quarta-feira, 25 de junho de 2014

Big Boy, o Chacrinha do Rock'n' Roll - Por Luiz Domingues



A difusão do Rock, ao ponto em torná-lo um fenômeno de alcance mundial, vai além da genialidade dos artistas que deram o início de tal processo, durante a década de cinquenta. São muitos os fatores que contribuíram para que lograsse em êxito essa missão e isso é naturalmente fruto de muitos estudos por parte de musicólogos, historiadores etc. Entretanto, indubitavelmente, o papel das emissoras de rádio que compraram a ideia do Rock, enquanto estilo com possibilidades em âmbito Pop, no sentido comercial do termo, foi preponderante. Estende-se tal conceito à Black Music, notadamente em suas três ramificações mais Pop, também : Soul, R'n'B e Funk (o de "verdade"...).

Nesse contexto, não dá para deixar de citar, Alan Freed, um DJ americano que muito contribuiu para essa explosão toda 
          do Rock'n Roll naquela década.

Aqui no Brasil, muita gente valorosa  teve esse papel importante também nas emissoras de rádio, mas ninguém foi mais emblemático que um DJ carioca, que atuou decisivamente no Rio e em São Paulo, simultaneamente, chamado : Newton Alvarenga Duarte, mas que ficou conhecido pela alcunha de : "Big Boy". Nascido no Rio de Janeiro, em 1943, Newton "Big Boy", cresceu bastante influenciado pelo rádio e sobretudo pelo seu poder de encantar o ouvinte, ao introduzi-lo em novo mundo musical.

No seu caso em específico, a sua emissora predileta na infância e adolescência, foi a Mayrink Veiga, uma emissora que mantinha uma grande audiência nacional e pioneira, tocava o Rock'n' Roll como absoluta novidade, ali no frescor dos anos cinquenta. Escondido dos pais, Newton viajava regularmente à São Paulo, onde batia ponto nas melhores lojas da pauliceia, ao iniciar a formação de sua coleção de vinis fantástica. Em 1965, Newton entrou na faculdade de geografia da UFRJ, e ali formou-se em 1968.


Todavia, desde 1966, foi um locutor contratado pela rádio Tamoio e já em 1967, deu um salto na carreira, ao mudar-se para a Rádio Mundial, onde fez a sua fama em nível nacional.
Profundo conhecedor do Rock; Pop; Black Music;, Folk e outros gêneros, Big Boy detinha um carisma inacreditável e costumava criar bordões que caíram no gosto dos ouvintes, de uma forma avassaladora.

Beatlemaníaco assumido, foi à Londres em 1967, com o objetivo em entrevistar os Beatles, mas na base da pura vontade, sem nenhum tipo de credenciamento oficial, mesmo a estar em uma grande emissora brasileira. Deu muita sorte por encontrar Paul McCartney na rua, e este sensibilizou-se com o esforço do radialista brasileiro, e assim colocou o seu nome no mailing oficial dos Beatles, um privilégio que concedeu-lhe a chance para receber uma cópia do LP Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, antes da fábrica brasileira providenciar a distribuição nacional.

Nessa altura, Big Boy já assinava colunas em importantes jornais e revistas brasileiras. O seu estilo de redação seguira a mesma maneira esfuziante de sua locução no rádio. Big Boy era completamente louco para os padrões da locução radiofônica convencional que a maioria dos locutores "normais" usavam nessa época. De certa forma, ele seguiu o mesmo padrão anárquico e abusava do nonsense tanto quanto Abelardo Barbosa, o Chacrinha o fazia na TV. Big Boy aliás, também foi parar na TV, ao tornar-se um comentarista quentíssimo para cobrir o Rock, no Jornal Hoje, da Rede Globo e também com intervenções em outros programas jornalísticos daquela emissora.

Ele fez paralelamente uma carreira de sucesso em São Paulo, também, como locutor da Rádio Excelsior, a Máquina do Som. 

Por incrível que pareça, segundo consta em sua biografia, ele não tinha na verdade o menor jeito para ser um locutor, pois não possuía uma voz padrão de radialista. A sua voz era estridente, sem a presença de um timbre grave, sem a impostação padrão que espera-se, de forma paradigmática nesse métier...

Sabedor disso, criou aquele estilo estridente, a explorar na verdade o que poderia ter sido a sua maior dificuldade para ingressar na profissão, mas que tornou-se, ao contrário, um trunfo. A sua maneira par expressar-se com aquela dose de loucura, teve tudo a ver com o Rock. Popular e adorado, aventurou-se em produção de eventos, ao emprestar o seu prestígio para o "Baile da Pesada do Canecão", onde até cinco mil jovens costumavam reunir-se para dançar ao som do melhor do Rock e da Black Music, de 1970, ou seja, somente pérolas escolhidas a dedo pelo DJ que conhecia música com profundidade. Algum tempo depois, o sucesso retumbante animou-lhe a voar solo e quando comprou o seu equipamento privado, passou a organizar o seu próprio evento. A partir desses bailes, tornou-se também um produtor fonográfico, ao assinar coletâneas com músicas que tocava em seus bailes. Ao perceber que tornara-se quase um personagem, Chico Anysio o convidou para participar de seu programa humorístico. Big Boy participou a interpretar o personagem "Índio Jerônimo", que fazia parte da patota de hippies liderados por "Lingote", um hippie zen interpretado pelo próprio, Chico, e que só comunicava -se monossilabicamente.


Big Boy entrevistou Stevie Wonder; James Brown e Mick Jagger;  e também tornou-se produtor musical da gravadora Odeon. Ele ganhou o seu programa próprio na TV Globo, denominado : "Hello Crazy People", título inspirado em seu bordão mais famoso. 

Todavia, antes já tinha estrelado um programa na TV Record, o "Papo Pop", que dava espaço para artistas do Rock brasileiro, tais como : Raul Seixas; Secos & Molhados e Joelho de Porco, por exemplo. "Papo Pop" foi o nome de sua coluna em jornais e revistas.

Assumiu a seguir no Rio de Janeiro, a programação da Rádio Eldorado e criou a Eldo Pop, onde costumava tocar discos de Rock Progressivo na íntegra, sem intervalos, um escândalo no meio radiofônico, pois quebrava o padrão Pop das músicas regidas pelos parcos três minutos e meio de duração, em detrimento de peças com até vinte e três minutos, como se fossem suítes de música erudita.

Em São Paulo, passou a comandar a rádio Excelsior, em 1976.

Em março de 1977, Big Boy teve uma crise asmática fulminante, dentro de seu quarto, no hotel em que estava hospedado em São Paulo. Uma nova produção sensacional que ele faria para a TV Globo, foi ao ar de forma póstuma, pois não deu tempo dele aproveitar o sucesso que foi o "Rock Concert", doravante. E a sua última coluna impressa falava sobre a iminente vinda do Genesis, espetacular grupo progressivo britânico, ao Brasil, dois meses depois.

Infelizmente o grande Big Boy deixou-nos e perdeu esse grande concerto de Rock, ocorrido em 1977. Big Boy deixou um legado e tanto. Foi mais que um locutor que inventava bordões populares e ultrapassou a imagem louca de sua figura a bordo de uma voz esganiçada, visual & postura enlouquecidas e tambem pelo seu carisma absurdo.

Na verdade, foi um ´tremendo apaixonado pela música; pelo Rock e pelo prazer em colecionar discos, que por conhecer a matéria com o requinte de um catedrático no assunto, sabia o que falava e por ter esse conhecimento, aliado ao seu estilo e carisma, impressionava e conferia credibilidade em seu trabalho. Não quero usar clichês, mas é inevitável não deixar de mencionar que um jornalista / DJ / locutor e produtor musical desse calibre, faz falta para o Brasil.

Todo mundo morre, é fato da vida, mas foi uma tremenda fatalidade perdê-lo com apenas trinta e três anos de idade.

Recentemente, a  sua família criou uma página sensacional no Facebook, onde o mote é disponibilizar o máximo de material possível de sua atuação nos meios de comunicação nos anos 1960 e 1970.

Muito mais que um museu virtual, a página tem vida, ao parecer que ele mesmo cuida das postagens e está entre nós ainda. Ao pensar bem, é claro que está.

Recomendo visitas e segui-la, sem dúvida alguma.
https://pt-br.facebook.com/pages/Big-Boy-Rides-Again/565152540194400


Hello Crazy, people... Big Boy Rides Again !
Matéria publicada inicialmente no Blog Limonada Hippie, em 2014  

quinta-feira, 19 de junho de 2014

O Futuro Incerto do Pacaembu - Por Luiz Domingues



Estamos a poucos dias da abertura da Copa do Mundo de 2014 ( quando da primeira publicação desta matéria, ao final de maio de 2014), que marcará um momento histórico, não só por isso, mas para a vida esportiva do Sport Club Corinthians Paulista, que finalmente vai obter o seu estádio próprio, após 104 anos de existência e naturalmente, esse longo período sem uma casa própria (feita a ressalva que sim, o Corinthians tinha / tem seu estádio, chamado, Alfredo Schürig, popular "Fazendinha", anexo ao Parque São Jorge, a constituir-se em seu patrimônio poliesportivo e social, mas por ser um estádio de pequena proporção, não podia ser chamado de estádio propriamente dito). Fora esse marco importante para tal clube, é claro que a inauguração de um estádio moderno, com tecnologia High Tech e no padrão das mais modernas arenas europeias, é espetacular para a cidade; estado de São Paulo, e naturalmente para o Brasil.

Nesta altura dos acontecimentos, recuso-me a falar das falcatruas monstruosas provenientes da realização da Copa do Mundo no Brasil e sobre os respingos óbvios que a Arena Corintiana recebe nessa, no mínimo, estranha oportunidade conveniente, pois já lancei matérias contundentes sobre o assunto, há três anos atrás e agora, insistir em lamentar o leite derramado é mero oportunismo e não serei eu que vou deixar-me ser usado como idiota útil dessa atual oposição que não tem proposta política alguma, a não ser querer destruir a situação, mediante sabotagens midiáticas e que invariavelmente confunde-se com o próprio mar de lama que criou no passado. Enfim, sem política nesta matéria, porque o objetivo deste texto é outro.

O fato é que a cidade está a ganhar uma Arena espetacular, e claro que isso é bom para a nossa economia local.


Não obstante essa novidade, o maior rival do Corinthians, está a finalizar também a completa reforma de seu estádio, que ainda vai demorar para ser inaugurado, mas já dá mostras que vai ser espetacular. O novo estádio da Sociedade Esportiva Palmeiras, na verdade foi reconstruído, pois o velho Estádio Palestra Itália, foi demolido para que construísse-se uma Arena inteiramente nova; moderna e com tecnologia high tech, também. Previsto para ser inaugurada alguns meses depois do novo estádio do Corinthians, a arena Palmeirense será multiuso e já coloca-se como um ponto natural para shows internacionais de grande porte.

Ao perceber que vai perder muitas receitas, o São Paulo Futebol Clube está a movimentar-se para reformar o Morumbi, ao anunciar planos de construção de uma cobertura para increntá-lo. No caso tricolor, receio que uma reforma não conseguirá deixar o Morumbi à altura das novas arenas de seus rivais, ao necessitar, isso sim, uma complexa mudança estrutural, quiçá a fazer como o Palmeiras o fez, ou seja, demolir e reconstruir, da base. Sendo assim, ainda que mostre-se momentaneamente suplantado, tecnologicamente, ainda é um grande estádio na cidade. Diante desse quadro de estádios modernos a ser inaugurados, a pergunta é  : e o velho Pacaembu, o que será dele ?

Modernidade e tecnologia à parte, o Pacaembu é mais que um estádio bem localizado na cidade de São Paulo, mas mantém tradição; história e um charme inquestionável com aquela arquitetura das décadas de trinta / quarenta, sensacional, pela quial foi construído. Aconchegante, faz com que o torcedor fique bem próximo do campo, com uma visão panorâmica, espetacular do gramado. Todavia, agora que Corinthians e Palmeiras vão mandar seus jogos em suas modernas arenas e o São Paulo não costuma usar o Pacaembu, naturalmente, uma grande dúvida paira sobre o futuro do estádio.

Especula-se que o Santos Futebol Clube o use com maior frequência doravante, pois é fato que a sua torcida na capital é grande e prefere prestigiar o time no Pacaembu do que descer a serra e ir à cidade Santos, para poder assistir os jogos do Santos, na Vila Belmiro. Mesmo que o Santos intensifique o seu uso, ainda assim, parece insuficiente para mantê-lo em suas necessidades mais básicas de manutenção. A Associação Portuguesa de Desportos também o usa muito pouco, pois a despeito de seu pequeno estádio do Canindé estar defasado, também (e tenderá a tornar-se jurássico após as inaugurações das arenas dos eus rivais, já citadas), supre as necessidades do clube, que infelizmente não dispõe de uma grande torcida e consequente meio para gerar uma melhor renda.

E se é difícil para a Portuguesa, imagine para agremiações ainda menores, como o Juventus da Mooca, e o Nacional da Barra Funda, que nem conseguem manter-se no rol da primeira divisão estadual. Outro ponto dramático para a manutenção do Pacaembu, é o fato dos shows musicais estar proibidos ali, há anos, por conta da pressão da associação de moradores do bairro.

Sem essa receita extra, o Pacaembu manteve-se nos últimos anos basicamente pelo aluguel cobrado do Corinthians, em primeiro lugar e mais recentemente do Palmeiras, que ficou sem o Palestra Itália nessa fase de reconstrução de seu estádio. Uma solução para o Pacaembu, seria uma reforma estrutural pesada. Por ser público, claro que nenhum prefeito embarca em uma aventura assim, pois as prioridades para uma megalópole como é São Paulo, são outras e ninguém cometeria um suicídio eleitoral ao aventurar-se em empreender uma obra supostamente supérflua para a municipalidade.

Independente de ser viável, e provavelmente não o seja, eu promoveria uma reforma estrutural pesada, mas a manter a arquitetura retrô, que é charmosissima. E dentro desse conceito, demoliria aquele adendo horroroso, que é o "Tobogã", a famigerada arquibancada construída a mando do prefeito biônico da cidade em 1969, Paulo Maluf. 

Reconstruiria a charmosa "concha acústica" do projeto original, com direito à volta da estátua de Davi. Daria um jeito na situação vergonhosa das instalações sanitárias que fizeram as autoridades instalar calamitosos "banheiros químicos" no corredor oval de acesso às arquibancadas. Não precisa ficar High Tech como as novas arenas da cidade, mas absolutamente em ordem, com o charme retrô impecável e infraestrutura digna.

Talvez, devido ao pouco uso que terá doravante (isso a contar com a hipótese do Santos passar a usá-lo com maior frequência), o caminho seja o contrário do que habituamo-nos a ver em relação ao Museu do Futebol, isto é, o estádio como equipamento do Museu. A extensão do Museu, a abrigar o estádio como um anexo de sua área física, pode ser uma atração a mais para ele, que já é sensacional por si só, e muito visitado por turistas.

É apenas uma ideia, sem base alguma da realidade, mas talvez seja a sua salvação. E seria uma lástima para a história de São Paulo, se o estádio do Pacaembu morresse, como está a insinuar-se em uma perspectiva de curto / médio prazo.
Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu, em 2014.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Ao Educar-se o Cidadão - Por Luiz Domingues

Vivemos em sociedade, em meio à inúmeras demandas. As necessidades estruturais são múltiplas para que possamos viver com conforto; bem estar; segurança e sobretudo a usufruir do meio ambiente e de suas reservas naturais. Contudo, essa equação é dificílima para fechar-se, na medida em que tudo, absolutamente tudo, depende do dinheiro para ser movimentado.

Pareço óbvio ao falar sobre isso, mas pense bem : se tudo depende do dinheiro, torna-se justo que cada um forneça uma contribuição pessoal para que providencie-se obras fundamentais, ao visar suprir as necessidades de interesse comum. Cáspite, outra obviedade. Isso existe desde a antiguidade, quando ainda nas civilizações mais rudimentares, percebeu-se que sem tal esforço coletivo, nenhuma providência para o bem estar do grupo, poderia ser cumprida.

Concomitantemente, a tentação em desviar o dinheiro arrecadado pela coletividade, constituiu-se em um caminho aberto para o ego humano desenvolver essa patologia chamada, "corrupção", e assim a humanidade pôs-se a caminhar, ao manter essa relação pouco saudável dentro da sociedade. Todavia, esta matéria não é sobre ética, apesar de ser inevitável mencionar a questão da lisura, quando fala-se a questão do erário público; tributação & gerência governamental. O que eu desejo enfocar nesta matéria, é a formação do cidadão, sob o ponto de vista educacional.


Evidentemente que a sociologia engloba o assunto de uma forma muito ampla, ao distribuir entre várias vertentes das ciências sociais, tais estudos ajuda-nos a entender os meandros da organização social como um todo. O que é público e o que é privado, como complementam-se etc. Mas como formar o cidadão comum, no básico, é a questão, pois parece ineficaz considerar que tal estudo restrinja-se aos estudantes das Ciências Sociais. Independente de quem aspire seguir esse caminho acadêmico e assim a especializar-se em suas múltiplas graduações, o cidadão médio deveria saber o básico sobre o funcionamento da máquina pública, ao meu ver. E essa máquina, é gigantesca, repleta por subdivisões e por que não dizer, contradições.

Se para um estudante de sociologia; economia; ou direito, já é complexo tentar compreender as entranhas dessa máquina monstruosa (o "monstruosa" aqui, tem duplo sentido, eu sei), imagine para o cidadão comum. Só que existe um detalhe nessa predisposição, que eu considero fundamental : estamos no século XXI, e ante tal constatação, não tem cabimento que o cidadão que paga impostos (e tudo o que consome é tributado, fora os impostos por bens, renda e serviços), não saiba como esse dinheiro é usado, nem com funciona a máquina pública.
Já estou a imaginar alguns leitores a considerar-me um tremendo ingênuo por escrever isso, pois há séculos que o modus operandi das autoridades, baseai-se na prática contrária, ou seja, em não explicar nada, e assim não favorecer nenhuma ação que propicie transparência sobre o funcionamento da máquina. Eu sei disso. Falo sobre o que seria ideal, não sobre o que é errado desde que a humanidade começou a organizar-se. Quando o governo autoritário, aumentou o seu poder de influência repressiva, após a promulgação do AI-5, tais autoridades baixaram decreto a instituir a obrigatoriedade da matéria : "Educação Moral e Cívica" no ensino fundamental (ainda ao final da era do curso primário e posterior curso ginasial); "OSPB" (Organização Social e Política Brasileira"), no ensino médio e "EPB" (Estudo dos Problemas Brasileiros"), no ensino superior, além de militarizar as aulas de educação física, com a obrigatoriedade em fazer uso da "ordem unida".

No discurso, ou desculpa para falar o português claro, a ideia foi ensinar as crianças e adolescentes a conhecer o funcionamento da sociedade, mas tal prerrogativa não foi a mais correta. O objetivo foi outro, com a exaltação do nacionalismo, sob um viés a incutir valores religiosos quase explícitos, sendo que o estado deveria ser laico, e o pior de tudo, ao desestabilizar a capacidade de reflexão, e assim instituir a obediência cega como o valor máximo a ser observado.

Para corroborar com tal estratégia, os militares instituíram licenciaturas de curta duração nos cursos superiores, ao quebrar os cursos de História & Geografia, e assim a incentivar a formação de professores muito despreparados para ministrar as aulas de Educação Moral e Cívica nas escolas, o mais rápido que pode ser estabelecido.
Quando a repressão acabou, tais cursos foram suspensos, enfim. Não sou professor, portanto não tenho elementos para opinar com profundidade sobre a pedagogia. odavia, tenho em mente, que o cidadão tem o direito em entender o  funcionamento da máquina governamental que rege a sociedade, desde o ensino básico, pois é condição básica do exercício da cidadania.


Se alguém joga um papel de bala na calçada, precisa ter a consciência do dano ambiental que aquilo causa à coletividade. Por exemplo, se as pessoas tivessem a consciência de que é errado jogar lixo nas ruas, quanto economizaríamos com as enchentes que atormentam as cidades a cada temporal ? Se não houvesse a ocorrência de  enchentes, quanto economizar-se-ia em saúde pública, ao considerar-se que uma enchente é na prática, um caldo asqueroso, a constituir-se em uma sopa infecta, repleta por bactérias ? Quanto o departamento de zoonose gastaria menos, se não houvesse a proliferação de insetos; ratos e baratas que tal sujeira proporciona ? 

 Esse exemplo do papel de bala, é só um item dessa equação. Quantas outras questões de civilidade não poderiam ser tratadas em sala de aula, desde a tenra infância ? E a máquina em si, como funciona ?


O que faz exatamente o prefeito; o governador e o presidente ? Como é arrecadados os montates fabulosos vindos através dos impostos e como distribui-se tais parcelas entre as três instâncias ?

Qual é o papel do legislativo ? Para que serve um vereador; deputado estadual;, deputado federal e senador ? O que são as secretarias que servem o poder executivo ? Para que servem os ministérios ? O que é o tribunal de contas ?

Quem define as prioridades da saúde; agricultura; segurança pública ? Quem traça os planos da educação; infraestrutura; abastecimento, energia ?

O que é o Ministério Público, o que é defensoria ?


O que são autarquias ? 

Aposto que 95 % (ou mais), das pessoas que foram ás ruas na onda de protestos de 2013, não sabem responder essas perguntas, infelizmente. E se no bojo, pela essência, eu reconheça que os protestos tiveram a legitimidade democrática em de demonstrar a insatisfação generalizada, tais protestos pareceu uma briga de bêbados no escuro, tamanha a confusão que denotou, com pessoas a protestar sem um critério adequado, assim cobrar reivindicações para as autoridades que nem tratou dos itens que estavam a  levantar como bandeiras. Isso sem mencionar que a manipulação por trás de tais manifestações foi enorme, daí a mostrar-se muito relativa a maneira pela qual foi apresentada.

Nesses termos, ao pedir para o prefeito abaixar o preço das hortaliças nos supermercados ou para o presidente cuidar da segurança pública, ou mesmo que o governador tome providências sobre o mau estado das estradas federais, são alguns exemplos clássicos de confusão que as pessoas estabelecem sobre a atribuição de cada instância. E não para por aí. Cobra-se posturas dos parlamentares, como se fossem do executivo e vice-versa. Cobram da polícia providências que são concernentes ao judiciário etc. Portanto, sou a favor da matéria de estudos sociais, nas escolas fundamentais e médias, mas sem aquele ranço observado por radicais de outrora, ao observar interesses escusos da parte de grupos elitistas da sociedade, mas sim a criar um conteúdo onde fosse explicado aos jovens, como funciona a rés pública e como devemos ser solidários para que possamos obter o melhor convívio possível, e assim conduzir o país, enfim, para o padrão de uma nação do primeiro mundo.


Fazê-los entender que a cidade é uma extensão de nossa residência, é fundamental. Quebrar o paradigma de que a rua não merece consideração porque "não é de ninguém", além de contribuir para transformar a cidade em uma lata de lixo decadente, é um caminho permanente para a roubalheira da corrupção (sei que existe outros fatores e não é só isso que acabaria com a corrupção). Quando cada cidadão considerar a rua como parte da sua própria residência, de fato, a mentalidade generalizada vai ser a de  manter tudo limpo, o tempo todo. Logradouros públicos bem iluminados; com equipamento em perfeito funcionamento e isso a gerar como consequência, a baixa criminalidade; ausência de vandalismo; solidariedade, fraternidade etc. Utópico em primeira leitura, eu sei. Mas se em países como a Nova Zelândia; Dinamarca; Finlândia; Canadá; Alemanha; Austrália; Bélgica; França, e outros, isso que descrevi é quase uma realidade, penso que o segredo é a educação e troca de paradigma.

Talvez demore para chegarmos nesse patamar, mas não acho impossível. Veja o exemplo da Coréia do Sul e o salto que deu quando passou a investir pesado na educação. A própria revitalização de Seul, com a despoluição do rio Han, é um exemplo. Até bem pouco tempo atrás, tratava-se de um rio putrefato como o Tietê, com o povo acostumado a jogar detritos nele, como se não importasse com a sua morte inevitável. Quando o rio passou a ser encarado como um patrimônio da cidade, tudo mudou. 

 A transformação da sociedade começa na mudança individual do cidadão. Mesmo porque, se eu não ligo para a minha cidade ( e por extensão, estado ou país), abro o caminho para que as autoridades também pensem igual, e com aquela montanha de dinheiro arrecadado nos cofres públicos, a tentação em desviá-lo será enorme.

E tem um dado a mais : de onde vem os políticos ? De onde saem os funcionários públicos de carreira ? De onde saem os parlamentares, e os membros do judiciário ? Pois, são pessoas como nós, do mesmo povo. E se a mentalidade do povo pauta-se em não considerar o bem público, por quê você acha que eles pensariam diferente, se são pessoas da mesma formação cultural; educacional e nacional ? O que adianta cobrar seriedade e lisura, se você continua a passar incólume pelo semáforo a indicar a cor vermelha; acha normal jogar lixo na rua; não economiza água; desperdiça comida; não respeita filas; destrata pessoas humildes e idosos etc ?


Matéria publicada anteriormente no Blog Planet Polêmica, em 2014