pensarmos por esse aspecto, cassino é um campo aberto para tal prática abominável e pior, a alimentar por conseguinte a política suja, ao patrocinar campanhas e vice-versa, ter o apoio de tais agentes ao seu favor. 
 
Agora, em plena segunda década do século XXI, tal proibição continue em vigor. 
A argumentação moralista de que o jogo vicia e pode destruir uma pessoa e por tabela, desmantelar famílias, é válida não vou negar. Não obstante o fato de eu concordar que exista essa possibilidade, acho que vivemos uma fase da civilização, em que não há nenhum cabimento de vivermos sob a tutela de um estado autoritário, que diga o que as pessoas podem ou não fazer de suas próprias vidas.
Neste caso, caberia ao governo, isso sim, prover a saúde pública de uma forma completa mediante a construção de uma estrutura que possa sim, ajudar as pessoas que não conseguem se controlar a contento, e portanto, tenham prejuízos psíquicos, com a sua inabilidade pessoal para lidar com a tentação dos jogos. 
 
Nesse sentido, a pensar exclusivamente nesse aspecto da liberadde individual não tutelada pelo estado, proibir a existência de cassinos, parece ser tão prosaico, quanto um marido inseguro mandar queimar o sofá de casa, como forma para coibir que a esposa o traia. 
Se visto pelo lado das oportunidades e da realidade social tão difícil, em um país de dimensões continentais como é o Brasil e a apresentar uma costa exuberante dotada de mais de oito mil Km de extensão, retomar a história dos cassinos, seria em tese um impulso enorme ao turismo. 
 
Dessa forma, empregos diretos e indiretos seriam criados, mediante a criação de uma rede de serviços, hotelaria de alto nível, atrações musicais e shows de stand-up comedy, que poderiam abrir novos espaços para artistas e técnicos. 
Agregar-se-iam lojas a vender souvenirs, restaurantes, bares e lanchonetes. Passeios e atividades poliesportivas poderiam ser agregadas, em pacotes turísticos. Enfim, seria um fomento ao turismo, com uma incalculável fonte de arrecadação, ao atrair mais turistas estrangeiros e portanto, a despejar milhares de dólares e euros, em nossa economia.
Quanto à possibilidade de viciar uma pessoa, sim, isso é possível. Mas se a cada esquina há uma agência lotérica oficial, parece tal realidade não incomoda aos mesmos moralistas de plantão. Está mais do que na hora em abolirmos a hipocrisia na sociedade. 

Nesse sentido, comparece a um estabelecimento dessa natureza, quem assim desejar e nenhum governo deveria determinar se isso é certo ou errado, para tratar o cidadão como uma criança pequena, e incapaz de fazer as suas próprias escolhas.
 
Já pelo aspecto contábil, fica a enorme ressalva que se não for muito bem controlado e sobretudo transparente, é um perigo enorme que por trás das roletas haja uma lavanderia de dinheiro sujo e que esta transforme tal recurso escuso para retroalimentar a política suja.
Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica, em 2013.

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