quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A Bolívia é Logo Aí - Por Luiz Domingues

A Bolívia é o país mais pobre da América do Sul, e um dos mais carentes do mundo. As suas riquezas naturais, mal suprem as necessidades básicas de seu povo, e chega a ser engraçada a reação de algumas pessoas que esbravejaram, quando o seu atual presidente tomou medidas radicais para valorizar uma das únicas fontes de renda daquele país, o seu gás, anteriormente comercializado abaixo do preço mínimo. Com uma população a contabilizar mais de 95 % em torno da etnia indígena, a Bolívia foi governada em quase toda a sua história, até aqui, pela minoria caucasiana de sua população, com um tipo de domínio que acintosamente nunca prestigiara os interesses da sua imensa maioria da população, infelizmente.

Diante de tais circunstâncias dramáticas, tornou-se natural que a sua população optasse em evadir-se da pátria, para buscar melhores condições de vida nos países vizinhos, mais abastados. Em um primeiro instante, Argentina e Uruguai foram os destinos mais procurados, pela óbvia possibilidade de uma adaptação mais amena, ao levar-se em consideração o uso comum da língua castellaña, como legado da colonização espanhola, em comum entre tais nações.

Todavia, aos poucos, o Brasil começou a ser uma opção melhor, por conta da oportunidade de emprego; moeda mais forte, estabilidade da democracia a se consolidar-se, e um fator extra, a típica reação de simpatia do brasileiro para com estrangeiros, um elemento que na Argentina, por exemplo, fora um empecilho, muito pelo contrário. Nos anos 1980, o fluxo gerado pelos bolivianos aumentou consideravelmente, mas foi a partir dos anos noventa, que os bolivianos ficaram mais visíveis na sociedade brasileira, notadamente nos estados de Mato Grosso do Sul e São Paulo.

No caso da capital paulista, o fluxo pôs-se a aumentar de tal maneira, que o assentamento desse contingente passou a ocupar bairros inteiros, para provocar a geração de maiores oportunidades de trabalho, para suprir as necessidades de tal comunidade. Comércio e serviços direcionados aos bolivianos, podem ser vistos aos montes, em bairros como : Bom Retiro; Pari; Brás; Canindé e Belenzinho, com placas escritas em castellaño por todos os lados.

Existe inclusive a famosa feira dominical no bairro do Canindé, próximo ao estádio da Portuguesa de Desportos, que cresceu tanto, ao ponto de tornar-se uma atração cultural muito positiva da cultura desse povo. Todavia, nem tudo são flores para essa população imigrante. Por muitos anos, a maioria dessas pessoas veio ao Brasil, sob condições inóspitas, para submeter-se à condições degradantes de trabalho e subsistência.
Geralmente a trabalhar no ramo têxtil, a maioria trabalhou por anos a fio em regime de semiescravidão, sem documentos oficiais a garantir a sua permanência e tampouco a conter permissão de trabalho no Brasil. E por estar na ilegalidade, tais pessoas formam explorados por pessoas inescrupulosas, que amontoou-lhes em cubículos insalubres, a trabalhar por até dezesseis horas por dia e somente a repassar-lhes um salário abaixo do valor do salário mínimo vigente, e a cobrar-lhes as suas despesas pessoais, de maneira que sob um círculo vicioso, jamais conseguissem libertar-se, e possuir assim, o direito a portar documentos em ordem, e consequentemente, poder aspirar colocações melhores no mercado de trabalho, e sobretudo, uma condição de vida, digna. 

Aos poucos, com a pressão popular, mais os esforços da Polícia Federal; Ministério do Trabalho e das Relações Exteriores, mais o apoio Embaixada e Consulados da Bolívia no Brasil, tal força tarefa desbaratou quadrilhas que exploravam esses pobres imigrantes. Digno de nota, também é o esforço de organizações não governamentais que atuam com bastante contundência na defesa de imigrantes com dificuldades prementes, no Brasil. Os números oficias do IBGE e da Embaixada boliviana, não refletem a realidade da população boliviana no Brasil, justamente pelo fato da sua imensa maioria estar clandestina por aqui.

Segundo estimativas, apenas na cidade de São Paulo, existe uma população com cerca de quatrocentos mil bolivianos residentes. Ora, é quase a população de uma cidade interiorana com grande porte, como São José do Rio Preto (SP), ou Juiz de Fora (MG), para citar só dois exemplos de ótimas cidades interioranas do Brasil. Basta ficar por alguns minutos na rodoviária da Barra Funda, em São Paulo (para quem não conhece São Paulo, esclareço que existem três rodoviárias na cidade, e esta da Barra Funda, recebe ônibus que vem de cidades do oeste do estado, e de estados do centro / oeste brasileiro), para comprovar que não param de chegar ônibus lotados com famílias bolivianas a bordo, diariamente.

Tenho muito respeito e simpatia por esses imigrantes, e para ir além, sensibiliza-me a sua vontade para buscar o Brasil ao visar obter melhores condições de vida. Em sua esmagadora maioria, são pessoas humildes; trabalhadoras e muito pacatas. A índole do boliviano é da melhor qualidade, e acho que são merecedores do nosso apoio. Ainda estamos longe em erradicarmos o trabalho escravo pelo qual que muitos imigrantes estão submetidos, mas faço votos de que isso acabe, e esse povo possa viver em paz, a trabalhar e viver com dignidade.

Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica, em 2013

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Muito legal saber que a leu e apreciou-a. Mais um drama social para a conta do Brasil, é o ônus do progresso, atrair imigrantes ilegais em busca de um lugar ao sol.

      Guardadas as devidas proporções, o Brasil está virando uma atraente saída para vários povos oriundos de nações que vivem em dificuldades, principalmente os sulamericanos pela proximidade geográfica, exatamente como os Estados Unidos sempre foram, também.

      Grato por ler, comentar e elogiar !

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