quinta-feira, 19 de junho de 2014

O Futuro Incerto do Pacaembu - Por Luiz Domingues



Estamos a poucos dias da abertura da Copa do Mundo de 2014 ( quando da primeira publicação desta matéria, ao final de maio de 2014), que marcará um momento histórico, não só por isso, mas para a vida esportiva do Sport Club Corinthians Paulista, que finalmente vai obter o seu estádio próprio, após 104 anos de existência e naturalmente, esse longo período sem uma casa própria (feita a ressalva que sim, o Corinthians tinha / tem seu estádio, chamado, Alfredo Schürig, popular "Fazendinha", anexo ao Parque São Jorge, a constituir-se em seu patrimônio poliesportivo e social, mas por ser um estádio de pequena proporção, não podia ser chamado de estádio propriamente dito). Fora esse marco importante para tal clube, é claro que a inauguração de um estádio moderno, com tecnologia High Tech e no padrão das mais modernas arenas europeias, é espetacular para a cidade; estado de São Paulo, e naturalmente para o Brasil.

Nesta altura dos acontecimentos, recuso-me a falar das falcatruas monstruosas provenientes da realização da Copa do Mundo no Brasil e sobre os respingos óbvios que a Arena Corintiana recebe nessa, no mínimo, estranha oportunidade conveniente, pois já lancei matérias contundentes sobre o assunto, há três anos atrás e agora, insistir em lamentar o leite derramado é mero oportunismo e não serei eu que vou deixar-me ser usado como idiota útil dessa atual oposição que não tem proposta política alguma, a não ser querer destruir a situação, mediante sabotagens midiáticas e que invariavelmente confunde-se com o próprio mar de lama que criou no passado. Enfim, sem política nesta matéria, porque o objetivo deste texto é outro.

O fato é que a cidade está a ganhar uma Arena espetacular, e claro que isso é bom para a nossa economia local.


Não obstante essa novidade, o maior rival do Corinthians, está a finalizar também a completa reforma de seu estádio, que ainda vai demorar para ser inaugurado, mas já dá mostras que vai ser espetacular. O novo estádio da Sociedade Esportiva Palmeiras, na verdade foi reconstruído, pois o velho Estádio Palestra Itália, foi demolido para que construísse-se uma Arena inteiramente nova; moderna e com tecnologia high tech, também. Previsto para ser inaugurada alguns meses depois do novo estádio do Corinthians, a arena Palmeirense será multiuso e já coloca-se como um ponto natural para shows internacionais de grande porte.

Ao perceber que vai perder muitas receitas, o São Paulo Futebol Clube está a movimentar-se para reformar o Morumbi, ao anunciar planos de construção de uma cobertura para increntá-lo. No caso tricolor, receio que uma reforma não conseguirá deixar o Morumbi à altura das novas arenas de seus rivais, ao necessitar, isso sim, uma complexa mudança estrutural, quiçá a fazer como o Palmeiras o fez, ou seja, demolir e reconstruir, da base. Sendo assim, ainda que mostre-se momentaneamente suplantado, tecnologicamente, ainda é um grande estádio na cidade. Diante desse quadro de estádios modernos a ser inaugurados, a pergunta é  : e o velho Pacaembu, o que será dele ?

Modernidade e tecnologia à parte, o Pacaembu é mais que um estádio bem localizado na cidade de São Paulo, mas mantém tradição; história e um charme inquestionável com aquela arquitetura das décadas de trinta / quarenta, sensacional, pela quial foi construído. Aconchegante, faz com que o torcedor fique bem próximo do campo, com uma visão panorâmica, espetacular do gramado. Todavia, agora que Corinthians e Palmeiras vão mandar seus jogos em suas modernas arenas e o São Paulo não costuma usar o Pacaembu, naturalmente, uma grande dúvida paira sobre o futuro do estádio.

Especula-se que o Santos Futebol Clube o use com maior frequência doravante, pois é fato que a sua torcida na capital é grande e prefere prestigiar o time no Pacaembu do que descer a serra e ir à cidade Santos, para poder assistir os jogos do Santos, na Vila Belmiro. Mesmo que o Santos intensifique o seu uso, ainda assim, parece insuficiente para mantê-lo em suas necessidades mais básicas de manutenção. A Associação Portuguesa de Desportos também o usa muito pouco, pois a despeito de seu pequeno estádio do Canindé estar defasado, também (e tenderá a tornar-se jurássico após as inaugurações das arenas dos eus rivais, já citadas), supre as necessidades do clube, que infelizmente não dispõe de uma grande torcida e consequente meio para gerar uma melhor renda.

E se é difícil para a Portuguesa, imagine para agremiações ainda menores, como o Juventus da Mooca, e o Nacional da Barra Funda, que nem conseguem manter-se no rol da primeira divisão estadual. Outro ponto dramático para a manutenção do Pacaembu, é o fato dos shows musicais estar proibidos ali, há anos, por conta da pressão da associação de moradores do bairro.

Sem essa receita extra, o Pacaembu manteve-se nos últimos anos basicamente pelo aluguel cobrado do Corinthians, em primeiro lugar e mais recentemente do Palmeiras, que ficou sem o Palestra Itália nessa fase de reconstrução de seu estádio. Uma solução para o Pacaembu, seria uma reforma estrutural pesada. Por ser público, claro que nenhum prefeito embarca em uma aventura assim, pois as prioridades para uma megalópole como é São Paulo, são outras e ninguém cometeria um suicídio eleitoral ao aventurar-se em empreender uma obra supostamente supérflua para a municipalidade.

Independente de ser viável, e provavelmente não o seja, eu promoveria uma reforma estrutural pesada, mas a manter a arquitetura retrô, que é charmosissima. E dentro desse conceito, demoliria aquele adendo horroroso, que é o "Tobogã", a famigerada arquibancada construída a mando do prefeito biônico da cidade em 1969, Paulo Maluf. 

Reconstruiria a charmosa "concha acústica" do projeto original, com direito à volta da estátua de Davi. Daria um jeito na situação vergonhosa das instalações sanitárias que fizeram as autoridades instalar calamitosos "banheiros químicos" no corredor oval de acesso às arquibancadas. Não precisa ficar High Tech como as novas arenas da cidade, mas absolutamente em ordem, com o charme retrô impecável e infraestrutura digna.

Talvez, devido ao pouco uso que terá doravante (isso a contar com a hipótese do Santos passar a usá-lo com maior frequência), o caminho seja o contrário do que habituamo-nos a ver em relação ao Museu do Futebol, isto é, o estádio como equipamento do Museu. A extensão do Museu, a abrigar o estádio como um anexo de sua área física, pode ser uma atração a mais para ele, que já é sensacional por si só, e muito visitado por turistas.

É apenas uma ideia, sem base alguma da realidade, mas talvez seja a sua salvação. E seria uma lástima para a história de São Paulo, se o estádio do Pacaembu morresse, como está a insinuar-se em uma perspectiva de curto / médio prazo.
Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu, em 2014.

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