sábado, 11 de janeiro de 2014

Klatu, Além do Infinito - Por Luiz Domingues

Em 1951, um extraordinário filme ao estilo Sci-Fi foi lançado, assinado pelo grande diretor, Robert Wise, mas ao contrário da imensa maioria de seus pares, não foi concebido para construir em seu roteiro a típica mentalidade norteamericana em manter-se sob o sinal de alerta permanente contra ataques e invasões de alienígenas hostis, e estes a apresentar planos de domínio e / ou aniquilação do planeta Terra.
"The Day the Earth Stood Still" ("O Dia em que a Terra Parou") mostrou a chegada de um alienígena chamado : "Klaatu", a estabelecer uma missão de paz, ainda que na sua pauta, houvesse a dura e realista advertência para que os humanos parassem de auto  destruir-se com armas cada vez mais devastadoras.


A mensagem de paz e protesto à guerra fria e sua inerente paranoia nuclear, tornou o filme um clássico do gênero.

Muitos anos depois, após a explosão ca cultura Beat, a contracultura amalgamou-se com diversos outros elementos, para tornar a sua diversidade, um estimulante caldo mediante manifestações artísticas, ou seja, uma verdadeira mônada que deu todo o sentido ao Flower Power sessentista, ao explodir em cores; sons; lisergia e metafísica.


Corte brusco...

Agora falo sobre a cidade de São Paulo, logo no começo dos anos noventa, época onde eu, pessoalmente, notei uma mudança significativa na mentalidade de uma nova safra de alunos que começou a aparecer em minha sala de aulas, quando eu ministrava aulas de baixo. Ao contrário do tipo de aluno que estava habituado a lidar (com garotos aficionados de Hard-Rock e Heavy-Metal oitentistas, em sua maioria), essa nova safra noventista demonstrou possuir um impressionante interesse pelo Rock das décadas de sessenta e setenta, e claro que facilitou demais a minha vida em todos os sentidos, pois esses novos garotos falavam a minha língua contracultural, enfim...

Um desses jovens garotos que iniciou as suas aulas comigo, logo em 1992, chamava-se : Alexandre Peres Rodrigues, que ostentava o apelido, "Leco". 

Alexandre "Leco" na minha sala de aulas nos anos noventa. Emblematicamente, ele encontra-se no centro da foto a gesticular a saudação : "Klaatu Barada Nikto", observada no filme, "The Day the Earth Stood Still", que o influenciaria muitos anos depois, ao criar a sua banda, "Klatu", grafada com um "A" a menos, para não ter problemas jurídicos óbvios. Na mesma foto, Carlos Fazano de camisa lilás e Marcos Amon, a usar camiseta do Corinthians. Click e acervo : Luiz Domingues


Muito interessado na estética 1960 / 1970, ele demonstrara também conhecimento significativo sobre literatura e cinema Sci-Fi; Cultura HQ; e à medida que o tempo avançou, não só mergulhou inteiramente em tais ideias misturadas, como acrescentou outros ícones contraculturais análogos, ao enriquecer o seu arquivo pessoal de cultura. Muito inteligente e gentil, tornou-se um entusiasta de toda a efervescência que a minha sala de aulas proporcionou nos anos 1990. Nessa época, ele já atuava em uma banda, chamada : "Eternal Diamonds", que apresentava o seu material próprio, apesar da pouca idade de seus componentes. De sua formação, além de Alexandre no baixo, o Eternal Diamonds manteve outros talentosos membros, como Rodrigo Hid (futuro Sidharta; Patrulha do Espaço e Pedra), e Fernando Minchillo (futuro Carro Bomba e Baranga). Tal grupo chegou a gravar uma demo tape e arregimentar um pequeno portfolio com material de imprensa, mas a banda encerrou as suas atividades. Rodrigo foi tocar comigo no Sidharta, que culminou posteriormente na volta da Patrulha do Espaço à cena artística, onde atuamos juntos por muitos anos, e a parceria prosseguiu, no Pedra. Fernando tocou no"Soulshine", banda embrião do que hoje é o "Tomada", antes de ingressar no "Carro Bomba" e posteriormente teve passagem pelo "Baranga". Alexandre, foi tocar no "Supernova"(com Carlos Fazano), uma banda a propor um trabalho ultra baseado em estética sessentista e posteriormente montou uma banda orientada pela escola do Soul / Funk sessenta / setentista, chamada : "Molho Inglês".


Ao lidar com essa sonoridade plena de groove movido pela Black Music, o "Molho Inglês" sedimentou as raízes de sua nova banda, denominada, "Klatu" (leia de novo os primeiros parágrafos desta matéria para ter outra visão sobre o que eu falei...). Com a clara intenção em levar adiante o Soul ultra dançante que fazia no "Molho Inglês", mas a agregar outros elementos, o Klatu nasceu sob a égide da cultura Sci-Fi, daí o seu nome a evocar o personagem fantástico do alienígena pacifista vivido pelo ator, Michael Rennie, no filme : "The Day the Earth Stood Still".

Klaatu Barada Nikto... Mr. Gort !

O primeiro álbum do Klatu chamou-se : "Em Busca do Rock Infinito".


A sonoridade do disco é um convite animador para quem aprecia o som das décadas de sessenta e setenta, sob várias vertentes. Lisergia; sofisticação Progressiva; Black Music; experimentalismos múltiplos; Riffs e solos infernais de guitarras & sintetizadores; e letras que investem forte na contestação de condicionamentos sociais detestáveis, além de uma dose de loucura, porque loucura pouca é bobagem...

Músicas como : "Teoria e Prática do Rock Infinito"; "Kuarta Dimensão"; "Opus 67 in J Bemol", e "Vai Acabar", tem sofisticação instrumental, a apresentar elementos claros das escolas do Prog Rock; Jazz-Rock; e experimentalismos muito interessantes. Nessa época, o Klatu ainda contava com o guitarrista, Vicente Carrari, em sua formação fixa. 

"Zé Eurico" é enigmática pelo título inusitado que não explica claramente quem seja tal personagem, mas em sua letra, chama-me a atenção pelo seu caráter que evoca a expectativa de um artista plástico em relação ao seu público, diante de uma obra abstrata, ou seja, penso nisso quando ouço uma frase que considero emblemática : "sem refrão, só por provocação, cada um pensa em sua versão"...

A música "Nunca é Tarde", chamou a atenção da cineasta, Laís Bodanzsky, que a incluiu na trilha de seu filme : "As Melhores Coisas do Mundo", o seu longa-metragem lançado em 2010. Com tal exposição midiática tão boa, muitas portas abriram-se para o Klatu, que só cresceu desde então. 

O segundo disco : "Um Pouco Mais Desse Infinito", mantém a banda nessa temática calcada na literatura Sci-Fi e pela sonoridade em torno das escolas  dos anos 1960 / 1970. 

Ao contrário do primeiro álbum, que foi recheado por músicos convidados, nessa segunda obra, o Klatu centrou-se mais na sua formação fixa, com poucas participações de convidados. Alexandre "Leco" no baixo e vocais; Carol Arantes no vocal principal e percussão;  André Barará na guitarra e Felipe Silva na bateria.

O disco é mais direto, sem o experimentalismo todo da primeira obra, mas continuou a investir em riffs setentistas fortes; groove dançante da Black Music, e letras a buscar o caminho da contestação, por usar o recurso da ironia, o que lembra bem o trabalho d'Os Mutantes e da Rita Lee dos bons tempos com o Tutti-Frutti.

O nível dos instrumentistas é muito bom; as canções são ótimas e a temática, idem. Todo o revestimento visual da obra do Klatu tem o elemento SCI-Fi; a lisergia pisicodélica e o Universo da HQ / Comics como mote central, ou seja, são atrativos a mais. No primeiro disco, a capa foi assinada pelo artista plástico / músico / web designer, Diogo Oliveira, do qual sou fã incondicional pelo seu quilate artístico inquestionável. No caso da segunda obra, a banda recorreu a um artista igualmente talentoso e das mesmas qualificações, Fábio Gracia, também um grande músico; artista plástico e web designer. Sob tão boas mãos, o projeto gráfico dos dois CD's ficou assegurado na evocação Sci-Fi, certamente.

Em ambos, a produção de estúdio; mixagem e masterização ficou a cargo de Renato Carneiro, um profissional que eu admiro e conheço bem, por ter sido o produtor dos dois primeiros discos do Pedra (banda da qual eu fui componente), e sei bem, depois de tantas horas de convívio em estúdio, que ele é um produtor que está além do patamar da competência profissional padrão, pelos conhecimentos técnicos de áudio, mas sobretudo pelo trato humano que é sensacional, com a total liberdade artística e interação nas ideias que gentilmente cede ao artista, nas decisões.

Conheça seu som doi Klatu, ao examinar a sua página no You Tube :

www.youtube.com/bandaklatu

No Facebook :

www.facebook.com/bandaklatu

O Klatu segue firme e forte, com a proposta em guiar-nos ao seu Rock Infinito, e espera que você o defina como quiser, exatamente como cantam na música, "Zé Eurico".





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