sexta-feira, 27 de março de 2015

Seriado de TV : Being Erica (Aprenda a Ser Você Mesmo) - Por Luiz Domingues




Eu já escrevi inúmeras resenhas sobre cinema, contudo, também aprecio muito as séries produzidas pela TV, aliás, desde a tenra infância. Tenho publicado resenhas sobre algumas séries clássicas, e no meu caderno de pautas, estão agendadas muitas sobre as quais analisarei ainda, certamente. Todavia, hoje abro exceção em minha rotina para abordar seriados das décadas de cinquenta e sessenta, predominantemente, e trato de uma produção bem mais moderna, mas que chamou-me a atenção pela riqueza muito grande de entrelinhas, e que se vista sob tal prisma, pode ter efeito até terapêutico, para quem a assiste com atenção.
“Being Erica” (“A Vida de Erica”, como foi rebatizada no Brasil, e “Erica”, em Portugal), foi produzida entre 2009 e 2011, sob um esforço multinacional a envolver o Canadá; Estados Unidos, e a Inglaterra, via BBC. Não foi exibida em canais abertos no Brasil, mas teve uma exibição no canal GNT, da TV a cabo, inclusive com uma recente maratona exibida no início de 2015, mediante a apresentação das suas quatro temporadas, na íntegra. Por quê chamou-me a atenção ? Em primeiro lugar, o apelo misterioso e com sabor Sci-Fi, despertou-me o interesse inicial.
Apesar de ser quase impossível esperar alguma inovação por parte dos roteiristas tradicionais, e por ser assim, questões como a manipulação do tempo / espaço, geralmente esbarram em soluções óbvias para esse tipo de dramaturgia, e nesses termos, o primeiro capítulo desse seriado, já prendeu-me pela curiosidade.

Mas em uma segunda impressão, cativou-me de vez, quando percebi que tal deslocamento tempo / espaço, vivido por sua protagonista, continha mais profundidade do que um seriado normal do gênero Sci-Fi, onde a abordagem geralmente constrói-se em torno de invasões alienígenas e / ou experimentos secretos do governo norteamericano, com políticos e agentes da CIA / FBI (ou outras agências internacionais) a disputar o domínio de tais forças etc. Finalmente sob numa terceira camada mais profunda, o objetivo terapêutico dessas ações é bem delineado nas teorias quânticas do mundo de possibilidades geradas a cada escolha que fazemos na vida, e aí, realmente fiquei impressionado com o efeito que o seriado possibilitou, por avançar além do entretenimento, mas ao propor reflexões da parte de qualquer telespectador que preste mais atenção nessas sutilezas. Do que trata a série, afinal ?

Uma moça chamada, Erica Strange (interpretada por Erin Karpluk), mora em Toronto / Canadá; tem trinta e dois anos de idade; é inteligente; bonita; tem cultura; ótimo nível educacional, e uma boa família.
Contudo, por razões que nem ela mesma compreende com lucidez, sente-se constantemente diminuída, à beira de uma depressão por não ter uma colocação profissional à altura de seu currículo; por não conseguir estabelecer um relacionamento amoroso sustentável, e também por ser alvo de um velado bullying familiar e social, em meio a uma massacrante cultura anglo-saxã que divide o mundo normalmente entre “winners & losers” (ganhadores & perdedores em português, mas com a conotação do “bem sucedido” e fracassado”, em termos sociais e emocionais, sobretudo).
Com as suas colegas da adolescência bem colocadas no mercado de trabalho, e bem relacionadas emocionalmente, claro que ela desaba em sua insegurança, e sob uma crise motivada por uma intoxicação alimentar, passa mal em um café em que encontrava-se, e socorrida por estranhos, vai ser atendida em um Hospital.
Ela recebe então uma visita inesperada e enigmática, da parte de um homem de meia idade, que apresenta-se como terapeuta. Ao demonstrar saber tudo sobre a sua vida, o Dr. Tom Wexler (interpretado por Michael Riley), deixa-lhe um cartão e afirma que se ela quiser “dar um jeito” na sua vida, que o procura-se em seu consultório. Em meio ao desconcertante diálogo que travam, ele faz uma citação emblemática : -“no meio de qualquer dificuldade, cria-se a oportunidade”, ao dar o crédito a seguir para seu autor : “Albert Einstein”.
Tal tipo de citação, tornou-se a marca registrada da personagem do Dr. Tom, e durante os quarenta e nove episódios da série, ele usou o recurso em citar tais aforismos com teor filosófico, sistematicamente para enfatizar alguma mensagem subliminar importante no desenrolar da terapia de Erica. Portanto, para quem for assistir, recomendo prestar atenção em tais citações, pois são verdadeiras chaves para decifrar as situações e exercícios terapêuticos por ele propostos à Erica.

De Platão a Spinoza; Gandhi a Budha, e até mesmo personalidades mais prosaicas e menos filosóficas, em alguns momentos essa profusão de citações chegou a irritar Erica, mas, foi a sua estratégia terapêutica adotada. Ainda a falar sobre o primeiro episódio, Erica volta para a casa após a internação hospitalar, e a sua família organiza um almoço de confraternização para dar-lhe ânimo, mas o resultado desse esforço foi péssimo, com cobranças e insinuações à mesa, que a derrubam ainda mais. Ela deixa a mesa aos prantos, para trancar-se em seu quarto e naturalmente sente-se farta em estar presa naquela sensação de fracasso, quando em uma atitude desesperada, pora-se como uma adolescente impulsiva, e deixa a residência, a evadir-se pela janela, a usar pijamas...
Ao andar a esmo pelas ruas, percebe que o cartão daquele estranho terapeuta que a abordara no hospital, estava no bolso de seu sobretudo, e ao olhá-lo, vê que o endereço do consultório é ali, exatamente onde encontra-se. Junto ao nome do Dr. Tom, e o endereço de seu consultório, há uma frase de efeito, daquelas que ele gosta de citar : “a única terapia que você necessita. Resultados garantidos”. Talvez seja essa, em meio à tantas citações filosóficas do Dr. Tom, a mais emblemática da série inteira, e ao final desta matéria, creio que o leitor vai entender bem o porquê dessa afirmação de minha parte.

Ela resolve entrar no consultório, e claro que isso tem tudo a ver com a frase grafada no cartão do terapeuta, ao denotar a sua iniciativa, e portanto, ao fazer uso da prerrogativa do livre arbítrio, ou seja, a mergulhar na busca do autoconhecimento, realmente “a única terapia que você necessita”...


No diálogo inicial com o Dr. Tom, Erica mostra-se relutante, no padrão típico de quase todo paciente que procura um psicólogo ou psicanalista, isto é, não coloca-se como alguém que precisa de ajuda, mesmo ao estar emocionalmente a mostrar-se aos frangalhos.
Ao usar de técnica e tática, Dr. Tom passa a extrair dela a verdade, já a antever as reações normais de um paciente nesse estágio inicial.

Por ganhar mais a sua confiança, Dr. Tom propõe que ela elabore uma lista de todas as questões que a incomodam em sua vida, e quem liga-se em psicanálise, sabe que isso já é um exercício implícito, onde o paciente começa a exorcizar os seus demônios interiores, ao identificá-los mediante uma lista.
Erica elabora uma lista vasta, ao denotar que são muitas questões que a atormentam internamente e claro, com tantas amarras psicológicas, ficara óbvio que a sua vida estivesse travada, literalmente. Entre tais tópicos, existe muitos arrependimentos por decisões erradas que tomou; frustrações; conflitos; incompreensão; apostas em relacionamentos errados; mágoas familiares e a perda de um irmão ainda na adolescência por acidente, que ela nunca superou. Então, o Dr. Tom dá-lhe o primeiro remédio amargo para que ela enfrente os seus temores, ao propor-lhe uma hipótese em relação à primeira reclamação que escrevera em seu bloco de notas.
E se ela pudesse voltar ao passado, o que faria para evitar tal situação constrangedora que a traumatizara na adolescência, e o que faria de diferente para “consertar” esse erro do passado ? Dessa forma, o elemento Sci-Fi faz-se presente, com o olhar fixo do terapeuta a conduzi-la ao passado, não em reminiscência, mas in loco, ao voltar a ter dezesseis anos de idade, em 1992, e assim interagir no seu mundo familiar, e dentro da High School que frequentava.

Claro, a dramaturgia força a estupefação da personagem, ao recorrer a alguns clichês básicos do gênero, e assim abrir-se o campo para a especulação do telespectador : seria uma hipnose ? um sonho ? alguma droga alucinógena ? alguma interferência alienígena ? um portal extradimensional ? algo místico ? uma experiência científica e secreta do governo ? Enfim, o caldeirão básico de clichês de uma série com elementos Sci-Fi coloca-se à disposição do telespectador...


No entanto, entre tantas dúvidas da personagem e do telespectador, Erica coloca os nervos no lugar e resolve enfrentar a oportunidade para lidar com a chance, e faz de tudo para mudar as coisas que não fez na primeira vez que viveu tais situações.

Porém, por falta de tato e experiência, comete outros erros, e o desfecho do primeiro episódio, mostra que são infinitas as possibilidades contidas em uma teia quântica e molecular, e assim, em cada mínimo movimento que ela faz, produz por conseguinte, vários encadeamentos de fatos, onde aparentemente, a consequência foge-lhe ao controle. A primeira coisa que vem à imaginação de quem assiste, é a mesma dinâmica de um filme como, “The Butterfly Effect” (“O Efeito Borboleta”), com a personagem principal indo ao passado para consertar situações de sua vida, mas em cada mudança que promove, causa um desastre ainda maior no presente, por não medir as consequências de seus atos. Pensei nessa possibilidade, ao assistir tal episódio, mas surpreendi-me agradavelmente, pois assim que Erica voltou ao presente, no gabinete de seu terapeuta, o Dr. Tom emite uma explicação muito interessante sobre erros e acertos do passado, mediante tal segunda chance que Erica teve, nessa específica situação. Portanto, a série não seria uma mera cópia do filme que citei anteriormente e aí, fiquei com mais vontade ainda em acompanhá-la, por sentir um algo a mais que poderia oferecer-me e de fato, ofereceu.
Daí em diante, em cada novo episódio, Erica passa a trabalhar cada questão que elencou em seu bloco grafado por insatisfações arroladas. Na primeira temporada, muitas viagens ao passado ocorreram, mas não necessariamente remotas. Algumas situações eram mais próximas, a dizer respeito à sua vida universitária ou profissional, já como adulta.

Dr. Tom não interage apenas no consultório, mas aparece em situações inusitadas, muitas vezes disfarçado, com o intuito em fornecer alguma dica; ou correção; e claro, a proferir as suas citações pontuais, e denotar assim, possuir um conhecimento cultural avantajado. À medida que os episódios avançam, Erica demonstra adquirir mais confiança nos métodos do Dr. Tom e ao acostumar-se aos aspectos surreais que envolvem a dinâmica da terapia. Pois não são apenas as viagens no tempo que acontecem, mas abruptas mudanças no espectro espacial.

Erica abre uma porta de seu apartamento, ou de qualquer lugar, e entra diretamente no consultório; conversa com seu terapeuta, e ao sair do consultório, vai para qualquer outro ambiente improvável. Ao final da primeira temporada, ela já demonstra uma indisfarçável dependência do seu terapeuta, mas Dr. Tom sabe que esse passo além que ela precisava empreender, viria adiante. Então, ao final da primeira temporada, ela entra porta adentro já a falar com ele, mas depara-se com um outro consultório, com uma aparência completamente diferente, ao parecer etéreo, e uma outra terapeuta apresenta-se como : Dra. Naadiah.

Tal terapeuta informa-lhe que ela entraria na segunda fase do tratamento, e que doravante, ela, Naadiah conduziria o processo. No entanto, Dr. Tom intervém, e em conversa reservada com Dra. Naadiah, diz que insiste em prosseguir com Erica, pois acha necessário seguir com esse caso, ao denotar considerar ser uma paciente especial. Há portanto uma “hierarquia”, e Dra. Naadiah é sua supervisora, mas alguns capítulos adiante, descobrimos haver um coordenador geral, acima de Naadiah, na figura do Dr. Arthur.

Quem são, afinal de contas ? Uma hierarquia espiritual; angelical; ou alguma força semelhante que imbui-se em ajudar a humanidade a superar os seus problemas emocionais ? Mais um ponto pró, ao meu ver, pois isso não esclarece-se nesse ponto, e em momento algum das quatro temporadas, aliás. Fica a critério de cada espectador, portanto, formular a sua explicação pessoal ou simplesmente proceder como eu, ou seja, não preocupar-se com isso e continuar a assistir, ao pensar sob o prisma de que o importante seria o mergulho interno da personagem Erica, rumo ao autoconhecimento.
Em avanço na terapia, Erica comemora pequenas conquistas pessoais, por entender processos que envolvem-na e a compreender melhor as razões dos outros que cercam-na. Ela acerta e erra, mas em cada episódio, ao perceber que os erros não são necessariamente um sinal de fracasso, mas uma oportunidade para estabelecer um grande aprendizado.
Erica conhece um paciente de um outro terapeuta, nos mesmos moldes da relação dela com o Dr. Tom. Este, por sua vez, é um músico famoso e que veio do futuro, e que na contrapartida, voltara ao seu passado, que representa na prática, o presente de Erica. Ambos interagem, e ela tenta entender o processo, ao buscar arrancar informações desse rapaz, que chama-se, Kai. Mas ele está em processo de negação da terapia, e quer permanecer no seu passado, como a viver em sua zona de conforto. Entre idas e vindas, Erica e Kai chegam a relacionar-se emocionalmente, contudo, na quarta temporada, descobrem que o desapego, um em relação ao outro, faz parte do processo de cada um.

E isso também embaralha a sua cabeça, pois ela estava convicta de que estava resolvida no relacionamento com Ethan, uma paixão de adolescência que resgatara ao dar os primeiros sinais de melhora, mas faltava-lhe ainda muitos passos na terapia para alcançar o discernimento necessário. Ao final da segunda temporada, um exercício diferente é proposto pelo Dr.Tom, mas Erica reluta em participar dele.

O medo do desconhecido inibe-nos, sempre...  então sob uma bela metáfora, Erica é conduzida a um cenário sombrio, a conter inúmeras portas, e o terapeuta propõe-lhe que faça uma escolha. A metáfora é clara em relação ao medo interior, onde Erica reluta, e quase desiste, diante do desafio que julga ser intransponível para si.
Quando finalmente ela resolve abrir uma porta ao desconhecido, e deixar a sua zona de conforto, Dr. Tom a parabeniza, e informa-lhe que ela passou no teste, e mostra-se apta a começar a terceira parte de seu tratamento. Nesses termos, começa a terceira temporada, e a novidade é que nessa fase, ele passa a interagir com outros pacientes do Dr. Tom, ao participar de uma terapia de grupo, onde todos são estimulados a interagir na terapia de cada um, como forma para entender também as suas questões pessoais, mas sobretudo, ao ser treinados para tornarem-se terapeutas, também.
Entre os outros pacientes, Erica conhece Adam, um irlandês casca grossa, que ela demora a perceber, mas seria enfim o seu par ideal. Tal descoberta é parte do tratamento de ambos, certamente. Muitas questões encaixam-se. Situações que Erica achava ter solucionado, voltam à tona, e agora ela as enxerga de uma maneira mais lúcida. Dr. Tom é um terapeuta super profissional, mas tem a sua carga de humanidade, portanto ao deixar claro que os poderes que tem ao manipular o tempo / espaço não faz dele um ser angelical, pois ele também tem os seus problemas pessoais revelados, e muitas soluções tem a ver com a experiência que vive com os seus próprios pacientes.
Conflitos do presente; passado, e futuro misturam-se, e Erica demonstra ter ficado mais confiante e hábil para lidar com eles, embora alguns ainda sejam difíceis para ela. A sua vida no presente molda-se às conquistas advindas da terapia.

No trabalho, ela lida com egos inflados; falta de ética etc. Ela agora trabalha como editora de uma pequena empresa própria, após amargar empregos muito aquém de sua capacidade, e uma penosa situação em manter-se como uma funcionária subalterna em uma editora de médio porte, rodeada por víboras. Na parte emocional, são interessantes as viradas na história, onde ela aprende que o equilíbrio e o discernimento precisam andar juntos.
O último episódio da terceira temporada é deveras angustiante, e trata-se de um dos poucos onde os roteiristas enveredaram para a tática deliberada em confundir o público. Quase que em sua totalidade, dentro desse episódio, somos induzidos a esquecer todo o sentido da terapia, mas ao final, tal susto dissipa-se.

Na quarta temporada, a derradeira, Erica está quase a receber a “alta”do Dr. Tom, e isso coincidirá com o seu início de atividades como terapeuta. Muito interessantes os episódios onde lhe são revelados os “poderes” que terá como terapeuta, ao manipular o sentido do tempo / espaço, e assim poder interagir da maneira que achar mais adequada para cada aspecto da terapia de seus futuros pacientes.
Ao resolver as suas últimas pendências, ela ainda tem alguns conflitos pesados pela frente para lidar, quando chega ao fim da lista que elaborara no primeiro episódio da primeira temporada. Concomitantemente, a grande lição do último episódio da série, é o desapego.
Finalmente Erica precisa despedir-se do Dr. Tom, para conscientizar-se que está curada e não precisa mais de seus conselhos; explicações; e as famosas citações filosóficas com as quais tantas lições aprendera.
Ela precisa ter em mente que em um eventual momento de crise, não vai abrir uma porta a esmo, e entrar de novo naquele consultório, onde acostumara-se a contar com o apoio do Dr. Tom. Tal consciência foi a prova cabal de sua cura, e o ponto de partida para a nova etapa de sua vida.

Agora, bem sucedida profissionalmente; feliz ao lado do homem que ama; e muito bem resolvida com a família e amigos, está também preparada para dar ajuda à pessoas, assim como a recebeu do Dr. Tom. O último episódio tem momentos bastante emocionantes e significativos.
O encontro com o seu irmão, Leo, preso em um corredor, onde cada porta o leva para um momento de sua vida, é clara alusão ao fato do rapaz falecido ainda na adolescência de Erica, estar preso espiritualmente em um espaço / tempo, e a mostrar-se sem coragem para sair dessa zona de conforto. Talvez seja uma das mais fortes alusões à espiritualidade, ao insinuar uma pós-vida onde o rapaz precisa portanto, conscientizar-se de seu desencarne, e enfrentar a sua nova realidade astral, por conseguinte.
Todavia, tal contato culmina em ser importante para Erica, também, pois ela desapega-se da lembrança do irmão que perdera, e nesse ponto, o contraponto é que talvez o que estivesse ali em jogo, não  tratara-se do “espírito” do seu irmão, mas uma criação mental dela própria, que aprisionava-a em uma traumática sensação marcada pelo apego emocional. Um outro momento forte, ocorre após Erica e Dr. Tom despedir-se definitivamente. E assim, a imagem do consultório do terapeuta a desaparecer ao redor de Erica, aos poucos, tal como uma ação fantasmagórica, é melancólica de certa forma, mas nesse aspecto, a série estava tão resolvida estilisticamente a falar, que  eu acho que ninguém preocupar-se-ia  em emitir alguma explicação plausível para tal fenômeno surreal, isto é : pouco importa se foi uma ação “mágica”, ou de qualquer outra monta.

Na cena final, Erica repete o primeiro episódio, ao visitar a sua primeira paciente em um hospital, e ao agir como o próprio, Dr. Tom, discorre sobre aspectos muito pessoais a respeito de tal menina hospitalizada e muito machucada pela vida, sobretudo, ao denotar possuir muito conhecimento a respeito de seus problemas pessoais, mediante profundidade. Ela faz uma citação filosófica, e entrega-lhe o seu cartão, ao convidar-lhe a visitá-la, assim que desejar.

Mais que uma primeira paciente, essa moça é alguém muito significativa em meio à trama toda, e assim fornece um espetacular desfecho para o seriado. Erica Strange venceu, e agora ajudará pessoas desesperadas a vencer, também...
Caixas a conter o DVD oficial somente foram lançadas na América; Holanda, e Inglaterra, além do Canadá, é claro. Episódios com legendas em português já estão disponibilizados no You Tube, há pelo menos um ano, e alguns sites que falam da série, disponibilizam links para download.

Além dos personagens protagonistas Erica e Dr. Tom, destacam-se a família de Erica; os amigos mais próximos; o ambiente de trabalho que gerou muitos conflitos, principalmente a abordar a  questão da ética profissional, e os seus namorados, para gerar a carga em torno dos conflitos emocionais.
Esse seriado possui uma produção caprichada, com efeitos muito bons; direção de arte impecável, principalmente na recriação de épocas diferentes na narrativa, e trilha musical adequada às necessidades da série. O tema musical principal chama-se : “All I Ever Wanted to Be”, interpretado por Lily Frost. Talvez uma caixa oficial ainda saia no Brasil, mas certamente cópias DVD-R devem estar a circular em sites para colecionadores de seriados de TV

Talvez você não recorde-se mais, porém, no começo desta resenha, eu falei que algo que fora citado naquele ponto, faria mais sentido ao final do texto. Pois então, pense de novo na frase do cartão de visitas do Dr. Tom : “A única terapia que você precisa”...
Pois bem, é hora de dizer que “Being Erica” (“A Vida de Erica)”, evocou elementos clássicos do Sci-Fi, mas ao meu ver, não pode ser classificada dentro desse gênero.
Esse seriado possui uma forte dose de drama, mas também seria inadequado designá-lo em meio a tal categoria, tão somente. Contém algo a lembrar o quesito da aventura, certamente, além de alguma pitada de comédia, em alguns aspectos.

É mostra-se misteriosa, com certeza, dado o seu caráter quase místico em torno dessa terapia extradimensional, e por conseguinte, a apresentar doses generosas de misticismo inerente.
Todavia, na minha ótica, “Being Erica”nos discorre mesmo é sobre autoconhecimento; mergulho no Ser interior; busca das respostas à todas as perguntas, no balcão de informações mais preciso (e precioso), do universo : o coração. De fato, em cada episódio, é um convite à autorreflexão, e isso torna-se quase inevitável, ao comprovar que as entrelinhas propostas pela autora do seriado, Jana Sinyor, são muito certeiras.

Esta por sinal, em pessoa, faz um aparição meteórica no último episódio, a la Hitchcock, por insinuar-se como ela mesma, ao entregar o manuscrito de um livro cujo tema, é sobre uma mulher de “trinta e poucos anos”, à editora literária, Erica, ao estabelecer uma metalinguagem em forma de homenagem. O meu conselho para quem for experimentar o seriado, é assistir todos os episódios na ordem, pois há uma lógica que entrelaça-os, e faz um sentido maior, ao avançar além das séries normais, em meio aos seus ganchos tradicionais, além de seus clichês inerentes, como a clássica virada na história, a partir da “página trinta” etc.


Nesse link abaixo, acha-se todos os episódios disponíveis :


http://www.televideoteca.com.br/gnt/a-vida-de-erica/pagina-5
Para fechar a resenha, não recordo-me se o Dr. Tom a usou em algum episódio, mas tomo a liberdade para lembrar-me de uma  citação, igualmente, e acho que tem tudo a ver com o espírito desse seriado : “conhece-te a ti mesmo”, Sócrates