quarta-feira, 27 de novembro de 2013

O Caso de Person S/A - Por Luiz Domingues

Eu sou muito fã do cinema brasileiro, desde sempre, e sou de uma geração mais antiga, portanto, não comecei a acompanhar apenas depois do famoso "boom" gerado pelo filme : "Carlota Joaquina", em plena Era Pós governo Collor. Na verdade, tenho esse apreço desde criança, com a infância vivida nos anos sessenta, e dessa forma, certamente um dos filmes que mais impressionou-me nessa década, foi uma história baseada em fatos reais, denominada : "O Caso dos Irmãos Naves". E daí em diante, pus-me a conhecer as demais obras do diretor desse filme, e tornei-me seu fã.

Tratou-se de um cineasta paulistano chamado : Luiz Sérgio Person, que não foi um autor de um sucesso apenas, mas pelo contrário, criou e muito bem, outros filmes significativos para o cinema brasileiro. Nascido em 1936, na cidade de São Paulo, Person ainda quando foi adolescente realizou cursos de interpretação, ao visar inicialmente tornar-se um ator. O seu seu foco fora o cinema, no entanto, o teatro (e também a TV), entrou em sua vida, primeiramente ao conceder-lhe uma bagagem interessante para o cinema, posteriormente, visto que ele obteve a oportunidade para dirigir, muito cedo. Atuou como ator em pequenos papéis nos filmes : "Cais do Vício" e "A Doutora é Muito Viva", no ano de 1956.

Escreveu o roteiro em parceria com Alfredo Palácios (e também atuou como assistente de direção e ator), do filme : "casei-me com um Xavante", em 1957, e a seguir, dirigiu enfim, o seu primeiro longa, denominado : "Um Marido para Três Mulheres". Através de uma uma guinada radical, abandonou por um bom tempo o mundo artístico, para ir trabalhar na indústria.

Entretanto, ele pode voltar com tudo para a sétima arte, com muita vontade para mergulhar no celuloide, pois em 1961, mudou-se para Roma, com o objetivo em matricular-se no curso de cinema do "Centro Sperimentali di Cinematografia (CSC).

Fã ardoroso do grande cineasta italiano, Michelangelo Antonioni (eu também sou !), Person estudou e experimentou muito na cidade eterna. Foi o momento certo, no lugar certo, com a cidade a respirar cinema por todos os poros, ou por todas as fontes da Dolce Vitta. Na pátria do Neorrealismo, Person produziu; dirigiu e roteirizou em parceria com os seus colegas de curso, o curta : "Al Ladro", em 1962, ao usar e abusar das ruas de Roma como set, e utilizar atores amadores, e gente desavisada da rua para atuar sob improviso, na melhor tradição dessa escola cinematográfica, pródiga em desnudar a realidade. Esse curta representou a Itália nos festivais de Veneza e Bilbao (Espanha). Ainda como trabalho no curso da CSC, realizou "L'ottimista Sorridente" e "Il Palazzo Doria Panphili", em 1963.

Historiadores costumam dizer que a sua curta experiência como executivo de uma indústria (Person / Bouquet), foi decisiva para escrever o roteiro de "São Paulo S/A" (que em seu primeiro título, chamar-se-ia previamente : "Agonia"). Particularmente, eu concordo com essa observação, porém em termos, pois nesse filme, outras influências decisivas impuseram-se. Sem a arguta observação de Person, em relação à psique do ser humano, o filme não teria sido tão rico em sua resolução final. Se o massacre da sociedade industrial de alto consumo, foi a linha mestra do filme, não creio que só por ter conhecido o mundo corporativo na pele, teria fornecido-lhe tantos elementos para criar um filme tão brilhante. Foi nessa somatória, onde a experiência como ator e diretor de Teatro e TV; além dos filmes de Antonioni e o Neorrealismo italiano como um todo que o influenciou, foram elementos decisivos. Person lançou enfim (em 1964), a sua primeira obra-prima : "São Paulo S/A".


Um impressionante retrato do massacre capitalista; da sociedade de consumo; da hipocrisia; do status social; da futilidade atroz, mas sobretudo, um estudo sobre o vazio do homem contemporâneo, vítima de tudo isso que descrevi, e muitos outros fatores inerentes.

Mediante atuações espetaculares da parte de seus atores principais (talvez a melhor atuação da carreira de Walmor Chagas, no cinema); ótima edição; roteiro; fotografia; e trilha, trata-se de um filme que impressiona muito, e na minha opinião, está entre os melhores da história do cinema brasileiro. Super premiado, inclusive internacionalmente (Pesaro - Itália e Acapulco - México), tal obra solidificou Person como cineasta, no cenário brasileiro.

Com a responsabilidade desse êxito, Person não intimidou-se e seu próximo longa foi tão bom quanto, para dignificar ainda mais a sua carreira. Nesse ínterim, ocorreu que nessa época, Person foi sondado para filmar um longa com o astro da Jovem Guarda, Roberto Carlos, a atuar como protagonista, em uma tentativa para seguir os passos de Elvis Presley e dos Beatles, sobretudo, ao usar o cinema como plataforma extra de popularização da carreira musical. A ideia seria produzir-se um filme de ação, também a aproveitar a incrível onda de sucesso que os filmes do agente James Bond / 007 ostentaram naquela época, no mundo inteiro.


Então, Person deixou momentaneamente o projeto :"O Caso dos Irmãos Naves" de lado e foi trabalhar nesse roteiro para o "Rei da Juventude", junto com Jean Claude Bernadet e Jô Soares. Tal filme com Roberto Carlose o filme estava com o nome provisório ainda, a chamar-se : "SSS Contra Jovem Guarda". Contudo, as negociações não lograram êxito, e o projeto foi abortado, ao fazer com que Person e Bernadet mergulhassem então em "O Caso dos Irmãos Naves", e no ano seguinte, Roberto Carlos entraria enfim nas salas de cinema com : "Roberto Carlos em Ritmo de Aventura", dirigido por Roberto Farias, e aliás, para honrar as tradições de Elvis Presley, em torno de suas três máximas cinematográficas : 

1) Dar soco em bandido; 
2) Cantar uma canção; 
3) Beijar uma garota...

Em "O Caso dos Irmãos Naves", Person recorreu à atuação do roteirista, Jean Claude Bernadet, para contar a história real de dois irmãos mineiros, que nos anos trinta haviam sido vítimas de um erro judiciário terrível, e muito pior que a injusta condenação de ambos por um crime que sequer ocorreu, foram vítimas de terríveis torturas e humilhações múltiplas.

Inacreditável a coragem em filmar essa história chocante sobre a arbitrariedade, em um momento crucial em que o regime governamental começara a endurecer para valer no Brasil e portanto, a metáfora do filme, fora quase explícita em torno da injustiça alicerçada por arbitrariedade.

Sucesso absoluto de crítica e público, tal obra arrebatou inúmeros prêmios, inclusive para os atores, onde destaco a atuação de Anselmo Duarte, que nos anos cinquenta fora estigmatizado por papéis a viver "galãs" em produções das companhias, Vera Cruz, e da Atlântida, mas nesse filme parece ter incorporado um demônio, ao interpretar o sádico delegado, obcecado em forjar as falsas confissões dos irmãos Naves, mediante torturas bárbaras. 

Depois de dois sucessos retumbantes, Person deu-se ao luxo de atuar como ator em filmes de outros diretores. Por quê não, se ele era ator, também ?

E foi assim em "Anuska, Manequim e Mulher", de Francisco Ramalho Junior; "O Quarto", de Rubem Viáfora e uma surpresa... a atuar no episódio, "O Fabricante de Bonecas", do longa : "O Estranho Mundo de Zé Caixão", de José Mojica Marins, o popular "Zé do Caixão". Muito amigo de Mojica, Person recebeu o convite para dirigir um episódio em outro longa denominado, "Trilogia do Terror". Assinou então, o episódio : "A Procissão dos Mortos".

Em 1969, ele lançou : "Panca de Valente", mas esse projeto na verdade estava engavetado desde 1968.


A ideia foi produzir um filme ao estilo "western", onde influências múltiplas far-se-iam presentes. Ao misturar as chanchadas da Atlântida ("Matar ou Correr", sem dúvida); westerns norteamericanos clássicos, spaguetti western (Sergio Leone, é óbvio); e uma dose de experimentalismo implícito, Person causou estranheza com essa árida ambientação retratada em preto e branco. Para usar uma expressão típica da época, a crítica estigmatizou-o como um filme : "sem pé, nem cabeça". Perdoem-me críticos, mas eu gosto...

Infelizmente, como fazer arte no Brasil é bastante difícil, Person que estava recém casado, e logo foi pai de duas meninas, precisou embarcar no mercado publicitário para ganhar dinheiro. Logo de cara, em 1969, já ganhou um prêmio por um comercial de bastante sucesso que realizou, para uma rede de loja de pneus.


Person voltou a atuar como ator, em 1970, inserido no filme, "Audácia", de Antônio Lima e Carlos Reichenbach, e concomitantemente garantiu-se financeiramente como diretor de comerciais para a TV, até que em 1972, ele soube que o seu filme, "O Caso dos Irmãos Naves" estava a angariar um tremendo sucesso em recentes exibições na cidade de Nova York. Animado, viajou para lá e com o roteiro de um novo filme em mãos, que estava pronto desde 1967, "A Hora dos Ruminantes". Não deu certo, infelizmente, essa tentativa, mas ao menos os norteamericanos impressionaram-se com "O Caso dos Irmãos Naves", ainda que tardiamente. Em 1973, finalmente ele lançou um novo longa metragem : "Cassy Jones, o Magnífico Sedutor".
Nos compêndios de cinema, "Cassy Jones, O Magnífico Sedutor" é geralmente rotulado como uma "pornochanchada dos anos setenta". Sim, existe o elemento sensual / erótico no filme, mas ao meu ver, o filme vai muito além disso. Em minha humilde opinião, existe elementos anárquicos nesse filme, que muito o aproximam de trabalhos de diretores estrangeiros como Roger Vadim e Al Ashby.

Nesses termos, "Cassy Jones" dialoga com "Barbarella" e "Ensina-me a Viver", só para citar um trabalho de cada um dos diretores internacionais, que eu citei. A crítica não entendeu e infelizmente diminuiu a importância do filme à época. E digo de novo : eu gosto...

Person continuou a trabalhar com comerciais e a dividir-se em aulas de cinema que ministrava e produções teatrais, mas infelizmente, no início de 1976, ele sofreu um acidente automobilístico, que ceifou-lhe a vida, ocorrido na rodovia Régis Bittencourt, que liga São Paulo a Curitiba e Porto Alegre.


Ele Deixou duas filhas pequenas, que anos depois tornaram-se apresentadoras famosas na TV, e ambas a militar no mundo do cinema, e produção audiovisual em geral como seu pai, ao honrar o DNA da família, representadas por Marina e Domingas Person.

Lamento muito que o ótimo Person, não esteja mais entre nós, não apenas pela óbvia falta que faz, como pessoa, ao ter ido para o "outro lado", tão cedo (ele morreu um mês antes de completar quarenta anos de idade), entretanto, também por não ter produzido tanto quanto desejar em sua carreira, vítima do descaso absoluto que o Brasil tem por seus artistas, mas não vou estabelecer aqui o discurso óbvio, neste momento, sobre o que penso sobre a forma com a qual lida-se com a educação e cultura neste país. Prefiro afirmar que Luiz Sérgio Person foi um tremendo diretor de cinema; ator; roteirista; produtor; agitador cultural; homem de teatro; TV; cinema; mundo publicitário; professor etc. E claro, eu recomendo com ênfase os seus filmes, que citei ao longo desta matéria.



Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu, e republicada na Revista Eletrônica Cinema Paradiso, número 347, ambas em 2013

sábado, 23 de novembro de 2013

Prazer e Dor - Por Luiz Domingues

A questão da alimentação vegetariana, versus hábitos carnívoros da maioria das pessoas, sempre gerou controvérsia. A despeito do movimento vegetariano ter crescido vertiginosamente nos últimos anos, ainda existe um escárnio por parte de não adeptos desse tipo de alimentação.

Não faz muito tempo, havia um comercial de TV que ironizava desdenhosamente os vegetarianos, ao reduzi-los à idiotia, em detrimento dos carnívoros convictos, que estes sim, mantinham, segundo o texto escrito pelo famigerado "formador de opinião", uma vida saudável e feliz, justamente por estarem alimentados por proteínas animais. Um pseudo "Guru", pálido e dotado de uma voz monocórdica, dizia ser feliz por alimentar-se com a ingestão "brotos de bambu", ao contrastar com a imagem de jovens bonitos e bem vestidos, a jantar em uma churrascaria. Sem dúvida, um golpe muito baixo, ou no mínimo "deselegante", como diria aquela jornalista da TV... bem, embora eu seja vegetariano, jamais fui um  "militante da causa".



Apenas não consumo carne na minha alimentação, ao abster-me de qualquer ação no sentido para tentar "convencer" outras pessoas de que o meu hábito é mais "saudável"; mais "humano" em relação à crueldade perpetrada contra os animais etc. Posto isso (tomo esse cuidado por que jamais escrevi sobre esse tema anteriormente, e tenho uma certa reserva em relação ao radicalismos adotado por parte de adeptos do vegetarianismo), chamou-me a atenção o fato de que a Câmara Municipal de São Paulo, acaba de aprovar uma Lei que está a gerar bastante polêmica, mesmo com a ressalva de que o prefeito ainda tem o poder de veto final, e convenhamos, será bastante pressionado pelo setor que será prejudicado diretamente se a Lei for sancionada. Estará proibida a comercialização de "Foie Gras" nos restaurantes da cidade, e venda no comércio.

Ora, uma Lei radical desse porte, prejudica uma infinidade de pessoas. A começar pelos restaurantes especializados em culinária francesa, que são inúmeros em São Paulo, ao amplificar-se sobre a rede de comércio que lida com tal produto, e evidentemente, ao abranger a sua cadeia produtiva primordial, ou seja, os criadores de patos e gansos. Essa iguaria, o Foie Gras, é um alimento que remonta a remota antiguidade. Há registros de seu consumo, datados de dois mil e quinhentos anos antes de Cristo.

Os romanos, chamavam a iguaria como : "iecur figatum", que significa "fígado engordado com figo". Era uma alusão ao fato de que o fígado de patos; gansos e marrecos, ao ser inchados pelo hiper consumo de figos, tornavam-se saturados pela gordura natural em excesso, portanto, a tornar-se muito mais saborosos, ao adquirir o tom amanteigado, segundo os gourmets. Tal hábito solidificou-se, Idade Média adiante, e tornou-se um ícone da culinária francesa, portanto associado a uma aura de alimentação sofisticada.

Na prática, o Foie Gras é o fígado dessas citadas aves, adulterados por uma hiper alimentação. Nessa disfunção hormonal advinda dessa prática cruel, o objetivo é alcançado quando o fígado satura-se com gordura, ao torná-lo mais "apetitoso". Ora, para que o fígado desses animais chegue nesse estágio, a alimentação forçada em que essas aves são submetidas, não é nada agradável.

É inacreditável o mal estar que é impingido-lhes nesse processo, ao tornar a sua pobre vida, um martírio. E sem intenção em fazer afirmações panfletárias, mas inevitavelmente ao cometê-las, a pergunta é : que vida ?

Se tais aves são encaradas meramente como um produto de consumo, que preocupação tais produtores teriam em proporcionar-lhes bem estar, e a perspectiva de uma vida feliz na natureza, com direito a uma morte natural ? O que o empresário ganha com isso ?

A discussão é ampla, eu sei. Não vou perder tempo para falar de outras práticas cruéis perpetradas contra outras espécies, para não perder o foco, embora a raiz seja a mesma. Em 2004, o governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, proibiu o consumo de Foi Gras obtido com métodos cruéis, nesse estado.


Leis semelhantes estão em vigor em quinze países, a maioria localizados na Europa, com exceção de Argentina e Israel, signatários da mesma causa. Os produtores alegam que é da natureza das aves, armazenar alimentos. Outro argumento que usam para defender-se, trata sobre a elasticidade natural da garganta deles, que teoricamente faz com que o método em empurrar-se uma carga impressionante de alimentos goela abaixo, não income-lhes, pois assim não sentem ânsia. Será ?

Bem, há muito o que evoluir nessa relação entre o homem e o animal. Reconhecer que os animais são seres vivos, e embora não tenham a sofisticação do raciocínio dos humanos, sentem dor; angústia e medo, talvez seja um primeiro passo. É possível sobreviver a alimentarmo-nos de outras fontes da natureza, sem ter que recorrer às vísceras dos animais ? Claro que sim, e o vegetarianismo está em expansão geométrica no mundo, para comprovar tal preceito.

Portanto, embora muita gente esteja profundamente indignada e a sentir-se prejudicada (claro que assim sentir-se-ão mesmo, nesses termos), parece que a Lei proposta pelos vereadores de São Paulo, tem um sentido libertário, além dos hábitos alimentares arraigados desde a antiguidade. É muito invasivo ao meu ver, afirmar para uma pessoa que aprecie tal alimento, que deixe de consumi-lo, mesmo que haja uma forte argumentação humanitária em pauta.

Todavia, século XXI em curso, não dá mais para conviver com certas práticas que envolvem essa morbidez, com requintes de crueldade, humilhação etc. Façamos o seguinte, então : que tal buscar outros prazeres na culinária ? Dá, ou não dá para viver sem o Foie Gras ?
Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica, em 2014

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Kim Kehl & Os Kurandeiros - Dia 23/11/2013 - Sábado - 21:00 h. - Santa Sede Rock Bar - São Paulo

Kim Kehl & Os Kurandeiros

Dia 23 de novembro de 2013

Sábado - 21:00 h.

Santa Sede Rock Bar

Avenida Luiz Dumont Villares, 2104

Santana - Estação Parada Inglesa do Metrô

São Paulo - SP

KK & K :

Kim Kehl - Guitarra e Voz
Carlinhos Machado - Bateria e Voz
Luiz Domingues - Baixo

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Massao Ohno, o Grande Editor - Por Luiz Domingues

Muito fala-se que o sucesso de um grande artista não depende somente do seu talento pessoal, e isso é verdade. No campo da música, muitas vezes nada daria certo, se não houvesse aparecido um empresário carismático, como o "Colonel" Tom Parker (Elvis Presley); Brian Epstein (The Beatles), ou Peter Grant (Led Zeppelin). No cinema, os exemplos sobre diretores; produtores; roteiristas, e atores que foram primordiais uns em relação às carreiras dos outros, preenchem um compêndio. Tal fenômeno estende-se igualmente no campo das Artes Plásticas (teríamos a genialidade de Van Gogh, sem o suporte do seu abnegado irmão, Theo ?); no teatro; na dança...

E na literatura, não haveria de ser diferente, com o escritor genial, a correr o risco em ter seus trabalhos engavetados, e condenados ao mofo do esquecimento, se não houvesse editores apaixonados pelos livros. Essa foi portanto, a sorte de muitos escritores brasileiros, que encontraram em suas respectivas carreiras, um editor paulistano chamado : Massao Ohno. Filho de imigrantes japoneses, Massao Ohno nasceu em São Paulo, no ano de 1936.

Formou-se como dentista, mas a sua paixão revelara-se clara pelos livros, e sendo assim, eis que ele abriu uma pequena gráfica em sua residência localizada na rua Vergueiro, bem no ponto onde hoje em dia fica o Centro Cultural São Paulo. Indo além da parte gráfica tradicional, Ohno tornou-se um inovador no campo das artes gráficas, e ao longo de décadas, produziu capas e formatos muito criativos para as obras que editava, ao dar-lhes um verniz visual, além do conteúdo das letras. No início, Massao usou a sua gráfica para produzir apostilas estudantis, principalmente para cursos pré-vestibulares. Mas logo tal atividade para gerar apenas o seu fomento, cederia espaço para lançamentos literários ousados.

Como editor independente, Massao Ohno fundou uma editora homônima, e lançou dessa forma, ao longo de cinco décadas, inúmeros autores que dificilmente teriam oportunidade em editoras tradicionais. Claro, depois que alguns desses escritores haveriam por tornar-se autores cultuados, certamente que seriam convidados a ingressar em editoras com um maior porte, todavia, em um momento inicial, isso seria quase impossível, exatamente como acontece, no mundo fonográfico, em relação aos artistas musicais desconhecidos. Graças à Massao Ohno, a cena formada por jovens autores do movimento Beat paulista, pode ser lançada.



Escritores do calibre de Claudio Willer; Roberto Piva; Álvaro Alves de Faria; Carlos Felipe Moisés; Eunice Arruda, entre outros, foram lançados na "Antologia dos Novíssimos", em 1961, ao abrir o caminho para todos eles.

Foi o caso da polêmica Hilda Hist, igualmente. Ohno editou diversos trabalhos da escritora, inclusive da sua fase dita "erótica", onde ele foi duramente criticada, e de certa forma execrada por outros editores conservadores. 

Eclético, Ohno não radicalizou a sua carreira em torno de sua condição independente, apenas. Ele colaborou com coproduções, muitas vezes, a trabalhar com outros editores, além de trabalhar em uma editora de porte maior, como a Editora Civilização Brasileira, onde sob uma parceria salutar, aproveitou a oportunidade para distribuir melhor os seus lançamentos provenientes de sua pequena editora.

Segundo José Mindlin, um dos maiores experts em livros do Brasil, Massao Ohno foi um brilhante artista gráfico, e que produziu muitos livros a criar inovadoras capas, através do uso de papel, e cortes na "faca"(para quem entende o jargão das artes gráficas, sabe o que significa). Por falar nisso, Ohno usou muitas vezes obras de grandes artistas plásticos para ornar capas. Artistas como Wesley Duke Lee; Arcângelo Ianelli; Manubu Mabi, e Aldemir Martins, entre outros, tiveram as suas obras divulgadas, além de ilustradores e cartunistas como Jaguar e Millôr Fernandes.

Ohno embrenhou-se também no mundo do cinema e produziu dois longas-metragem muito significativos nos anos 1960 : "Viagem ao Fim do Mundo", de Fernando Coni Campos, de 1967; e "O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, de 1968. Nada mau, portanto...

Como descendente nipônico, lançou um dicionário Português-Japonês, que tornou-se referência, em parceria com a Aliança Cultural Brasil / Japão. Além do dicionário, lançou também uma série de livros didáticos nesse intercâmbio educacional, nipo-brasileiro. Massao Ohno faleceu na cidade de Sorocaba, no interior de São Paulo, em 2010. Faz muito falta um editor desse quilate, sobretudo pela coragem para bancar artistas novos, e muito talentosos da literatura, e com o requinte para proporcionar-lhes uma identidade visual criativa, e muito caprichada.

Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu, em 2013

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Kim Kehl & Os Kurandeiros - Dia 15/11/2013 - Sexta - The Pub - Rua Augusta, 576 - SP

Kim Kehl & Os Kurandeiros

Dia 15 de novembro de 2013

Sexta-Feira - 23:30 h.

The Pub

Rua Augusta, 576

Consolação

São Paulo - SP

Kim Kehl & Os Kurandeiros :

Kim Kehl - Guitarra e Voz
Carlinhos Machado - Bateria e Voz
Luiz Domingues - Baixo