sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Seriado de TV : The Twilight Zone (Além da Imginação) - Por Luiz Domingues



“Há uma quinta dimensão além daquelas conhecidas pelo homem. É uma dimensão tão vasta quanto o espaço, e tão desprovida de tempo quanto o infinito. É o espaço intermediário entre a luz e a sombra, entre a ciência e a superstição; e se encontra entre o abismo dos temores do homem e o cume de seus conhecimentos. É a dimensão da fantasia. Uma região além da imaginação”. 

 Foi com uma apresentação enigmática assim, que o produtor e roteirista, Rod Serling costumava anunciar o início de cada novo episódio do seriado : “The Twilight Zone” (“Além da Imaginação”), durante as noites de 1959 e 1960, período onde aconteceu a primeira temporada de uma série que revolucionaria a produção de TV na América, com repercussão em quase todo o planeta, incluso o Brasil, naturalmente.
Rod Serling já era roteirista de TV e detinha relevante participação em alguns programas da TV norteamericana tais como : “Patterns”(um drama ousado sobre o mundo corporativo), e “Requiem for a Heavywight”, um teleplay ambientado no mundo do Boxe, e que gerou vários desdobramentos, incluso versões internacionais em países europeus. Mas foi em "The Twilight Zone" que a sua genialidade como roteirista e produtor foi realmente exaltada.
Incomum para os padrões da época, The Twilight Zone foi um seriado centrado em temas intrigantes à imaginação dos telespectadores, aberto sob um leque vasto que ia do Sci-Fi ao terror; do surrealismo à fantasia; do thriller psicológico à loucura total. Sem uma história alinhavada; sem personagens fixos e sem continuidade, cada episódio representava um conto com aproximadamente vinte e cinco minutos, de duração, no padrão de metragem comum às “sitcoms”, mas neste caso, sem recorrer ao humor.
Com orçamento modesto, Serling caprichava nos roteiros para prender a atenção dos telespectadores naqueles poucos minutos, mas sobretudo, contava com a habilidade de seus diretores e atores para dar o recado ao provocar sustos, e fazer com que as pessoas pensassem e acima de tudo, a oferecer-lhes soluções metafóricas e subliminares que fizeram história na TV.
A febre cinquentista de Sci-Fi que assolou a América daquela década, calou forte igualmente na alma de Serling. O medo do extermínio nuclear promovido pela Guerra Fria também foi tema recorrente no seriado.
Viagens pelo tempo; troca de identidade; amuletos com poderes sobrenaturais; presença de alienígenas, entidades fantasmagóricas; máquinas com vida própria... foram muitos os argumentos usados ao longo de 156 episódios que compuseram as cinco temporadas.
Alguns episódios são primorosos pela engenhosidade de roteiro. Um exemplo disso está em : “Eye of the Beholder”, por exemplo, um episódio da segunda temporada, onde a perspectiva da narrativa é a de uma moça que sofreu uma intervenção cirúrgica muito agressiva para efetuar correções estéticas necessárias, para tentar recuperar a sua autoestima.
Em momento algum vê-se os rostos de médicos e enfermeiros, e apenas ouve-se a conversação, com os profissionais a tentar preparar a moça psicologicamente para o pior, e quando enfim tiram-lhe as bandagens, vem o choque : de nada adiantou a cirurgia plástica para recuperar o seu rosto. Desesperada, a moça sai a correr pelos corredores do hospital, quando constatamos que ela era perfeita...
Contudo, finalmente vemos os médicos e enfermeiras e todos são deformados como personagens de uma pintura cubista, mas não fora para menos, pois ali era outro planeta e a anatomia humanóide ali era assim, e gente “como nós”, eram consideradas aberrações...

Em suma, uma bela metáfora sobre as diferenças; preconceitos e aceitação.
Como um outro bom exemplo a destacar a criatividade desse seriado, cito o episódio : “Time Enough at Last”, onde um funcionário de uma corporação mostra-se como um apaixonado por livros, mas vive a ser repreendido pelos seus superiores e pela própria família, a coibir-lhe tal paixão, que segundo a opiniçao dos que o cercam, toma-lhe “tempo”. “Time is Money”, como os norteamericanos tanto gostam em enfatizar...
Todavia, uma hecatombe acontece e ele vê-se sozinho no planeta, como único sobrevivente. Em princípio ele desespera-se pela solidão repentina, mas logo percebe que aquele cenário, na verdade, representaria tudo o que sonhara, pois havia comida suficiente para sustentá-lo até seus últimos dias, e sobretudo, não havia mais ninguém que o impedisse em ler todos os livros das bibliotecas de New York, a vontade... contudo, ironia do destino, e através de um acidente lastimável, os seus óculos espatifam-se no chão e assim... adeus à possibilidade em poder ler... uma notável metáfora sobre a solidão e também a respeito de como a motivação pode conter alicerces frágeis para atingir-se algum objetivo na vida.
Um outro episódio extraordinário (“Where is Everybody” ?), é o do astronauta que aterrissa em uma pequena cidade interiorana, inteiramente vazia. A sua busca frenética para encontrar alguém trata em enlouquece-lo, até que exausto, é recolhido por paramédicos do exército e claro, aquilo fora apenas um treinamento em que fora submetido para testar a sua capacidade para enfrentar a solidão.
Em “The Lonely”, apresenta-se uma situação futurista onde condenados cumprem penas, não em penitenciárias tradicionais, mas em colônias penais localizadas em outros planetas, e um prisioneiro recebe como bônus da justiça, uma robot com aparência perfeita de mulher, e diante de sua solidão atroz em um planeta inóspito, claro que esse homem apega-se à ela. Quando a sua pena expira e uma diligência penitenciária vai resgatá-lo para trazê-lo de volta à Terra, ele desespera-se quando informam-lhe que por uma questão de segurança, a robot não pode embarcar junto ! Então, para os agentes penitenciários “aquilo” era seria apenas um robot, mas para ele, representara a sua companheira querida...



Em “Perchance to Dream”, um homem tenta a todo custo não dormir, pois tem a convicção de que ao adormecer, morrerá. É a luta do homem contra o inevitável.
Em “Third From the Sun”, o mundo vive o horror do holocausto nuclear iminente e um cientista envolvido na construção de um foguete, faz de tudo para embarcar com a sua família e tentar salvá-la do extermínio final. O foguete parte enfim, e ao aproximar-se de um planeta habitável, o telespectador toma consciência de que essas pessoas aproximam-se na verdade, é da Terra e não o contrário, como deveríamos supor...


Em “Shadow Player”, um homem vive um pesadelo interminável. Todo dia, tenta convencer as pessoas que é inocente de uma acusação cuja sentença é perder a sua vida, mas nada consegue demover as pessoas, e ele vai para a execução e começa a sonhar tudo de novo. Uma impressionante visão sobre a agonia e insuportável falta de esperança ante a injustiça.
“The Shelter” trata da paranoia nuclear novamente. Em uma pacata cidade interiorana, constrói-se um abrigo, mas ele é insuficiente para todos e durante um alarme, a mesquinharia para ocupar espaços expõe a podridão humana ao extremo. No final, constituíra-se apenas de um alarme falso, mas ninguém mais conseguiu ser igual depois dessa demonstração de egoísmo exacerbada.
“Deaths-Head Revisited” é um dos mais impressionantes episódios ao meu ver. Um ex-carrasco nazista é aprisionado e julgado por fantasmas de pessoas que torturou e matou em um campo de concentração, na Segunda Guerra Mundial. Diálogos fortes são a tônica desse episódio.
“Once Upon a Time” é pungente e emocionante. Um homem que vive em 1892, coloca um elmo a conter uma estranha tecnologia anacrônica para o seu tempo e aparece sem explicações em 1962. Atônito por estar no “futuro” que não compreende, coloca-se em confusões mil e tudo é valorizado ao extremo pelo fato do ator protagonista ser ninguém menos que, Buster Keaton, um grande astro cômico dos primórdios do cinema e também pelo fato de toda a ação passar-se como em um velho episódio do cinema mudo das décadas de dez e vinte do século vinte, época em que Buster Keaton foi um astro na vida real.
“Five Charaters in Search of an Exit” é um episódio enigmático e intrigante. Cinco pessoas que não conhecem-se entre si, encontram-se em um estranho ambiente, aparentemente sem saída. A sua luta para entender o que passa e sobretudo tentar achar uma saída para tal situação inusitada, toma o episódio inteiro, ao prender a atenção do telespectador até o fim. O que fazem ali presos nessa saleta, um major do exército; uma bailarina; um palhaço; um tocador de gaita de fole e um mendigo ? Ao final, tudo esclarece-se quando percebemos que tais pessoas eram na verdade cinco bonecos de plástico, guardados em uma caixa de brinquedos deixada ali por uma criança.

Em “Kick the Can”, um idoso tem a epifania de que pode voltar a ser criança, se permitir-se agir como tal. Ele tenta convencer os demais idosos do asilo onde mora, mas poucos dão-lhe ouvidos. Mas de fato, ele e quem acreditou nisso, voltou a apresentar uma forma infantil e assim, fugiram do asilo. Uma bela metáfora sobre a idade mental; estado de espírito; criança interior eternizada etc. 

Eu poderia descrever muitos outros episódios tão interessantes quanto, entretanto a matéria ficaria gigantesca. Dos 156 episódios produzidos, é difícil achar um que não seja criativo.
Nem todos os episódios de The Twilight Zone foram escritos por Rod Serling, mas este escreveu quase cem dos 156 episódios produzidos. Roteiristas como Richard Matheson; Charles Beaumont; Montgomery Pittman e Earl Hamner Jr. também colaborou.
A direção de arte teve muita influência de artistas como Salvador Dali e Rene Magritte.  A opção por motivações surrealistas em muitos episódios conferiu uma onírica para ilustrar certas nuances que evocavam a paranormalidade, ou simplesmente deixavam a dúvida no ar sobre ser real ou metafísico.
Na parte musical, Serling contou com diversos compositores experientes da TV para colaborar (Bernard Hermann; Jerry Goldsmith; Nathan Van Cleave, e o francês, Marius Constant, entre outros). Um dos temas mais bonitos, lembra a atmosfera beatnick novaiorquina dos anos cinquenta, com um tema movido pela ação da guitarra e bongô, bem jazzístico e sensacional. Já a partir de 1959, quando de sua estreia, a crítica adorou o seriado, mas os números da audiência não foram estrondosos, na mesma proporção.
Tanto foi assim, que apesar de ter durado por cinco temporadas, "The Twilight Zone" viveu na corda bamba, sempre ameaçada pela iminência do cancelamento, a sugerir problemas com patrocinadores e corte substancial de verbas, haja vista que muitos episódios foram filmados sob um padrão de fotografia inferior, ao utilizar-se o Vídeo Tape de TV, ao parecer um padrão de novela, com bastante estouro de contraste, inclusive.
No Brasil, fez muito sucesso, desde 1960, quando por aqui começou a ser exibida.
Em minha lembrança pessoal, já a partir de 1962, apesar de minha tenra idade nessa ocasião, eu não perdia um episódio. Claro que não entendia a sutileza das metáforas, mas achava aquela atmosfera de mistério, sensacional e daí em diante, The Twilight Zone tornou-se uma paixão eterna.
Rod Serling criaria ao final dos anos sessenta, outra série sensacional, chamada : “Night Gallery” (Galeria do Terror), esta mais centrada no terror, propriamente dito, ao lembrar bastante a atmosfera lúgubre encontrada nos filmes da produtora britânica, Hammer. Aliás, é de um episódio dessa série que Steven Spielberg estrearia como diretor.
Fã incondicional de Serling, Spielberg produziria uma homenagem ao seu mestre, quando colocou no ar uma “volta” de "The Twilight Zone“, no formato de TV Movie, no início dos anos oitenta e isso motivou a CBS a criar episódios inéditos, ainda nessa citada década, a utilizar a tecnologia moderna da época etc e tal, mas como todo remake, apesar da extrema boa vontade da parte dos envolvidos em tal produção, ficou aquém do glamour da série original, apesar da devoção que Spielberg e outros que auxiliaram-no, mantinham pela série original.
Uma terceira tentativa em recriar o clássico foi feita no início dos anos 2000, com o ator, Forest Withaker, a fazer a narração ao estilo de Serling, mas também não logrou êxito, apesar de Forest também ter sido um grande fã da série original. Recentemente (2014), o diretor, JJ Abrams (Alias; Lost; Star Trek), anuncia pré-produção de um longa que seria a cinebiografia de Rod Serling. Aguardemos...
Rod Serling faleceu em 1975, vítima de complicações nas vias respiratórias graças ao anos e anos em ter adotado a prática do tabagismo, como um fumante inveterado que infelizmente ele foi, e por conta desse hábito, debilitou-se.
Há anos na América, todos os episódios já haviam sido lançados no formato VHS para colecionadores, e posteriormente isso ocorreu igualmente em relação aos formatos DVD e Blue Ray. Recentemente foi lançados no Brasil os dois Box-Set DVD das duas primeiras temporadas. Ao que tudo indica, serão lançadas as três temporadas derradeiras, para fechar-se o ciclo para os colecionadores brasileiros. Na edição nacional, existe a possibilidade em haver legendas com o som original em inglês, mas também a opção da dublagem brasileira de época. O áudio não é dos melhores, mas a dublagem feita em português da época, com o sotaque brasileiro, é sensacional.
Os extras deixam a desejar pela sua pouca profusão, no entanto, é positivo verificar as intervenções de Rod Serling a anunciar a “atração da semana que vem” e alguns comerciais norteamericanos de época, então patrocinadores do seriado.
The Twilight Zone é uma das mais sensacionais séries norteamericanas já produzidas. Trabalhou com um mundo de possibilidades fora do comum, ao ativar a imaginação de milhares de telespectadores e assim abrir-se o campo imenso para um sem número de interesses desencadeados pelo surreal; não usual; paranormal; alienígena; inexplicável; oculto; místico; tecnológico; onírico; lisérgico; shamânico, e um mundo de outras possibilidades abertas através dos episódios dessa criação de Rod Serling.
Não canso-me em ver e rever, e sempre acho, por incrível que pareça, um aspecto novo, nunca antes notado. Portanto, eu recomendo esse seriado clássico, com toda a certeza ! 

sábado, 20 de setembro de 2014

TV Excelsior, Adorável e Odiada - Por Luiz Domingues




Em um ambiente ainda a mostrar-se inicial para a TV brasileira, as principais emissoras em São Paulo, e que brigavam pela audiência, foram as emissoras : TV Tupi e a TV Record, com a TV Paulista a apresentar uma situação mais modesta, ao amealhar poucos pontos das duas líderes e a TV Cultura, a atravessar a sua fase como uma entidade particular (só ressurgiria como uma emissora estatal em 1969), também em condições mais modestas em termos de  investimentos. Nesse cenário, o empresário e radialista, Victor Costa detinha a concessão para abrir mais um canal na cidade, visto que já era dono da TV Paulista.




Nesse processo para abrir um novo canal, ele não entrou sozinho em tal aventura, mas teve apoio de empresários bem sucedidos e para sorte do público, com mentalidade progressista, interessados em fazer dessa emissora, uma difusora de cultura, sob um patamar acima do popular, e assim privilegiar a observação da arte de qualidade a ser difundida.



Victor Costa teve, portanto, o respaldo de empresários como José Luis Moura e Mário Wallace Simonsen, ambos cafeicultores de Santos / SP, que estavam empenhados nessa ideia para fazer da nova emissora, uma difusora de programação seleta, sem grande preocupação em atender pressões para agradar ao máximo a audiência, portanto, sem o intuito em ser popularesca.
Com apoio do jornalista João de Scantimburgo e de Ortiz Monteiro, deputado federal à época, montaram a estrutura inicial para a TV Excelsior de São Paulo entrar no ar. Inicialmente, a antena da nova emissora foi colocada na Rua da Consolação, esquina com a Avenida Paulista e os estúdios foram montados na Avenida Adolfo Pinheiro, no Brooklin, bairro da zona sul de São Paulo. Logo foi possível alugara-se o Teatro Cultura Artística, no centro da cidade e ali usaram-no para as produções de auditório, programas que fizeram grande sucesso em sua grade.
O empresário, Simonsen, era dono da Pan Air do Brasil, e nessa histórica companhia aérea brasileira, ele havia implantado uma política interna de remuneração muito acima dos padrões de mercado, ao instituir um ambiente muito bom, onde os seus funcionários trabalhavam com uma improvavel motivação extra, por sentir orgulho da empresa, pelas ótimas condições que recebiam. Tal mentalidade mais participativa, com valores humanistas embutidos, assemelhara-se à práticas muito progressistas dentro do mundo corporativista capitalista e foi obviamente algo avantgarde para os padrões do final dos anos cinquenta e início dos sessenta.
Tal mentalidade foi levada para a emissora, mas seria um fator a mais para a sua derrocada tempos depois, não pelos fatores econômicos em si, mas por perseguições de cunho ideológica. Simonsen adquiriu a parte de Victor Costa e a emissora voava em céu de brigadeiro, como a Pan Air, para agradar ao público com a sua programação de qualidade, nos primeiros anos da década de sessenta. E que qualidade...

Bibi Ferreira mantinha o seu “Brasil 60”, um musical sensacional que nos anos posteriores avançou a acompanhar a cronologia : “Brasil 61”, “Brasil 62” etc.
Sempre a buscar a novidade, em 1962, a Excelsior  tentou transmitir em cores (Programa Moacyr Franco Show), no sistema NTSC que não deu certo no Brasil. O sistema em cores somente seria implantado dez anos depois, em 1972, quando vingou oficialmente no Brasil, com o sistema Pal-M, de tecnologia germânica, todavia, a Excelsior não existiria mais para usufruir dessa nova tecnologia da transmissão. 

Ainda em 1962, a TV Excelsior inaugurou novas instalações em complexo localizado na Vila Guilherme, na zona norte de São Paulo, e que posteriormente foi comprado por Silvio Santos para abrigar a sua TVS / SBT, e hoje em dia ali funciona um mega templo de uma denominação evangélica.
Em 1963, inaugurou-se a sua filial no Rio de Janeiro, ao usar como auditório, o antigo cinema Astória no bairro de Ipanema, na zona sul carioca, e logo de início a apresentar um musical vistoso : “O Rio é o Show”, com a presença de grandes nomes da MPB de então. Ao contrário da TV Tupi, que demorou a planificar-se como uma Rede com alcance nacional (havia até um clima hostil e de rivalidade entre a Tupi de São Paulo e a do Rio, ao tratar-se mutuamente como inimigas e concorrentes), a Excelsior tratou logo em expandir-se e depois do Rio, chegou à Belo Horizonte e outras capitais, como uma rede unida e coesa.
Ainda a falar da grade de programação, a TV Excelsior primou pelo acervo de filmes e séries de qualidade. As suas sessões de cinema com a exibição de clássicos, foi sempre notável.
No campo das séries, foi através da Excelsior / Rio, que “Star Trek” – “Jornada nas Estrelas, chegou ao Brasil em 1966, por exemplo.
Outros musicais incríveis a destacar-se : “Dois na Bossa”e “O Brasil Canta no Rio” com a nata da MPB a apresentar-se ali, como por exemplo, Elis Regina; Eliana Pittman e Jorge Benjor (na época, Jorge Ben), e outros tantos talentos em início de carreira, além de gente já consagrada como, Os Cariocas, e muito mais artistas de alto quilate.
A emissora investiu também nos programas humorísticos de auditório, onde “Times Square” destacou-se e de fato, marcou época. Quando a Jovem Guarda explodiu na TV Record de São Paulo, a TV Excelsior também abriu espaço para a dita “música jovem”, com Os Incríveis a comandaro um programa (Programa “Os Incríveis”), e Ronnie Von, outro (“Assim Caminha a Juventude”).
No campo do jornalismo, a TV Excelsior também esforçou-se para manter uma cobertura moderna e muito eficaz. O “Jornal de Vanguarda” é um exemplo que marcou época, já a antecipar o modelo de jornalismo que nortearia o futuro imediato, na década posterior, de setenta. Apesar de parecer incoerente com a proposta inicial em manter-se em um padrão cultural elevado, em termos de difusão cultural dentro dessa emissora, é fato que a TV Excelsior aventurou-se na dramaturgia, com novelas, também, esbarrou no aspecto mais popular. E por um bom tempo, tal emissora concorreu com a TV Tupi, que liderava a audiência nesse quesito em específico, ao lançar novelas, igualmente e em alguns casos, muitas entraram para a história do gênero, caso de “Redenção”, que está registrada como a novela de maior duração na história desse gênero, no Brasil, com mais de dois anos de exibição e um número absurdo de capítulos, 596 para ser preciso.
“A Pequena Orfã”; “ A Muralha”; “Sangue do meu Sangue”; “Os Fantoches”, entre outras, são exemplos de sucessos da Excelsior, além de “2-5499”, considerada a primeira telenovela com exibição diária, na TV brasileira, fato ocorrido em 1963. Muitos atores que eram funcionários da TV Excelsior migraram para o elenco da TV Globo, assim que a Excelsior fechou as suas portas. Tarcísio Meira; Francisco Cuoco; Glória Menezes; e Regina Duarte, entre muitos outros, eram atores & atrizes do time da Excelsior. Ivani Ribeiro, uma autora histórica, por exemplo, escreveu diversas novelas para a TV Excelsior.
Outro fator que deixou saudade foram as vinhetas musicais, ao antecipar em muitos anos tal ação da parte de outras emissoras, que somente a partir das décadas posteriores usariam tal recurso em larga profusão. Se a Excelsior foi uma emissora adorável, com nobres princípios e querida do público, mas por qu?e fechou as suas portas então ?
Pois o empresário, Simonsen, detinha ideais democráticos; legalistas e liberais e quando o regime autoritário instaurou-se em 1964, ele tornou-se um desafeto natural das autoridades de então. A sua empresa aérea, Pan Air, foi defenestrada, até fechar as suas portas e a TV Excelsior não teve outro tratamento por parte do governo. A censura foi implacável para prejudicar a programação da TV Excelsior, ao causar-lhe um grande prejuízo. Os incêndios de suas instalações em 1969, foram considerados muito suspeitos e as ações da repressão para prejudicar a emissora, mostraram-se  acintosas e vergonhosas.
Em repúdio, a emissora não editava as partes censuradas e deixava a imagem de seus mascotes, o menino, “Paulinho”, e a menina, “Ritinha”, com mordaças em suas respectivas bocas, a escancarar a arbitrariedade imposta pela perseguição, e isso irritava profundamente os governantes. O golpe fatal deu-se em 1970, quando a emissora já estava totalmente sucateada e nem pertencia mais à Simonsen, que vendera a sua massa falida ao grupo Folha de S.Paulo.
Por meio de uma manobra financeira, o governo exigiu que uma dívida tributária pesada fosse paga em poucos dias, para estrangular de vez a emissora. Sem chances para levantar 170 milhões de cruzeiros em poucos dias e sob uma ação deliberadamente agressiva com outros propósitos, os agentes da derrocada conseguiram lograr êxito, e eliminaram a TV Excelsior do mercado. Em 1º de outubro de 1970, o jornalista, Ferreira Neto, entrou de forma afoita no estúdio, ao interromper a exibição de um programa humorístico que acontecia ao vivo (“Adélia e suas Trapalhadas”), e aos prantos, afirmou que as autoridades haviam decretado o fim da emissora !
Mal teve tempo para terminar o seu depoimento dramático e a emissora saiu do ar, pois funcionários do “Dentel”(Departamento nacional de telecomunicações”, órgão estratégico do governo para controlar as emissoras de Rádio e TV), já encontravam-se na central técnica da Excelsior, para cortar o sinal da emissora. 

Recentemente um processo foi iniciado na justiça e existe uma perspectiva em que a concessão para a TV Excelsior voltar a operar seja revista. Não conheço os meandros desse processo, portanto não posso adiantar nada sobre o caso em termos jurídicos e sobretudo financeiros, de uma operação desse porte.
A única notícia que eu posso repassar, como simples telespectador que assistiu muito a TV Excelsior na década de sessenta, é que sob um momento tétrico em que vivemos no campo cultural, onde a subcultura de massa dominou todos os espaços das TV’s abertas e já contaminou a TV fechada, por incrível que pareça, uma TV Excelsior de volta ao mercado, com aquela mentalidade que manteve há cinquenta anos atrás, seria um oásis em meio à essa glorificação do subsolo da anticultura, como temos observado nos últimos anos. Mero sonho, pois tal perspectiva é apenas uma pálida possibilidade e tem sido constantemente ironizada em editoriais de algumas emissoras que sobreviveram à derrocada da Excelsior, ao sinalizar por outro lado que uma possível volta da velha Excelsior,  incomodá-lo-iam. Fica essa reflexão para o leitor : mesmo com quase trinta anos passados do regime autoritário ter findado-see assim confirmada a volta ao estado democrático de direito, a Excelsior ainda incomoda os retrógrados ? Isso explica muita coisa no âmbito cultural atual...
Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu, em 2014.