sábado, 6 de setembro de 2014

Filme : Taking Off (Procura Insaciável) - Por Luiz Domingues

She’s leaving home, bye, bye...

Na letra da linda canção dos Beatles, "She's Leaving Home", Paul McCartney detectara já em 1967, um fenômeno social que crescia na Europa e nos Estados Unidos, principalmente : adolescentes empolgados com o crescimento do Movimento Hippie, estavam a sair de casa, inebriados pela ideia em buscar a aventura em viver como nômades em comunidades hippies, que multiplicavam-se ao redor do planeta.
A despeito dessa euforia por uma vida livre, ao sonhar com uma nova sociedade pautada por valores menos massacrantes e egoístas dos que o da sociedade tradicional, foi evidente que a opinião pública conservadora assustou-se com essa tendência que crescera sob uma proporção geométrica e dessa forma, o conservadorismo reagiu. Reação essa que ajudou a minar o lado bom do movimento, mas convenhamos, houve também as distorções inerentes, e se a pureza de propósitos existiu por parte da maioria, houve também oportunistas para minar, e aproveitar-se da situação, mediante interesses escusos.
Foi dentro desse contexto que o diretor Tcheco, Milos Forman, filmou : “Taking Off” (“Procura Insaciável”), o seu primeiro filme fora da Europa, após radicar-se nos Estados Unidos. A ideia inicial começara ainda em 1968, na França, quando ele começou a elaborar o roteiro com a parceria do roteirista francês, Jean Claude Carriér. Todavia, já instalado nos Estados Unidos, em 1970, Forman recebeu a ajuda providencial do diretor norteamericano, John Klein.
Forman estava muito impressionado com o movimento Hippie que via expresso pelas ruas de Nova York, principalmente com manifestações teatrais espontônaneas, realizadas ao ar livre em logradouros públicos e certamente apaixonara-se pelo espetáculo : “Hair”, que mostrava-se como um sucesso retumbante desde 1968. De fato, ele culminou em adquirir os direitos para produzir “Hair” no cinema, em 1976, e o lançou enfim, em 1979. No entanto, “Taking Off” surgiu ali no calor dos acontecimentos, ao ter sido filmado no verão de 1970, e lançado em 1971.
Apesar de seu entusiasmo com o projeto, Forman não conseguiu convencer os executivos a conceder-lhe uma verba razoável, e dessa forma, teve que contentar-se com “parcos” oitocentos mil dólares, ou seja, muito dinheiro para uma pessoa comum, mas a revelar-se como uma verba irrisória para os padrões do cinema norteamericano. Mesmo assim, Forman usou bem o dinheiro "mínimo" que recebeu e fez um filme muito interessante, ao ponto em que arrebatou vários prêmios, entre os quais, a Palma de Ouro do Festival de Cannes.
A história gira em torno de uma grande confusão ocorrida dentro do cotidiano de uma família típica de classe média dos Estados Unidos, a desvelar esse desespero que rondava os lares durante os anos sessenta e boa parte dos setenta, a respeito dos adolescentes que desapegavam-se dos valores materialistas do capitalismo norteamericano, ao desprezar o estilo de vida pautado pelo dito : "american way of life", para buscar a liberdade anunciada pela vida hippie, sob valores frugais.
Nesses termos, o filme inicia-se com uma adolescente chamada, Jeannie Tyne (interpretada por Linnea Heacock), que chega em bar, onde está a ocorrer um “Open Mic” (“microfone aberto”, spb uma tradução livre), que vinha a ser uma típica sessão de caça talentos musicais, e que ocorriam com frequência nos Estados Unidos, naquela época. Nesse tipo de teste aleatório para selecionar-se supostos novos talentos na música, pessoas talentosas misturam-se com outras pessoas completamente sem noção, entretanto, o sonho era igual para todos : tornar-se um artista reconhecido.

As primeiras cenas do filme mostram as tomadas de tais testes e o semblante a denotar um profundo tédio da parte dos avaliadores, a mesclar-se com todo tipo de performance ali exibida, incluso as bizarras. Uma garota toca ao violão, uma balada folk de um acorde único, todavia sob intensa emoção e Forman soube inserir isso de forma proposital pois dizia muito do sentimento daquela geração : “ I Believe in Love, Love, Love”, ela cantou a acreditar piamente na premissa...
Gente desafinada; gente estranha e eis que um rosto conhecido hoje em dia, mas na época não exatamente, aparece a tocar e cantar uma canção chamada : “Even Horses Had Wings” : Kathy Bates Doyle, que nos anos noventa ficaria famosa como uma atriz premiada por atuar em filmes como : “Misery”(“Louca Obsessão”), “Fried Green Tomatoes” (“Tomates Verdes Fritos”), entre outros tantos.
Outra aparição rápida, mas marcante para quem acompanha a música dos anos sessenta e setenta, Carly Simon, a grande e bela musa do Soft Rock, canta um trecho de : “Long Term Physical Effect”, com a letra a exprimir-se explicitamente sobre os efeitos das drogas, outro ponto sintomático daquela época e que marcou tal geração.
Enquanto Jeannie espera a sua vez em apresentar na audição, o seu pai, Larry Tyne (Buck Henry), está  a submeter-se em uma consulta com um terapeuta alternativo, que ensina-lhe uma técnica de relaxamento e autocontrole mental. Uma das técnicas aprendidas está no uso da mão como catalisadora de energia restauradora, mas aquilo é muita loucura para um homem cartesiano e bom cidadão norteamericano, em dia com as taxas.
Quando chega em casa, eis que a sua esposa, Lynn Tyne (interpretada por Lynn Carlin), está nervosa por que a filha adolescente do casal saiu a afirmar estar na casa de uma amiga, mas por azar, os pais dessa amiga, estranharam tal colocação por ser falaciosa e a filha do casal foi desmentida. A preocupação passa rápido para o desespero, e um casal de amigos é chamado para ajudar, pois o rapaz em questão é um “especialista” em fugas de adolescentes, algo que revelava-se epidêmico na ocasião. Em uma inspeção pelo quarto da garota, os seus pais acham cigarros e o pai jurava que ela nunca fumara na vida, mas sintomáticos são os desenhos achados pelas gavetas : verdadeiras viagens lisérgicas e shamânicas, a sinalizar que a mente da menina estava a viajar para longe...


Na mudança de cena, enquanto Carly Simon relata através da sua canção, que estava muito louca ("Get Stoned"...), uma concorrente diz à Jeannie, como uma espécie de confissão, que costuma cantar muito mal, normalmente, no entanto, quando tomava um ácido, sentia-se como se fosse a maior cantora do mundo... e tal loucura ali no meio do salão, fez sentido, é claro.
De volta à residência dos Tyne, a mulher do especialista faz amizade com a senhora Lynn Tyne e lhe faz confissões sobre intimidades dela com o marido, ao tornar a conversa quase um colóquio de adolescentes no banheiro do colégio... de fato, todos procuram o prazer, até os que zelam pela conduta moral, aparentemente...


Enquanto isso, os homens vão parar em um bar e ficam completamente bêbados. O ex sóbrio senhor Tyne, tenta ensinar a técnica duvidosa de condicionamento mental que aprendera com o terapeuta, ao seu amigo, mas a bebedeira trata em não deixar nada ficar sério, é evidente. Droga é abominável, todavia, bebida alcoólica, é aceitável na sociedade... ora vejam só a hipocrisia que grassa...
Jeannie volta para a sua casa. A sua intenção não fora fugir, pelo menos nesse instante, porém, todo esse rebuliço fora causado pela apreensão da família por conta do surto de fugas que alardeava-se. certamente foram tempos libertários para os jovens que sonharam ao deixar o imaginário comum e obediente ao sistema, atônito. Mas no dia seguinte a garota sai novamente e a família desespera-se mais uma vez. Munido de uma fotografia da filha, o senhor Tyne sai às ruas em seu encalço.
Atordoado com a situação, ele senta-se em um banco de praça pública e começa a fazer o tal exercício de concentração que aprendera, ao usar a sua própria mão como “âncora”, mas um rapaz negro o vê e faz o sinal simbólico do movimento "Black Power", bem parecido, ao considerar que estava a ser cumprimentado. Definitivamente, o senhor Tyne não estava a entender o que ocorria na América de 1970...


Ele entra então em um bar e pergunta à dona, se ela vira a sua filha por ali, ao mostrar-lhe uma foto da moça, dessas de porta-retrato familiar. A senhora diz que não, e imediatamente mostra-lhe uma caixa de papelão, cheia com fotos de rapazes e moças, ali deixadas pelos seus respectivos pais, e assim o senhor Tyne fica desolado.Ele resolve mexer nas fotos mostradas pela dona do bar e por coincidência, percebe que uma foto, a exibir a face de uma moça, corresponde com a fisionomia de uma menina que está sentada em meio à alguns hippies ali mesmo, naquele bar. Ele confere a fotografia e o rosto da moça e mediante o contato na própria foto, liga para os pais da moça, ao falar-lhes sobre ter reconhecido a moça. Eis que os hippies que a acompanhavam levantam-se para deixar o bar, e ele aborda a moça, de uma forma ingênua, ao justificar a abordagem em dizer-lhe tê-la reconhecido, e que telefonara para os seus pais, que viriam buscá-la naquele instante. O senhor Tyne estava plenamente imbuído em ajudar, iludido sobre aquela situação, ao imaginar que ela estivesse a ser submetida a um sequestro ou ato similar.
Claro que a moça sai a correr e os hippies vem para cima do senhor, e este trata por evadir-se rapidamente para preservar-se. Nesse ínterim, chega a mãe da moça, que apresenta-se esbaforida a sair de de um táxi, atrás da filha que corre em disparada e o motorista do táxi, também, ao exigir-lhe o pagamento. Momento cômico, certamente, todavia, outro instante ainda mais hilário estaria por chegar à trama. Mais calmos, param em um café e ao conversar sobre o ocorrido, falam que vivem em torno do mesmo drama, com filhas que fugiram de casa. A mulher então aproveita a ocasião e o convida a participar de uma reunião organizada por uma associação de pais de adolescentes desaparecidos.
Ocorre a seguir um chamado da delegacia e parece que a garota está enfim recuperada, mas o casal Tyne desaponta-se quando notam que a garota em questão não tratou-se da sua filha, mas fora a amiga dela, que usara o nome da sua filha, para não ter problemas em sua própria casa, mas claro essa moça que os teria...
O casal Tyne vai à reunião a realizar-se em um salão de um hotel e no anfiteatro desse estabelecimento, está a acontecer um show sensacional de Tina & Ike Turner, a cantar a canção : “Goodbye So Long”, bem naquela loucura do "Soul Train", total ! Ikettes a mil por hora nas coreografias e uma banda afiada, a executar Black Music de primeira qualidade e melhor ainda a tratar-se de artistas reais e sensacionais.


O casal envolve-se em confusões por conta de bebedeiras e paqueras que a senhora Tyne arrumou e o aspecto subliminar do filme funciona ao questionar a hipocrisia velada...pois a contrariar a reclamação recorrente da parte dos conservadores, somente os hippies é que buscavam o hedonismo ? Já em meio à reunião, no dia seguinte, o clima é marcado pela sobriedade total. Dezenas de pais usam crachás com as fotos de seus filhos fugitivos estampados em suas vestes. Uma garota “recuperada” é apresentada e dispõe-se a colaborar com os pais sofredores, ao olhar as fotos dos adolescentes sumidos, no intuito em fornecer alguma informação alentadora para eles.
Ela olha, mas afirma não reconhecer ninguém, até que esboça ter conhecido alguém, ao dizer ao pai : -“eu acho que a conheço”... mas o pai irrita-se ao responder-lhe : -“esse é meu filho”... ou seja, a tratar-se de uma brincadeira para fazer alusão ao inconformismo dos pais com a questão dos longos cabelos a ser usados por seus filhos, e assim quebrar-se o costume militarizado e sedimentado na sociedade, sobre o uso de cabelos longos ser aceitável apenas para as mulheres. A acrescentar um adendo, eu registro que em cinco mil anos de história oficial da humanidade, essa questão nunca fora um problema, mas somente a partir de meados do século dezenove, tornou-se um tabu e o movimento hippie estava ali a quebrá-lo e a incomodar muito a sociedade, enfim...


Um psicólogo toma a palavra e convida os presentes a participar de uma experiência única. Ele diz aos participantes desse congresso formado por pais desesperados, que tornara-se vital que entendessem os motivos pelos quais os seus filhos não acreditavam mais na sociedade e daí a motivação de seus jovens para partir de casa e buscar uma outra forma para viver, e nesses termos, apenas a mergulhar-se na experiência dos jovens, é que seria possível que os pais pudessem entender a motivação que seus filhos tiveram para abandonar a vida tradicional em família. Em seguida, um advogado toma a palavra e lhes diz que o que experimentarão ali, é ilícito pelos ditames da Lei, porém, é válido para obter-se uma compreensão melhor dos fatos. Outro fato subliminar, é claro, pois o advogado demonstra grande familiaridade com o assunto e as suas palavras são plenas de cinismo, algo quase indisfarçável e hilário, por outro aspecto. É chamado a entrar em cena, um dito, “especialista no assunto”, que explica-lhes o procedimento...
Um freak chamado, Vincent Schiavelli (o ator a usar o seu próprio nome, no caso, e que anos mais tarde ficaria famoso por ser o “fantasma do metrô”, no filme : “Ghost”), entra em cena e começa a explicar-lhes didaticamente, como proceder para fumar-se um cigarro de maconha, e claro que é hilária a forma como ele explica, e as pessoas absorvem as instruções. Cinicamente, esse rapaz ensina-lhes que eles deveriam guardar o artefato, quando estes ficassem bem pequenos, e que ele mesmo os recolheria posteriormente...
A seguir, todos recebem o material e começam a fumar. Reações cômicas começam a surgir no grande saguão. Senhoras e senhores não acostumados com os efeitos da marijuana, perdem completamente o senso do decoro social e tornam-se crianças, literalmente. Mulheres cantam em cima das mesas... e o “instrutor”  diverte-se em conduzir tal momento lúdico, como um maestro.
Uma música esvoaçante envolve toda a loucura reinante : -“todas as criaturas brilham”... diz alguém empolgado pela euforia ali instaurada.
Bem, acho que definitivamente os pais entenderam o poder de sedução das drogas, depois dessa experiência coletiva. Completamente fora de si, por conta do estado alterado de consciência gerado pelsa maconha, o casal Tyne convida outro casal a continuar a noitada em sua casa.
Surge a ideia de jogar-se poker, mas um dos convidados sugere um strip-poker e a cada rodada, o perdedor tira uma peça de roupa.
Estão tão alucinados que a brincadeira nem parece conter conotação sexual, mas apenas a motivar risadas intermináveis da parte de quem naquela estado, acha graça de tudo.
Nesse ínterim, a filha do casal, volta para a casa e flagra o pai completamente nu, em cima de uma mesa, a cantar, e com a sua mãe também a apresentar-se nua, e a passar por um ataque de riso interminável, sob os olhares do casal convidado, que também não conseguem param de rir. O clima azeda e a loucura é freada na base do susto, enfim. Choque de realidade, a hipocrisia é desvelada e sem subterfúgios, não há o que dizer para recriminar ninguém, portanto, a filha não tem como ser questionada ante o que viu da parte de seus pais.
Enfim, uma conversa franca ocorre entre pai e filha e mesmo diante de seu vexame, o pai reassume o poder patriarcal, porém, a mostrar-se mais liberal, quando cede ao desejo da filha em aceitar a sua relação com o namorado hippie, desde que o rapaz venha compareça à residência da família, para participar de um jantar formal de apresentação. Na ótica do sr, Tyne, tal gesto de tolerância seria o máximo em termos de comportamento moderno que ele poderia suportar, em aceitar um cabeludo a entrar em sua casa, mas com a devida condição estabelecida para que o rapaz observar um comportamento a demonstrar um mínimo de respeito e adequação aos padrões da sociedade tradicional.
Muito bem, grandes transformações são difíceis para ser absorvidas de uma forma rápida, e por ser assim que a sociedade avança lentamente, o gesto de boa vontade foi entendido como algo positivo para ambos, pai e filha, ao ceder-se um pouco de cada lado.
No dia seguinte, tudo voltou ao normal na rotina familiar e o casal Tyne prepara um jantar formal para receber o rapaz. Eis que entra na sala de estar, um hippie chamado : Jamie (interpretado por David Glitter). Ele é músico, e fora um dos avaliadores no ”Open Mic” onde Jeannie fora apresentar-se logo no início do filme.
O pai esforça-se ao máximo para ser cordial, e dessa forma cumprir a sua promessa feita à filha, de que ofereceria uma chance ao namorado dela. Então, no meio do jantar o senhor Tyne tenta iniciar uma conversa com o cabeludo soturno, que calado, não faz nenhum esforço para ser simpático.
Pergunta-lhe então, se ele é músico e o rapaz passa a responder-lhe de uma forma monossilábica e às vezes nem isso, apenas a fazer uso de expressões faciais muito discretas para saciar as dúvidas do senhor Tyne. A filha apressa-se em quebrar o gelo, ao afirmar que ele é compositor; cantor e toca vários instrumentos.
O pai não aguenta a sua própria ansiedade e pergunta ao rapaz, ainda que não agressivamente, pois estava a esforçar-se para não ser truculento, se ele ganhava dinheiro com música. Foi quando o rapaz disse, sem alterar-se,e assim demonstrar uma absurda naturalidade, que achava isso engraçado, pois quando ficava com raiva do governo e da sociedade, apanhava um instrumento e compunha canções para atacá-los, e ironicamente tais canções faziam sucesso, a gerar dinheiro, para que, em um círculo vicioso, automaticamente uma parte desses dividendos, fosse descontada para pagar impostos, ao mesmo governo que ele atacara... Uma lógica desconcertante, mas verdadeira, que artistas como Bob Dylan; Joan Baez, e Woody Guthrie deviam conhecer bem na vida real, certamente...
Mas o senhor Tyne não queria uma resposta filosófica e ao mostrar-se mais incisivo, pergunta-lhe mais diretamente : -“mas quanto você ganha com as suas canções, afinal” ?  Sem parar em comer e beber e sobretudo sem demonstrar constrangimento com a pergunta desagradável, o hippie responde-lhe : -“no ano passado, ganhei duzentos e noventa mil dólares”...
Neste instante, o senhor Tyne engasga. O hippie anti-stablishment, anti-materialista e desapegado do american-way-of-life, ganhava em um ano, muito mais do que ele mesmo conseguiria juntar em dez anos de trabalho...


Então, eis que mais uma crítica subliminar sensacional vem a seguir, com a senhora Tyne a tocar piano e o senhor Tyne a cantar em plenos pulmões, a canção : “Strangers in Paradise”, ao estabelecer uma tentativa para agradar o seu “genro”, nesse instante, dadas as revelações feitas sobre a sua conta bancária, mais do que aprovado, e acima de tudo, quem sabe não seria o caso em  mostrar-lhe que possuíam algum dote artístico também ?
Afinal de contas, ninguém acredita normalmente na arte como um meio decente para ganhar-se a vida, mas o fato é que alguns poucos privilegiados conseguem atingir tal proeza, e para isso foram criados os tais “Open Mic”, não é mesmo ? Bem, o filme encerra-se com essa fina ironia, de uma maneira engraçada.
A cena da aula para aprender-se a fumar marijuana tornou-se cultuada entre os cinéfilos, sem dúvida alguma, mas também entre apreciadores de contracultura sessentista. 

Milos Forman fez ainda mais sucesso doravante com a temática contracultural, quando lançou em 1975 : “One Flew Over the Cukoo’s Nest” (“Um Estranho no Ninho”), baseado no livro homônimo escrito por Ken Kesey, um ativista Hippie, muito famoso nos anos sessenta, obra aliás, que teve a participação do ator, Vincent Schiavelli, em seu elenco.
Em 1979, Forman lançou “Hair”, que fez bastante sucesso, todavia, é preciso salientar em uma época errada, pois o movimento Hippie passava por um duro momento em que mostrava-se vilipendiado e assim o filme ficou muito aquém do que fora a sua montagem teatral original em 1968, onze anos antes. Mas obviamente que não foi culpa de Forman, pois a negociação para comprar os direitos e filmar, arrastou-se, e quando ele foi enfim produzir tal obra, por questões meramente fora de seu controle, revelara-se uma época hostil para abordar-se tal temática.


Posteriormente, nos anos oitenta, Forman alcançou muito sucesso com "Amadeus", uma cinebiografia com uma certa aura do espírito contracultural, do compositor erudito, Wolfgang Amadeus Mozart.
Sobre “Taking Off”, por questões de direito autoral, cópias do filme foram retiradas do You Tube, mas existe em sites de cinema que exibem uma versão ao modo "stream". Nas emissoras de TV a cabo, faz tempo que não é exibido, infelizmente e apenas em locadoras especializadas em raridades, é possível achar-se uma  cópia. É uma pena, pois trata-se do tipo de filme que vale a pena assistir pela temática, mas também por todas as curiosidades que eu citei e claro, pelos dardos subliminares que Forman lançou contre os velhos paradigmas da sociedade, e que abre um bom campo para reflexões.
Sob uuma síntese, eu diria que o filme trata sobre a falta de diálogo entre pais e filhos, até aí, algo corriqueiro, mas com a perspectiva da hipocrisia a nortear essa relação conflituosa entre gerações.


She’s leaving home... bye, bye…

8 comentários:

  1. Não conhecia o filme, vivendo e aprendendo rs...ótimo texto e fotos, abraço amigo!

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    1. Kim :

      Esse filme é sensacional como documento autêntico de época. Recomendo-o, certamente !

      Grato pela leitura, comentários e elogio ao texto e escolha das fotos.

      Grande abraço !

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  2. Eu é que lhe agradeço amigo, dica valiosa, vou assistir! �� ��

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  3. Boa resenha! Ouço muito falar de Hair e li algumas matérias, mas não tive oportunidade de ver o filme, porém sei que a peça foi um boom.
    “Uma lógica desconcertante, mas verdadeira, que gente como Bob Dylan, Joan Baez e Woody Guthrie deviam conhecer bem na vida real, certamente...” Muito berm sacado!
    O movimento não foi só hedonismo e paz e amor, os hippies lutaram pela ampliação dos direitos civis e o fim das guerras que aconteciam naquele momento.
    Gostei muito da postagem!

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    1. Mas que bacana que gostou !

      De fato, "Hair" é uma experiência única, capaz de mudar radicalmente o modo de pensar a vida em sociedade, muito além do questionar, mas acima de tudo, promovendo o grande "Drop Out". Essa é a grande sacada, pular fora do sistema e não perder tempo tentando mudá-lo ou pior ainda, destruí-lo.

      Claro que não foi só hedonismo, tanto tenho essa visão mais ampla que em todos os textos que já escrevi sobre os anos sessenta de uma forma geral, deixo explícita a minha simpatia total pelos ideais aquarianos de fraternidade, paz e amor.

      Fico muito gratificado com sua leitura e comentário sempre rico.

      Grato, Ana Beatriz !

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  4. Bom dia Lu! Boa semana! Q matéria legal! N vi esse filme, mas é a "cara" dos anos 60/70!!! Na realidade, vivemos uma época de transformações sociais e comportamentais muito rápidas e profundas e sempre me pergunto, ou mesmo constato, que é um grande privilégio estar nessa "contemporaneidade"... há de haver alguma razão para isso, penso eu...Bjs!!!

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    1. Fala, Christine !

      Que bacana que gostou da matéria. De fato, o filme retrata uma época onde a euforia gerada por uma juventude deslumbrada com a possibilidade de transformar o mundo era enorme.

      Na mesma proporção que o movimento gerou essa energia transformadora, as forças reacionárias trataram de se contrapor com ainda mais força e daí a diluição de tudo ainda nos anos setenta e já na década de oitenta, o panorama de hostilidade absoluta que imperou doravante e norteou os dias atuais.

      Vendo pelo lado macro, acho que aquilo foi apenas a semente e a colheita ainda não ocorreu. A diluição daquele pequeno vislumbre de poucos anos no final dos anos sessenta e início dos setenta, foi só uma amostra do que virá. O Planeta ainda vai dar essa guinada e o baixo astral da vida truculenta que vivemos, com stress, ganância, medo e feiura em abundância, vai dar passagem para o sonho aquariano dos hippies. Questão de tempo...

      Grato por ler e comentar !

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