sábado, 1 de março de 2014

Cásper Líbero : Ícone do Jornalismo - Por Luiz Domingues



Existe um divisor de águas no jornalismo paulista, no tocante à cobertura esportiva e tal marco reside no nome de um jornalista chamado : Cásper Líbero, um desbravador. Nascido em 2 de março de 1889, na cidade de Bragança Paulista, interior de São Paulo, Cásper formou-se como advogado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

Como muitos jovens de sua época, ele cursou direito sem no entanto observar a vontade em tornar-se um advogado de fato, mas com a intenção em possuir uma profissão respeitável e assegurada, além da inerente boa formação intelectual que o curso oferecia, inclusive ao prover o inerente apuro em termos do bom uso da língua pátria. Dois anos depois de formado, ele foi ao encalço de sua verdadeira vocação, o jornalismo, e por uma via dupla, pois logo de início, também abraçou o empreendedorismo nos negócios, ao tocar uma organização com porte.

Estava fundado então o jornal : "Última Hora", no Rio de Janeiro, com Cásper Líbero no seu comando. Em 1912, criou em São Paulo, a primeira agência de notícias do estado, a "Agência Americana". No ano de 1918, Cásper comprou um pequeno jornal em São Paulo, chamado : "A Gazeta".

Entretanto, o seu plano fora ambicioso, pois mandou buscar na Alemanha, as mais modernas máquinas gráficas da época, e com tais rotativas em nível de primeiro mundo, ele desejou produzir com o seu jornal, uma potência para rivalizar com os concorrentes já sedimentados na capital de São Paulo. Porém, não ficou apenas em torno dessa iniciativa, pois ele mandou instalar o teletipo, ao substituir o telégrafo na redação, e creia, foi uma mudança tecnológica brutal para a época. Inovou também no quesito "lay-out", ao introduzir técnicas modernas em termos de gravuras, além de ter sido o pioneiro na introdução de uma impressão colorida para um jornal brasileiro.

Outra inovação importante foi no campo da logística. Com a introdução de uma muito bem engendrada equipe motorizada, conseguiu distribuir os jornais nas bancas, antes dos periódicos concorrentes e isso encantou o público leitor da época, acostumado à lentidão dos demais jornais, entregues com a lerdeza típica daquela época, via carroças puxadas pela tração animal, principalmente. Outra grande sacada de Cásper Líbero, foi intensificar os seus esforços para incrementar o caderno de esportes. A Gazeta Esportiva recebeu então o seu carinho especial e cresceu tanto que destacou-se, ao criar vida própria e daí abriu caminho para tornar-se assim, o principal jornal esportivo de São Paulo e um dos maiores do Brasil, ao lado do Jornal dos Sports, do Rio de Janeiro. 

O foco principal foi o futebol, é claro, mas a cobertura de todos os esportes mostrou-se completa e sob um rompante a denotar uma grande criatividade, Cásper Líbero teve a ideia em criar uma prova de rua, que movimentasse a cidade e que detivesse a chancela do jornal. A ideia primordial, foi realizar uma mini maratona pelas ruas da capital paulista, bem na noite de Reveillon, para aproveitar toda a comoção natural da efeméride, com o povo a festejar nas ruas, com champagne & fogos de artifício...

Batizada como "Corrida de São Silvestre" (Silvestre foi um Papa da Igreja Católica, que viveu no século IV, e tornou-se santificado, posteriormente), começou tímida, em 1925, com poucos participantes, mas rapidamente solidificou-se, para consolidar-se como uma tradição no Reveillon paulistano.

Por muitos anos, foi realizada no horário noturno, ao tentar sincronizar a grande chegada do campeão, à "hora da virada", com a clara intenção em aproveitar o foguetório e a animação generalizada do povo. Somente ao final dos anos oitenta, quando a Rede Globo passou a veicular o evento, em parceria com a TV Gazeta de São Paulo, foi que a tradição quebrou-se e a corrida passou a ser vespertina e muito recentemente, matutina, para romper-se completamente a tradição e certamente também a estragar o seu maior charme, que fora sincronizar a emoção da corrida, à expectativa pelos últimos momentos do "ano velho" que findava-se. 

Por ir bem nas finanças a empresa deu-se ao luxo em mudar-se para uma sede própria em 1939, mas não foi em um galpão qualquer, no entanto, a tratar-se de uma instalação pensada por arquitetos para abrigar uma moderna redação; Parque Gráfico e demais setores típicos de uma organização jornalística impressa.

Foi portanto, instalar-se em um belo prédio localizado na antiga Rua da Conceição, centro de São Paulo, e que hoje em dia, chama-se : Avenida Cásper Líbero. No ano de 1940, Cásper foi presidente da Federação Nacional de Imprensa (FENAI). Infelizmente, em 1943, ainda muito jovem e certamente com muito por realizar ainda, Cásper Líbero foi vítima de um acidente aéreo e deixou-nos. Nesse mesmo voo, faleceu também o arcebispo de São Paulo na ocasião, Dom José Gaspar, nome bastante conhecido no imaginário popular do paulistano, por ser nome de uma praça, às margens da Avenida São Luis, no centro da capital bandeirante, mas que poucos sabem quem foi como pessoa, em vida.

De seu esforço extraordinário, um pequeno império das comunicações foi gerado e após a sua morte, foi criada a Fundação Cásper Líbero, que tratou por manter vivo o ideal do jornalista.

Além da Gazeta Esportiva, que prosseguiu por muitos anos como o principal jornal esportivo de São Paulo (saiu de circulação na versão impressa, poucos anos atrás, mas prossegue como portal de notícias na internet), tem também a Rádio e TV Gazeta; além da Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero; o teatro Gazeta e antigamente, possuía igualmente, três salas de cinema, que estão atualmente desativadas (Gazeta; Gazetão & Gazetinha). Com todo esse complexo abrigado no seu edifício sede, no histórico endereço da Avenida Paulista, n° 900, não por acaso, o ponto de chegada da Corrida de São Silvestre.

A TV Globo adquiriu os direitos de transmissão e ter interferido maleficamente na sua organização, ao transformá-la quase em uma festa a fantasia regada à completa imbecilidade a explorar figuras folclóricas para gerar risadas a esmo, nos dias atuais, porém, para os que conhecem a tradição dessa Prova, estes haverão em saber que a Corrida de São Silvestre pertence moralmente à TV Gazeta e fim de conversa.

Em relação à Faculdade Cásper Líbero, é uma das principais nessa área, do Brasil e tradicionalmente coloca no mercado, semestralmente, grandes profissionais alojados nos principais órgãos de imprensa de São Paulo e Rio de Janeiro.


A lista de profissionais dotados com alto nível que espalham-se pelas principais redações do país, é enorme. Conheço vários, inclusive pessoalmente, pois tenho uma história pessoal com essa instituição. Eu, Luiz Domingues, ainda era um estudante secundarista, quando formou-se nos corredores dessa citada Faculdade, um grupo musical, em 1979, inicialmente com o objetivo em realizar um simples show de recepção para os novos calouros do segundo semestre daquele ano.
Show dos primórdios do Língua de Trapo, em uma sala de aulas da Faculdade Cásper Líbero, em agosto de 1980. Laert Sarrumor apresenta-se à frente como vocalista; Fernando Marconi está na bateria e eu, Luiz Domingues, apareço semi encoberto, no baixo, identificado apenas pelos braços, meu e do instrumento. Foto de Homero Sergio Moura


Formado por músicos; cantores e poetas surgidos em meio aos alunos veteranos da Faculdade, eu fui convidado a participar através de um convite formulado pelo meu amigo, Laert Sarrumor, com o qual eu tive o prazerem trabalhar em conjunto em nossa primeira banda, desde 1976, e na ausência de um baixista entre os alunos, o Laert vislumbrou a deixa para inserir-me nessa banda com característica versada pela MPB e a poesia, inicialmente, mas não necessariamente no humor. O grupo animou-se e apurou-se ao longo de 1979, e quando chegou o ano de 1980, já estava consolidado como uma banda a pleitear uma carreira artística, e com o seu trabalho baseado na sátira sociopolítica e em torno dos costumes, como mote.

Assim nasceu o Língua de Trapo, uma banda formada por alunos de jornalismo, criada nos corredores da Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero. É bem verdade que no segundo semestre de 1980, eu também ingressei na Faculdade, entretanto, culminei em abandoná-la logo a seguir, pois nessa alutra, eu estava a mergulhar na música e portanto, eu senti que não poderia perder o foco naquele instante.

Muitos anos depois, fui tocar em outras bandas com o guitarrista / tecladista, Rodrigo Hid, que também foi aluno da Cásper Líbero e através dele, conheci outros jovens futuros jornalistas, ao formar uma espécie de nova safra gerada por amigos jornalistas, egressos dessa Faculdade. 

Enfim, Cásper Líbero, a pessoa, o jornalista, fez muito pela imprensa paulista e brasileira, e merece todo o nosso respeito e admiração.

Matéria publicada no Site / Blog Orra Meu, em 2014

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