domingo, 20 de julho de 2014

Salão do Automóvel de São Paulo - Por Luiz Domingues


Quando o presidente Juscelino Kubitscheck consolidou a indústria automobilística no Brasil, na década de cinquenta, tal medida impulsionou de forma extraordinária a economia do país, não resta dúvida. Mas isso não significou o início da decantada paixão do brasileiro pelos carros, fascínio tal que já existia há muito tempo, mesmo sem haver sequer a produção local de autos.

Contudo, com o advento de tal iniciativa, houve desdobramentos múltiplos, ao abrir-se uma cadeia de possibilidades inerentes, e entre os quais, a ideia em criar-se uma grande Feira de exposições, nos moldes das Feiras que já existiam com sucesso nos Estados Unidos e Europa. Dessa forma, em 1960, realizou-se a primeira edição do Salão do Automóvel de São Paulo, no pavilhão da Indústria e Comércio, dentro do Parque do Ibirapuera.

Causou furor à época, com filas gigantescas, segundo constam as matérias de jornais e revistas da ocasião. Organizada pelo empreendedor, Caio de Alcântara Machado, apresentou-se como grandes atrações nessa edição, o Aero Willys; Simca Chambord; Volkswagen (apelidado como : “Fusca”); a Kombi (o furgão que tornar-se-ia o mais querido do Brasil); Douphine; FNM 2000 e a Romi-Isetta, um micro carro que foi muito popular no Brasil do início da década de sessenta, que mais parecia uma moto com uma pequena cobertura envidraçada e ovalada.

Nos registros da época, falou-se em mais de quatrocentas mil pessoas presentes, em 16 dias de exposição, e ao considerar-se que naquele ano, a cidade de São Paulo detinha apenas três milhões de pessoas, esse número de visitantes foi muito expressivo em proporção à época. Um estouro, portanto, consolidou-se logo na primeira edição e dali em diante, tornou-se uma das maiores Feiras de exposição e negócios da cidade e rapidamente assumiu o posto de maior Feira da América Latina nesse setor, para continuar sendo líder nesse segmento, nos anos vindouros. Já em 1961, a grande atração foi o “Interlagos”, um carro super esportivo lançado pela Willys, já concebido inteiramente no Brasil e a evocar signos brasileiros, a julgar pelo seu nome escolhido. Outra novidade da segunda edição foi na inclusão de tratores, ao abrir um nicho muito rentável, oriundo do agronegócio. E assim, prosseguiu até 1970, no Parque do Ibirapuera, quando mudou-se para o então recém construído Parque de Exposições do Anhembi, aliás, a inaugura-lo oficialmente.

A cada ano, ao sofisticar-se mais, também abriu campo para o setor de autopeças e acessórios, portanto sob um leque mais panorâmico, a abranger o ramo automobilístico em vários aspectos. Carros de alto luxo,  que hoje em dia são considerados “cult” entre colecionadores, como o Ford Landau; Charger RT da Chrysler; Opala SS; e carros que popularizaram-se, caso da Variant (onde está o motor (?), como diria o saudoso comediante, Rogério Cardoso...).

Na edição de 1976, uma tradicional fábrica italiana finalmente instalou-se no Brasil, após anos da implantação da indústria automobilística nacional, para abrir um novo centro, em Betim / Minas Gerais, ao quebrar a hegemonia tradicional de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, onde há anos concentravam-se as grandes fábricas. Assim, a FIAT entrou no mercado para apresentar o seu carro popular para concorrer com a paixão nacional, o “fusca” da VW, na figura de seu, Fiat 147.

Nos anos posteriores, o mercado de luxo tomou conta, ao apresentar os bólidos mediante preços proibitivos e assim atrair multidões de sonhadores em possuí-los, um dia. Consta na sua história, que no ano de 2008, alcançou o seu apogeu, quando atingiu o status de uma das maiores feiras do mundo.

Mais que uma Feira normal de negócios, como muitas que acontecem, o Salão do Automóvel, assim como a UD (Feira das Utilidades Domésticas) e a Fenit (da Indústria de Tecidos), parecem ter vida própria, ao ultrapassar o formato de uma Feira propriamente dita e a conter status de um acontecimento, assim como a SP Fashion Week o possui para o setor da moda e o antigo Salão da Criança tinha para o setor de brinquedos.

Talvez a Bienal do Livro tenha um élan semelhante, mas aí o apelo cultural é implícito, embora seja também uma feira de negócios patrocinada pelas editoras. Enfim, tradição desde 1960, é aguardada com ansiedade pelos apaixonados pelos carros e de fato, aqui no Brasil, esse fator é tão popular quanto o futebol.
Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu, em 2014.  

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