sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Repórter Esso,Testemunha Ocular da História - Por Luiz Domingues


Nos primórdios da história do Rádio, o tratamento com o qual o jornalismo fora exercido, não manteve um formato específico e adequado à esse novo veículo. Portanto, em seu início, o noticiário radiofônico foi uma mera leitura de notícias publicadas nos jornais tradicionais, como uma espécie de jogral enfadonho e muitas vezes ao não levar-se em conta que certas particularidades das notícias, lida dessa forma, causava alguma confusão ao ouvinte. Demorou um tempo para que os radialistas notassem que seria preciso inventar um formato radiofônico específico para tal veículo.

Foi com esse propósito que em 1935, surgiu nos Estados Unidos, o “Reporter Esso”, um noticiário criado especialmente para o veículo radiofônico e patrocinado por uma companhia petrolífera (Standart Oil Company), daí esse nome ter sido personalizado. O lado obscuro dessa iniciativa, foi que houve um objetivo claro em sua linha editorial, através da sua prerrogativa, no entanto, a tratar-se de algo obviamente questionável enquanto jornalismo livre e ético, pois acintosamente noticiava-se os fatos conforme o ponto de vista norteamericano, a realçar as suas virtudes; omitir os defeitos e enxergar o mundo pelo seus interesses, de forma parcial. Dessa forma, não demorou e o grande foco do Repórter Esso foi a II Guerra Mundial, naturalmente.

Ao acompanhar o plano expansionista da política de boa vizinhança estabelecida pelo governo  de Franklin Delano Roosevelt, o Repórter Esso criou franquias (foram quinze ao longo do mundo, segundo consta em sua história), e dessa maneira, chegou ao Brasil de Getúlio Vargas. Em 28 de agosto de 1941, estreou na Rádio Nacional, do Rio de Janeiro e desde o seu início, fora subordinado ao DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), com a mão de ferro de Vargas a conduzir-lhe o editorial, a privilegiar os seus interesses. No início, foram programas curtos a contar com apenas cinco minutos de duração, e na maior parte do tempo ocupados com a reprodução do programa americano e as notícias dos militares americanos em tal conflito.


E mesmo com quando Vargas voltou ao poder, sob a ação do pleito democrático, anos depois, a atuação do Repórter Esso continuou firme em sua predisposição para noticiar o cotidiano da sociedade, sob o prisma norteamericano. Com o passar do tempo, o noticiário mostrava-se tão sedimentado no imaginário do cidadão brasileiro, que os seus slogans e também o seu jingle, faziam parte do cotidiano do país, talvez sob uma proporção maior do que veio a representar o Jornal Nacional da TV Globo, anos depois. Houve até um ditado popular, que dizia que : "se uma notícia surgia, só era considerada verdadeira se fosse noticiada no Repórter Esso", tamanha a sua credibilidade ou poder a exercer a fé cega, a depender do ponto de vista . O programa migrou para outras estações de Rádio, e chegou à TV, onde também fez grande sucesso.

Jornalistas como Heron Domingues; Luis Jatobá; Roberto Figueiredo e Gontijo Teodoro, passaram por ele e certamente que influenciaram outros programas que surgiram depois, incluso o Jornal Nacional da TV Globo, onde aliás, o próprio, Heron Domingues, fez parte em seu começo de atividades.

As trombetas estridentes que anunciavam a entrada do noticiário no ar, continham um ar solene, a parecer que sempre a notícia a ser dada seria bombástica, embora raramente isso ocorresse, dentro da rotina do jornalismo. A contribuição que o Repórter Esso deu para o radialismo foi imensa, e que estendeu-se ao jornalismo televisivo, posteriormente.

Segundo consta na história do radialismo, graças ao Repórter Esso, criou-se enfim o formato adequado para o veículo, com notícias curtas, de forma a portar-se com muito objetividade e expressas com frases ágeis, ao usar-se não apenas o poder da síntese, como a preocupação na escolha de palavras fortes para conferir-lhe a ênfase necessária. A última edição radiofônica ocorreu na noite de 31 de dezembro de 1968. O radialista, Guilherme de Sousa falou sobre alguns decretos de ordem econômica assinados pelo então presidente Costa e Silva;, também a respeito de certos desdobramentos do AI-5, então recentemente promulgado e notas sobre o Reveillon.

À medida que falava, pôs-se a embargar a sua voz e nitidamente emocionado, não conseguiu encerrar a sua locução, ao chorar copiosamente e assim fazer com que o locutor reserva entrasse às pressas na sala da técnica, e assumisse o microfone, para encerrar a transmissão, ao desejar um “feliz 1969, a todos”.

Na Televisão, o noticiário sobreviveu mais um pouco, mas também teve uma última edição no Reveillon, desta feita, na noite de 31 de dezembro de 1970, nas TV’s Record e Tupi. Fim de uma Era no radialismo e calou-se para sempre a “Testemunha Ocular da História”.

Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica, em 2014

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Pedra - 29/8/2014 - Sexta-Feira / 21 Horas - Gambalaia - Santo André / SP

Pedra

Dia 29 de agosto de 2014

Sexta-Feira - 21 Horas

Gambalaia Espaço de Artes & Convivência

Rua das Monções, 1018 - Bairro Jardim

Santo André - SP

Músicas dos dois CD's + músicas novas que farão parte do terceiro álbum em fase de gravação

Pedra :

Xando Zupo : Guitarra e Voz
Rodrigo Hid : Guitarra, Teclados e Voz
Ivan Scartezini : Bateria e Voz
Luiz Domingues : Baixo e Voz

domingo, 24 de agosto de 2014

Humauhuaca na Sessão Maldita - Por Luiz Domingues


Na São Paulo dos anos setenta, apesar das naturais limitações tipicamente tupiniquins, e pelo azar em termos tido uma ditadura ferrenha a pairar no ar, o bom astral oriundo do movimento hippie, ainda fervilhava. E apesar de todas as dificuldades inerentes que uma ditadura apresentava no cotidiano, a cena cultural e artística mostrava-se intensa. Nesses termos, havia muitos espaços para shows, incluso locais nobres, onde normalmente parecia inviável a realização de shows de Rock.


Um bom exemplo dessa dinâmica, foi o histórico show dos Mutantes e do Terço, quando as duas banda uniram-se para executar um tributo aos Beatles, no ano de 1977, em pleno Teatro Municipal. Outro caso muito interessante deu-se com o Humauhuaca, banda que não detinha nem a metade da fama dos Mutantes e do Terço, mas que conseguiu lotar o Teatro Municipal, em uma sessão maldita que foi para tirar o fôlego. Ocorreu em 10 de dezembro de 1977, e eu eu estive lá com os meus amigos, para conferir um concerto de Rock, que prometia (e que cumpriu, com juros, aliás).

Estiveram presentes, centenas de freaks; Hippies & Rockers espalhados por todos os setores do magnífico templo de cultura da pauliceia. O contraste do luxo rococó da decoração do teatro, com as vestimentas dos freaks, produzira um efeito cinematográfico peculiar. Eu sentia-me no set de filmagem do filme : "Fearless with Vampires" do diretor, Romam Polanski, em meio à vampiros surrados, o que foi bem engraçado.
O cheiro do patchouli, perfume comum para nove a cada dez hippies, aromatizou completamente o teatro e confesso, tal fragrância desperta-me um sentimento de saudosismo, imenso. A expectativa foi total. Era possível sentir-se no ar, que o respeito pelo trabalho do Humauhuaca era absoluto, quase como uma reverência e sintomaticamente, penso que hoje em dia o contraste estabeleceu-se, visto que o nível de percepção do público era muito mais elevado naquela época, pois o som que a banda fazia, não era nada popular. Pelo contrário, tratou-se de um som híbrido, com bastante influência de Jazz Rock; Fusion; elementos do Folk latinoamericano; Jazz Brazuca; Prog Rock, e algo de MPB.

Não era propriamente uma banda de Rock, mas fora aceita sem reservas e mostrou-se querida pelos Rockers, pois acima de tudo, nessa época, não havia radicalismos acentuados e dessa forma, o comportamento padrão do "freak" era em torno de apreciar música com qualidade, ainda que não houvesse o rótulo "Rock" carimbado na testa do artista.


 Outro fator pelo qual eu sinto muita saudade :  a "sessão maldita" com uma banda autoral e instrumental, a lotar completamente o teatro municipal ! Você consegue imaginar algo parecido hoje em dia ? Luzes a apagar-se... a banda entra no palco e faz um concerto magnífico... o virtuosismo a favor da música e não o contrário, um conceito que também parece ter sido perdido no tempo, infelizmente.
Olhos e ouvidos atentos na música cerebral de uma banda afiada como o Humauhuaca, fazia com que o coração pulsasse forte na emoção que tais músicos provocaram. Que prazer ouvir o baixo extraordinário de um músico que já era lenda, naquela época. Olhos vidrados no hermano porteño que destruía o seu baixo Fender e era história viva. Um singelo filme a passar em minha mente : 1967  ao assistir aquele bando de hippies argentinos e cabeludos na TV, a acompanhar o baiano Caetano Veloso, que falava coisas engraçadas; 1973 e o mesmo baixista freak na retaguarda dos Secos e Molhados...

E ainda houve a presença de um baterista superb, daqueles que fazia a carcaça da bateria trepidar inteira com tanto "groove", feito que o Pedrinho "Batera" do Som Nosso de Cada Dia também era mestre em fazer. Um tremendo de um  guitarrista Rocker com alma Blues, um pianista mestre de harmonias "tortas" e um tremendo flautista... que noitada ! Amigos, eu estive lá e presenciei tudo isso.  Saudosista, eu ?
Pode ser, mas vou dizer-lhes : adoraria que tivéssemos uma nova onda sob astral tão boa quanto aquela, onde houvesse shows com bandas conhecidas ou não, toda a noite e inclusive à meia-noite, no Teatro Municipal, e com direito à um público absolutamente comprometido com a vontade de consumir música, avidamente. Foi assim que funcionou nos anos setenta, e eu desejo que volte a ser a realidade novamente, um dia. Se isso é ser saudosista, então está bem, sou mesmo...

Matéria publicada inicialmente no Blog Limonada Hippie, em 2014.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Kim Kehl & Os Kurandeiros - 24/8/2014 - Domingo / 20 H. - Diminuta Bar - Ipiranga - São Paulo / SP

Kim Kehl & Os Kurandeiros

Dia 24 de agosto de 2014

Domingo  -  20:00 Horas

Diminuta Bar

Rua Almirante Lobo, 622

Ipiranga

São Paulo  -  SP

Convidado Especial : Edu Dias - Gaita e Voz

KK & K :

Kim Kehl - Guitarra e Voz
Carlinhos Machado - Bateria e Voz
Luiz Domingues - Baixo

sábado, 16 de agosto de 2014

Victor Brecheret - Por Luiz Domingues



Se pensarmos no grafite, como expressão moderna de paisagismo urbano em São Paulo, logo surge em nossa mente, artistas como Eduardo Kobra e Os Gêmeos, como expoentes de obras significativas que estão espalhadas em vários pontos da cidade. Se pensarmos em termos de monumentos clássicos da urbanidade paulistana, é inevitável não citarmos, Victor Brecheret como um dos maiores, senão o maior escultor do século XX, cuja obra é parte viva da capital paulista.

Victor Brecheret nasceu na Itália, em  22 de fevereiro de 1895, na pequena localidade de Farnese. Seu nome de batismo era Vittorio Breheret, mas assim que chegou ao Brasil, o seu nome “aportuguesou-se” para Victor Brecheret. Já contava com trinta anos de idade quando recorreu à um cartório de São Paulo para oficializar tal nome e dessa forma ganhou cidadania brasileira, como se aqui tivesse nascido de fato.

Ainda adolescente, ingressou no Liceu de Artes e Ofícios e começou a trabalhar com gesso e mármore, ao aprender técnicas de entalhe com tais materiais. Cresceu como artista, voltou à Itália e estudou com o mestre, Arturo Dazzio. Com Dazzio, fez profundos estudos da anatomia humana e dos animais, além de aperfeiçoar-se nos fundamentos mais básicos da arte, ao aprender a manipular os materiais como barro e argila, e assim buscar a densidade perfeita, tal como o grande chef culinário a buscar o ponto perfeito do cozimento dos alimentos, ao outorgar-lhe o sabor de máxima intensidade.

Influenciado pelo pós-impressionismo, quando voltou ao Brasil, estabeleceu amizades com intelectuais como Mário de Andrade, Osvald de Andrade e artistas como Di Cavalcanti e Menotti Del Picchia. Venceu um concurso público em 1920, ao visar a construção de um grande monumento a ser construído na zona sul de São Paulo, ao apresentar em maquete, o que viria a ser o famoso Monumento ás Bandeiras. Participou ativamente da Semana de Arte de 1922, com várias esculturas expostas no saguão do Teatro Municipal de São Paulo.

Depois desse evento marcante, Brecheret alavancou a carreira de uma forma sólida, como escultor, ao manter ações em São Paulo e na Europa, simultaneamente. Só a partir de 1923, foi que começou a trabalhar efetivamente na construção do imponente Monumento às Bandeiras, que consumiu-lhe  vinte anos de trabalho, e esta obra foi apenas concluída em 1953, um ano antes da inauguração oficial do Parque do Ibirapuera, que o margeia desde então.

Ao viver entre São Paulo; Roma e Paris, ganhou prêmios; participou de importantes mostras internacionais e deixou obras públicas na França, caso da escultura : “O Grupo”, que orna um logradouro público de La Roche-Sur-Yon, na região da Bretanha.

Nas décadas de quarenta e cinqüenta, Brecheret viveu intensamente a fase mais brasileira de sua arte, bastante impressionado em retratar motivos indígenas. Através da terracota, causou estranheza aos críticos da época.

Participou da primeira Bienal de São Paulo, em 1951, quando ganhou o prêmio de melhor escultor da exposição, justamente com uma obra com motivação indígena, “ O Indio e a Suassuapara”, escultura que hoje está alojada em Antuérpia, na Bélgica.

Brecheret recebeu a incumbência de esculpir outro monumento gigantesco na cidade de São Paulo, em homenagem ao patrono do exército brasileiro, Duque de Caxias, inaugurado em 1960.

Tal obra, mediante grande proporção, também consumiu-lhe tempo e existe um vídeo no You Tube a retratar o artista em ação, ao trabalhar na obra. Pena que é bem curto, mas histórico, sem dúvida.

Outras obras incríveis são encontradas em outros pontos da cidade. Na Galeria Prestes Maia, por exemplo, podemos admirar ”Graça”, uma estupenda personalização do corpo feminino.

Pelos cemitérios mais tradicionais de São Paulo, mausoléus com esculturas incríveis de sua autoria, motivam visitações constantes da parte de artistas; historiadores e estudantes de arte.

Espalhadas por Museus e acervos particulares de colecionadores, muitas esculturas de porte médio e pequeno, são de uma beleza incrível. “Fauno”; “Deusa da Primavera”, e “Safo”, uma evocação à mitologia grega; “Fuga para o Egito” e “Madona”e “Pietá”, com motivação bíblica; “Pombas”; “Banho de Sol” e “Portadora de Perfumes”; “Vendedora de Frutas”como cenas do cotidiano; “Vitória”; “Torso Masculino”  e “Beijo”,”Depois do Banho” a mostrar a sensualidade etc.

O busto de Alberto Santos Dumont, também é obra sua, além da “Via Crucis”, na capela do Hospital das Clínicas.

A espetacular decoração de baixo relevo nas dependências do Jockey Club de São Paulo, chama a atenção pelo caráter quase a sugerir um hieróglifo.

Victor Brecheret deixou sua obra por toda parte na cidade de São Paulo, ao torná-la  como uma marca registrada da pauliceia.
Ele deixou-nos em 17 de dezembro de 1955, precocemente portanto e sem o tempo necessário para observar o impacto decisivo de suas obras na metrópole, caso mais sintomático do Monumento às Bandeiras, um verdadeiro cartão postal paulistano.

Nem preciso dizer o quanto fiquei triste quando vândalos picharam essa obra do mestre Brecheret, e rumores deram conta que manifestantes radicais planejavam destruí-lo, em meio às tais “manifestações” iniciadas em 2013. Desculpe a menção, mas obra de arte é intocável, ao meu ver, seja lá qual for a política vigente e as razões, justas ou não da parte de seus opositores (nesse caso de 2013, a história já provou que foi um fruto da manipulação torpe, portanto, pior ainda). Se os nazistas houvessem dinamitado a Torre Eiffel, como cogitaram fazer quando da iminência de sua retirada mediante derrota certa, teria sido um golpe sujo, tal qual atear-se fogo na biblioteca de Alexandria, algo ocorrido durante a antiguidade, e outros tantos exemplos em torno do vilipêndio selvagem em caráter de lesa-humanidade.

Destruir o Monumento às Bandeiras, teria sido uma barbaridade do mesmo porte. Ainda bem que não cometeu-se tal loucura.

Existe uma vasta bibliografia sobre Brecheret e a sua obra, e neste caso, a Fundação Escultor Victor Brecheret mantém um belo Site na Internet, com informações valiosas sobre a vida e obra do artista.


Recomendo visita :
http://www.victor.brecheret.nom.br/index.html

Claro, recomendo apreciar as suas obras públicas e espalhadas pelos museus, igualmente.

Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu, em 2014.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Kim Kehl & Os Kurandeiros - 15/8/2014 - Sexta / 21 H. - Gambalaia - Santo André / SP




Kim Kehl & Os Kurandeiros

Dia 15 de agosto de 2014

Sexta-Feira  -  21:00 h.

Gambalaia Espaço de Artes e Convivência

Rua das Monções, 1018

Bairro Jardim

Santo André  -  SP

Convidados Especiais :

Nelson Ferraresso : Teclados
Marcos Mamuth : Guitarra
Caio Rossi : Guitarra

KK & K :

Kim Kehl : Guitarra e Voz
Carlinhos Machado : Bateria e Voz
Luiz Domingues : Baixo

domingo, 10 de agosto de 2014

Hinos Manchados pelo Sangue - Por Luiz Domingues



Somos educados desde a tenra idade, a decorar o hino nacional e mesmo sem entender a maioria das palavras ali contidas, tendemos a não preocuparmo-nos com a interpretação de seu significado a conter metáforas; analogias e outras figuras de linguagem implícitas em sua verborragia cívica. A maioria dos hinos nacionais dos países, é antigo e isso explica muito o por quê do uso de palavras pouco usuais ao coloquial moderno, não só da nossa compreensão em português, mas a valer para todas as línguas, praticamente.

A exaltação das respectivas belezas e recursos naturais de cada país, são costumeiras, assim como o enaltecimento de características humanas observadas na cultura e psiquê de  seus respectivos povos, mas existe um dado além, que chama a atenção pela grande profusão, e trata-se do caráter bélico, contido na maioria dos hinos nacionais ao redor do planeta. Isso é compreensível, na medida em que por serem antigos, geralmente, trazem carga em anexo de uma mentalidade arcaica e arraigada em valores norteados por disputas territoriais que remontam à Idade Média e em alguns casos, até à Antiguidade. Fala-se muito no conceito da vida e morte; luta, defesa da honra e da fronteira, como o mais alto valor a ser defendido. Não é incomum observar-se nas letras dos hinos, citações de batalhas; guerras & revoluções; sangue derramado; dor e sofrimento de seu povo; restrições & penúria material etc.

Geralmente ninguém dá conta de que a mentalidade generalizada em tais composições, perpetua valores segregacionistas, com todo mundo a defender com unhas e dentes o seu pedacinho de chão, a sua língua e a cultura particular, em detrimento de uma visão mais macro do planeta, como casa de toda a humanidade, sem fronteiras como dizia o brother Lennon na sua canção, Imagine.

Em época de Copa do Mundo e Olimpíadas é que a mídia dá mais ênfase na execução dos hinos das nações participantes de tais jogos e aí, escancara-se toda essa constatação que venho a estabelecer. A começar pelo hino brasileiro, onde observa-se algumas colocações que corroboram tal tese. Por exemplo : “Verás que um filho teu não foge à luta”, nem teme, quem te adora a própria morte”...

No da Itália, seria natural que exaltassem as glórias do Império Romano, mas convenhamos, sob o fio afiado das espadas ou gládios, para sermos precisos : “Com o Elmo de Scipio, cingiu sua cabeça, onde está a vitória, lhe estenda a coma, que escrava de Roma, Deus a criou... estamos prontos para a morte, a Itália chamou... estamos prontos para a morte”...

No de Portugal, foi natural que exaltasse-se a coragem dos descobridores, via tradição marítima, mas contém truculência, também : “Ás armas, às armas, sobre a terra e sobre o mar... contra os canhões, marchar, marchar”...

Não tenho dúvida que o hino da França é um dos mais belos, senão o mais belo do planeta. Mesmo não sendo francês e não tendo nenhuma identificação com tal nação, quase todo mundo arrepia-se quando ouve a Marselhesa, todavia, quem já parou para analisar que tal hino foi criado no calor de uma revolução sangrenta e retrata na sua letra, ipsis litteris, um banho de sangue, ainda que a lutar por nobres ideais de liberdade  (bem entendido, para a situação daquela época) ?

Nem reproduzirei trechos da letra, porque nesse caso, a letra inteira exalta os cidadãos a marchar, lutar e derramar o seu sangue...

O hino inglês exalta a monarquia e isso não surpreende em nada, ao levar-se em conta o tradicional espírito conservador britânico. Mesmo ameno e formal, tem lá seu lado raivoso : “Ó senhor nosso Deus, venha dispersar seus inimigos... e fazê-los cair... confunda sua política, frustre seus truques fraudulentos”...

O México expressou em seu hino, o trauma da dizimação dos povos pré-colombianos, através dos ataques perpetrados pelos colonizadores espanhóis, pois fala em defesa do solo, que cada cidadão é um soldado em potencial e a espada dos arcanjos está ao seu lado para a eventualidade... caso parecido como hino da França, abstenho-me de reproduzir frases, pois é inteiro calcado nesses valores em favor do belicismo.

De nosso vizinhos argentinos, o espírito libertador do jugo colonialista europeu, espírito comum em todos os países latinoamericanos, nos traz a frase emblemática : “Coroados de glória vivamos, ou juramos com glória morrer”...


A Argélia mostra também o seu lado de exaltação da força em defender-se : “Juramos, pelo raio que destrói, pelos rios de generoso sangue derramado... somos soldados em revolta, pela verdade”...

A Grécia traz o enaltecimento do seu passado da antiguidade tal como a Itália que cita Roma, mas ao invés de exaltar a sua cultura privilegiada de outrora, via filosofia e artes, fala do belicismo : “Reconheço-te pelo gume do teu terrível gládio”...

Enfim, para não tornar esta matéria gigantesca, encerro por aqui, mas acredite amigo leitor, os hinos nacionais, salvo honrosas exceções, ainda trazem como teor de suas exaltações, o espírito bélico em seu bojo, sob uma visão nada amistosa da convivência entre os povos e a considerar que na verdade, a casa onde moramos, o planeta Terra, pertence a todos e a divisão com arame farpado, de pequenos terrenos, é mera invenção sociopolítica e ultrapassada em termos humanistas.
Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica, em 2014

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Tomada & Pedra - Dia 10/8/2014 - Domingo - 18 h. - Centro Cultural São Paulo

Pedra & Tomada

Dia 10 de agosto de 2014

Domingo - 18:00 h.

Centro Cultural São Paulo

Rua Vergueiro, 1000

Estação Vergueiro do Metrô

São Paulo - SP

Ingresso : R$ 15,00


Kim Kehl & Os Kurandeiros - Dia 8/8/2014 - Sexta - 21:30 h. - Santa Sede Rock Bar - Santana - São Paulo / SP

Kim Kehl & Os Kurandeiros

Dia 8 de agosto de 2014

Sexta-Feira  - 21:30 horas

Santa Sede Rock Bar

Avenida Luiz Dumont Villares, 2104

Santana - Estação Parada Inglesa do Metrô

São Paulo - SP

KK & K :

Kim Kehl : Guitarra e Voz
Carlinhos Machado - Bateria e Voz
Luiz Domingues - Baixo

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Queen : No Synthesizers ! - Por Luiz Domingues


Todos os álbuns do Queen, até o "The Game", lançado em 1980, continham uma frase de efeito grafada na contracapa ou na ficha técnica do seu respectivo encarte, com os dizeres : "No Synthesizers" ! Essa menção com ares de uma verdadeira "palavra de ordem", soava enigmática nos anos setenta para todo Rocker acostumado com o uso de sintetizadores por inúmeras bandas, principalmente no universo do Rock Progressivo e as suas tantas ramificações.

Por exemplo, na vertente do Krautrock, (com origem, como deduz-se pelo nome, germânica), onde o contato com experimentalismos de toda ordem fora notório, o uso de tais teclados multifacetados e tecnologicamente avançados para os padrões daquela época, foi algo usual e bastante apreciado. Ainda a discorrer sobre o KrautrocK setentista, bandas de tal cena germânica, como o "Tangerine Dream"; "Can"; e principalmente o "Kraftwerk", mantinham em tais recursos, a força motriz de seus respectivos trabalhos. Ainda que no campo do Hard-Rock, mesmo que o seu uso fosse bem mais moderado, muitas bandas usavam-no com criatividade e há um caso sintomático também na cena do Glitter-Rock, onde Brian Eno pilotara sintetizadores no trabalho do Roxy Music, ao conferir-lhe a aura futurista "Glam".

O Queen surgiu no panorama britânico setentista, dentro da safra de bandas que fizeram a cena do Glitter Rock. Se David Bowie e o T.Rex de Marc Bolan foram os dois maiores expoentes dessa vertente, houve outros tantos artistas dentro dessa vertente. "Slade"; "Mud"; "the Glitter Band"; "Silverchair"; "Wizzard"; "The Troggs"; "Roxy Music"; e o "Mott the Hoople", são bons exemplos a ser lembrados e o Queen surgiu desse caldeirão, como uma banda emergente que costumava abrir os shows do Mott the Hoople.

Biógrafos e historiadores do Rock afirmam que o Queen destacou-se tanto que "engoliu" o Mott, ao causar-lhe o constrangimento em notabilizar-se como uma banda muito melhor que a de Ian Hunter & Cia. Eu não aprecio esse tipo de comparação, mesmo por que, a despeito do Queen realmente ter causado furor, o Mott The Hoople sempre foi uma boa banda e não houve portanto, demérito algum em seu trabalho, pelo contrário, basta ouvir os seus discos.

Contudo, o fato é que a canção : "Keep Yourself Alive", explodiu como single nas rádios britânicas em 1973, e o Queen entrou rapidamente no imaginário dos Rockers, como uma banda que apesar de aparentemente ser oriunda da escola do Glitter, por conter elementos mais pesados em sua música, mais a assemelhar-se ao Hard-Rock, chamou muito a atenção. Além das múltiplas outras influências que deu-lhe um horizonte mais largo, onde o Folk; Lírico; Vaudeville; e até o Rock Progressivo. encaixou-se em sua obra.  Porém, a curiosa frase grafada na capa do primeiro álbum : "No Synthesizers !", soou enigmática sob um primeiro momento. Como assim ?

A banda  colocara-se como institucionalmente avessa ao uso de sintetizadores em sua música. Então veio o segundo álbum e de novo, o Queen enfatizou que não usava sintetizadores em sua música.

Trataou-se de uma banda que usava apenas instrumentos tradicionais e vozes, e que pareceu orgulhar-se em não "conspurcar" a sua música com tais recursos eletrônicos etc e tal.

E assim foi em frente, disco após disco, até chegar ao álbum :"The Game", lançado em 1980. Já nos anos oitenta, a banda abandonou tal discurso de forma acintosa e ao avançar pelo Pop oitentista, mergulhou posteriormente em um álbum com roupagem "Techno Pop" e muito aquém do seu padrão habitual de qualidade. 

O LP "Hot Space", de 1982, usa e abusa de disparos eletrônicos e não foi à toa que ele geralmente consta de listas elaboradas por críticos, como um dos piores discos da história, infelizmente. De volta aos anos de glória de sua Majestade, a grande Rainha formada por : Mercury; May; Taylor & Deacon, fez questão em afirmar que não usava sintetizadores em sua obra, por que esmerava-se em criar tessituras incrivelmente complexas em seus arranjos.

O esmero, principalmente da parte do guitarrista, Brian May, em gravar dúzias de guitarras para abrir inúmeras vozes (falo no sentido harmônico / melódico e não a referir-me à vozes humanas, neste caso), inclusive em solos, foi algo extraordinário. Deve ter gerado um trabalho insano, mas o resultado final escutado no áudio do Queen, é incrível. Tal delicadeza melódica remetia ao talento de composição e arranjo de compositores eruditos sofisticados, capazes em enxergar possibilidades sutis, que ouvidos leigos nem sonhavam captar.

Essa tornou-se, sem dúvida, uma das marcas registradas do Queen e do som particular de Brian May, como guitarrista, em termos de timbre e estilo, único. Outra marca registrada, e que faz com que entendamos essa determinação do Queen em abominar sintetizadores em seus melhores anos da carreira, sem dúvida foi no quesito dos arranjos vocais.

A mesma obsessão que movia Brian May para criar diversas dobras de guitarra, assim permitir que a banda soasse muitas vezes como uma orquestra de cordas, foi também proporcionada por Freddie Mercury e Roger Taylor em meio aos esforços empreendidos em prol dos arranjos vocais. É público e notório que Mercury e Taylor tinham vozes privilegiadas, com May a dar um bom apoio e Deacon, eventualmente, a contribuir, igualmente. Nesses termos, o esforço que a banda fez para criar backing vocals bastante requintados e em alguns casos até com certo exagero, supriu plenamente a falta de sintetizadores, certamente.



Diante de verdadeiros corais, com muitas dobras de vozes, o Queen impressionou-nos pelos malabarismos vocais. Dessa forma, todos esses esforços empreendidos através de horas e horas de estúdio para criar tantas camadas de vozes e guitarras, talvez os tenham levado à esse sentimento de orgulho por apresentar um trabalho tão rico, harmônica e melodicamente a falar, e assim dispensar o uso de sintetizadores. Foi uma pena, portanto, que na década de oitenta, talvez movidos pelo sentimento em adaptar-se às estéticas vigentes, a banda tenha abandonado tal purismo e cometido deslizes imperdoáveis como o sofrível LP "Hot Space".

No meu caso em particular, fico mesmo com os quatro primeiros álbuns, que são os meus prediletos da discografia do Queen : "Queen"; "Queen II"; "Sheer Heart Attack" e "A Night at the Opera". E também deixo a ressalva de que não sou contra os sintetizadores. mesmo por que, o seu uso nos anos setenta, foi quase sempre muito salutar, principalmente para as bandas que militaram na vertente do Rock Progressivo.

Matéria publicada inicialmente na Revista impressa : Gatos & Alfaces, nº 3, de maio de 2014.