quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Gás; Crueldade e Covardia - Por Luiz Domingues

Assunto controverso, é a questão da ética praticada em um cenário de guerra. Pois é, se existe ética dentro da perversa insanidade que é uma guerra, é louvável que haja no mínimo esse esforço humanitário para estabelecer regras de conduta, e assim minimizar-se assim os abusos.

Contudo, é quase impossível coibir tais abusos, ao ter-se em conta que em conflitos dramáticos desse porte, não há tempo para focar em tais atos; arrolar provas; sensibilizar a opinião pública etc. Com morte e mutilações por todos os lados, como fazer para reparar as atrocidades cometidas no calor dos embates ? Já na Idade Média, São Tomás de Aquino dizia que uma guerra só seria válida se o motivo fosse muito justo. Sim, parece óbvio, mas no seu significado filosófico, existe uma profundidade nessa colocação.
Mais próximo de nós, um suíço chamado, Henri Dunant, criou a Primeira Convenção de Genebra, em 1863, ao estabelecer as regras para os conflitos bélicos. 

Seguiu-se ao tal documento, outras Convenções de Genebra, até a última, de 1977, com regras para a conduta militar; trato com prisioneiros; ações da cruz vermelha, e principalmente no resguardo das populações civis, durante os conflitos militares. Um grande avanço da civilização, não vou negar, mas ao olhar pelo viés da realidade nua e crua, o ideal é que não exista conflitos, simples assim...

No início do século XIX, foi criado em laboratório, o chamado "Gás Iperita", ou "Gás de Mostarda". A sua ação devastadora, provoca queimaduras terríveis na pele, e causa asfixia letal, ou seja, apenas isso...



Alguns anos depois, no calor da I Guerra Guerra Mundial, o Gás de Mostarda dizimou milhares de soldados nas trincheiras daquele conflito, que arvorou-se em ser "a guerra que acabaria com todas as guerras"...

Proibido pela Convenção de Genebra, não eliminou a possibilidade no entanto, de outros gases serem usados na II Guerra Mundial.


O exército japonês, por exemplo, mantinha o terrível laboratório denominado como : "Unidade 731", onde os seus cientistas trabalhavam a todo vapor, na criação de outras modalidades gasosas, e dotadas de um poder letal ainda maior.

Infelizmente, a nobre Convenção de Genebra não evitou que os americanos usassem o terrível agente laranja, um herbicida letal e devastador, sobre a população do Vietnã, no conflito ocorrido nas décadas de sessenta e setenta. Na terrível guerra Irã / Iraque, em 1980, armas químicas foram usadas com profusão, sob uma desumanidade sem tamanho.

A onda de terrorismo criou o medo bacteriológico do agente Anthrax. Veja uma possível cena do cotidiano : você recebe uma carta pelo correio, abre o envelope, e contamina-se com uma guarnição paramilitar formada por micróbios ultra violentos... que ótima notícia, não é ?

Israel vive em alerta sobre ataques desse porte, e a população é treinada desde a tenra infância, para proteger-se com o uso de máscaras etc.


Recentemente, vimos cenas dramáticas no jornalismo, ao mostrar  imagens com crianças a estrebuchar, literalmente, em plena agonia de morte, após um ataque de Gás Sarin, na Síria. Confesso, foi uma da cenas mais cruéis e comoventes que eu assisti na vida, tal ocorrência inacreditável a atingir crianças na fixa etária entre cinco e seis anos de idade, a morrer daquela forma, somente porque cometeram o deslize em acordar naquela manhã e ir para a escola.

Conflitos envolvem ações radicais de quem sente-se prejudicado e ofendido. Se o conflito militar é inevitável, existe regras, para tentar garantir um mínimo de resguardo para a população civil, e a dignidade dos soldados. E dentro dessa tentativa para minimizar o horror, onde fica a ética na questão do uso de gases letais ?

Qual a justificativa para lançar-se gás Sarin sobre uma escola, e matar dezenas de crianças pequenas ? É de uma canalhice sem precedentes, e sem maiores comentários, para preservar o meu estômago.
Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica, em 2013

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