terça-feira, 24 de novembro de 2015

Som Livre Exportação - Por Luiz Domingues



Quando a Rede Globo começou a despontar como líder no seu setor, amparada pela maciça audiência (a aproveitar-se dos primeiros sinais de decadência da TV Record e com a estagnação da TV Tupi (neste caso, apesar do seu retumbante sucesso recente, obtido mediante a exibição da sua considerada revolucionária telenovela, "Beto Rockfeller"), tal crescimento foi sem dúvida motivado pela ascensão de seu núcleo de dramaturgia, que avançara muito e também graças ao sucesso retumbante da telenovela, "Irmãos Coragem".

Claro que devemos considerar os fatores extra-operacionais que levaram a Globo à liderança (os constantes incêndios de estúdios que garantiam a parte operacional de emissoras concorrentes, opor exemplo), no entanto, a se pensar apenas no fator artístico, foi com as novelas que a Globo sobressaiu-se, e dentro desse conceito, o filão das trilhas sonoras exclusivas para tal veículo, despertou-lhe a atenção. 
 
Eu já citei o exemplo da telenovela, Beto Rockfeller anteriormente, mas cabe relembrar que o fato dessa produção da TV Tupi, ter usado o conceito da trilha sonora exclusiva, com músicas escolhidas a dedo para a sua trilha sonora e com a repetição de certas canções para marcar personagens, só reforçou tal ideia, para que a TV Globo iniciasse uma forte investida em tal filão .
Com essa ideia já materializada, em 1969, a Globo lançou no mercado, a sua gravadora própria, chamada, “Som Livre”, com o intuito inicial de lançar discos com a trilha de suas novelas. Esse passou a ser um segmento e tanto no mercado fonográfico, certamente. No ano de 1970, a Som Livre já estava consolidada no mercado fonográfico com o lançamento de seus discos a conter as trilhas de suas novelas, mas sob franca expansão, passou a contratar artistas de carreira, também, e assim a formar um elenco próprio de artistas autorais. 
 
Em 1971, sob um movimento pensado ao contrário do padrão usual, utilizou então a TV para autopromover-se, ao percorrer o caminho inverso do qual fora concebida, com a criação de um programa chamado: “Som Livre Exportação”.  
A ideia primordial desse programa, foi se destacar do formato antigo dos festivais em ritmo de competição, que parecia estar esgotado (embora a própria TV Globo ainda insistisse com o FIC, o seu festival particular, até 1972, e em 1975, arriscou-se com um outro formato, através do festival “Abertura”), e dessa forma, o “Som Livre Exportação” colocou-se no mercado como uma mostra de vários artistas, sem a desagradável fórmula da competição entre os artistas. Outro ponto interessante, deu-se com o fato dele ter sido eclético ao extremo.
Sem fechar com um ou outro estilo musical, pelo contrário, o “Som Livre Exportação” reunia artistas aparentemente díspares entre si, em meio a um caldeirão multifacetado, pelo qual o Rock, a MPB, e a Soul Music “brasuca”, muito em alta naquele instante, fossem representados, sem nenhum conflito entre si.
A vinheta de abertura do programa Som Livre Exportação

Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=nOC_QAF9iqQ

O programa durou entre novembro de 1970, e agosto de 1971. Outra ideia sensacional foi também de realizá-lo ao vivo, e de maneira itinerante, ao conferir-lhe uma aura de “turnê”, o que gerou uma grande expectativa do público, sem dúvida.
Segundo consta na divulgação oficial da TV Globo, houve uma segunda intenção da gravadora/emissora, para assim vender o pacote para o exterior, e dessa forma conduzir o seu elenco onde fosse possível, todavia, na prática, esse ambicioso plano não logrou êxito, com a produção a permanecer restrita ao cenário brasileiro, apenas. Independente disso, foi um estouro em termos de Brasil, com lotação esgotada, por onde passou, e audiência maciça na transmissão pela TV.
A primeira edição ao vivo, ocorreu em São Paulo, no Palácio de Exposições do Anhembi, em março de 1971. O registro oficial desse evento, marcou a faixa das cem mil pessoas presentes no local. Eu sei que o pavilhão de exposições do Anhembi comporta uma multidão do porte de um estádio de futebol, mas apesar de realmente ter lotado, creio que o número “cem mil” é um dado bem além da realidade, superestimado, portanto. Contudo, certamente que foi um número alto, a gerar euforia para os seus produtores.
A seguir, foi realizado no campo de futebol do “Canto do Rio”, em Niterói e no mesmo mês, em Brasília, a aproveitar a ocasião em que a Rede Globo inaugurava a sua filial, TV Globo Brasília. De volta à São Paulo, novas edições ao vivo ocorreram, uma no Clube Sírio-Libanês, e a outra no Tuca, o Teatro da Universidade Católica (PUC).
Em uma viagem à Minas Gerais, o Som Livre Exportação visitou a cidade interiorana de Ouro Preto, e a capital, Belo Horizonte. Elis Regina e Ivan Lins o apresentavam, como mestres de cerimônia e claro que participavam ativamente a cantar e tocar.
Elis Regina e Ivan Lins executam a canção: "Madalena", no programa "Som Livre Exportação", em 1971

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=rFl07aE-UTI

Foi ali, inclusive, que o sucesso, “Madalena”, de Ivan Lins, e interpretado por Elis Regina, "estourou", a potencializar também o fato dessa canção constar na trilha sonora de uma novela exibida na época (“A Próxima Atração”), portanto, a fazer valer o propósito inicial da gravadora Som Livre, para divulgar os seus discos com trilhas sonoras das suas novelas.

Além de Elis e Ivan, apresentaram-se também no “Som Livre Exportação”, muitos outros artistas da pesada, tais como: Gonzaguinha, Aldir Blanc, Chico Buarque de Hollanda, Clementina de Jesus, Tim Maia, Toquinho & Vinicius, Tony Tornado, Brasucas e na ala Rocker, bandas importantes do cenário, como: A Bolha, O Terço e Os Mutantes.
A concepção dos enquadramentos é algo a destacar-se, pois mostrara-se mais ampla do que a usual na TV da época, certamente a inspirar-se na fonte dos documentários de Rock, pois explorou-se bastante o recurso do "close-up" na edição, a realçar a expressão facial dos artistas, ou seja, a enfatizar mais detalhes, além da performance dos instrumentistas, para também mesclar-se com a reação das pessoas da audiência, ao exibir dessa forma o máximo da emoção gerada pela música, sob reações espontâneas.
Os Mutantes executam: "Ando Meio Desligado" no Som Livre Exportação

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=xJgj9zgJZA8

É claro, como veículo de propaganda da gravadora, muitos discos foram lançados com tal mote do próprio programa e assim, o que dizer sobre um grupo de artistas desse quilate em meio às suas canções antológicas, registradas em coletâneas dessa qualidade? Hoje em dia, esses LP's valem ouro em sebos especializados e/ou sites da Internet, direcionados para colecionadores de vinis. 
Tal programa permaneceu na grade da TV Globo, às quintas, no horário das 20:30 horas e não é possível não deixar de se comparar que se entre, 1970 e 1971, nesse horário, o cidadão comum ligava a TV de sua sala de estar e confrontava-se com música dessa qualidade, o panorama da atualidade na mesma emissora, é bem outro.
A Bolha executa:"Mater Matéria" no Som Livre Exportação

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=KfgaZvp6SRA

Tenho uma boa lembrança pessoal dessa atração, da qual eu tive o privilégio de assistir todas as suas edições, e nessa ocasião, com dez para onze anos de idade, eu já estava bastante interessado em música, e portanto, apreciei muito.
A última edição do programa foi um especial a enfocar a "velha guarda da MPB", ao apresentar artistas do quilate de: Ciro Monteiro, Mário Lago, Cartola, e alguns membros da Escola de Samba Mangueira. O motivo de seu cancelamento, nunca foi explicado convincentemente.
Elis Regina interpreta: "Black is Beautiful" no Som Livre Exportação

Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=QVaXJAqwkyI

Se gerava uma boa audiência, promovia a gravadora, intensificava a divulgação dos discos, e das trilhas das suas novelas, além de ser um estouro, quando das suas versões ao vivo, para as praças onde realizava-se, realmente acreditar que o motivo para o cancelamento tenha sido simplesmente a frustração de não ter emplacado tal pacote para o exterior, não caracteriza uma justificativa plausível.
 
É muito mais provável que o poder central de então, nada simpático à movimentação cultural/contracultural, possivelmente  “sugeriu” à emissora que esta não continuasse com tal promoção, mesmo por que, Ivan Lins era uma persona non grata para o sistema, isso sem contar em Chico Buarque, pior ainda, e o fato de Caetano Veloso ter participado de uma edição, sob uma rara vez em que veio ao Brasil, em 1971, no período em que esteve oficialmente exilado, em Londres. 
 
De qualquer forma, embora tenha tido uma curta duração, a atração foi bastante salutar para a música brasileira daquele momento, ao propiciar muita qualidade sonora exibida na tela, diretamente aos lares brasileiros.
O jornalista, Nelson Motta, foi o mentor da ideia, mas houve também outras pessoas envolvidas nessa produção, tais como: Augusto Cesar Vanucci, Eduardo Ataíde, Carlos Alberto Loffler, Walter Lacet, e Solano Ribeiro, este aliás, um dos mentores dos históricos festivais de MPB realizados pela TV Record, nos anos sessenta.

Revela-se inacreditável que não tenhamos mais música dessa qualidade na TV, e não é admissível achar que a safra atual de artistas não seja boa, se levarmos em conta que nas profundezas abissais da música profissional, o que não falta é artista dotado de extrema qualidade artística, e neste caso, apenas falta-lhes espaço para mostrar-se ao grande público, bloqueio esse que a mídia atual não deixa ser quebrado para resguardar outros interesses, possivelmente.
Tem muito artista ótimo por aí, mas estão escondidos, sem meios de penetração nas camadas populares. Uma pena mesmo, que hoje em dia, ao ligar-se na TV Globo, às 20:30 horas das quintas, não vejamos mais uma artista do porte de Elis Regina a apresentar aqueles artistas todos, para se emitir um som violento de tão bom que essa safra de artistas produzia.
Matéria publicada inicialmente no Blog Limonada Hippie, em 2015

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Kim Kehl & Os Kurandeiros - 14/11/2015 - Sábado / 21:00 H. - The Boss - Vila Madalena - São Paulo / SP


Kim Kehl & Os Kurandeiros

14 de novembro de 2015

Sábado  - 21:00 Horas

The Boss

Rua Mourato Coelho, 992

Vila Madalena

Próximo da Estação Fradique Coutinho do Metrô

KK & K :

Kim Kehl : Guitarra e Voz
Carlinhos Machado : Bateria e Voz 
Nelson Ferraresso : Teclados
Luiz Domingues : Baixo 

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Kim Kehl & Os Kurandeiros - 13/11/2015 - Sexta-Feira / 21:30 H. - Santa Sede Rock Bar - Santana - São Paulo / SP


Kim Kehl & Os Kurandeiros

13 de Novembro de 2015

Sexta-Feira  -  21:30 Horas

Santa Sede Rock Bar

Avenida Luiz Dumont Villares, 2104

Santana

A 100 metros da Estação Parada Inglesa do Metrô

KK & K :

Kim Kehl : Guitarra e Voz
Carlinhos Machado : Bateria e Voz
Nelson Ferraresso : Teclados
Luiz Domingues : Baixo

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Seriado de TV : Ben Casey - Por Luiz Domingues



Homem; mulher; nascimento; morte, e o infinito... cinco palavras pronunciadas em sequência, e que assim alinhadas ganham conotação enigmática, a denotar um código, possivelmente a conter alguma chave oculta. Certamente que tal significado denota conter profundidade e por isso mesmo, surpreende que em 1961, tal premissa tenha sido a base fundamental de um seriado de TV, onde geralmente pretende-se buscar a simplicidade meramente para prover o entretenimento. É como dizia o próprio ator protagonista dessa série, Vincent Edwards : -“O cinema vende filé mignon, e a TV vende cachorro-quente”...

Só que houve exceções e muitos seriados de TV foram concebidos com um requinte muito grande, além da preocupação pueril em torno do mero entretenimento, e esse foi o caso de "Ben Casey", entre outras séries surgidas nas décadas de cinquenta e sessenta. Lançada pela Rede de TV norteamericana, ABC, Ben Casey estreou na mesma época de outra série lançada pela concorrente, NBC, que acabara de lançar uma produção nos mesmos moldes, chamada,“Dr. Kildare”, igualmente centrada no ambiente hospitalar, a exibir médicos como protagonistas.

Obviamente que de forma imediata, a comparação e a rivalidade foi estabelecida, e isso foi bom para ambas em termos de projeção, pois tais conjecturas estabelecidas pelo público, trataram por realçar as diferenças entre as duas, que eram muito boas, as duas, embora diferentes pelo enfoque de cada uma.

No caso de Ben Casey, houve uma profundidade maior, a buscar o foco na analogia entre os casos ali apresentados em forma de doenças, com aspectos da psique humana, e assim, a esbarrar sem cerimônia, em aspectos socioculturais, antropológicos e até políticos, em certos casos. A chave foi realmente o mote descrito no primeiro parágrafo desta matéria, e que simbolizou a série em sua clássica abertura que marcou época, e traz saudade para quem acompanhou-a na ocasião.

De fato, as palavras : “Homem; Mulher; Nascimento, Morte e Infinito", denotavam um código, e o seu entendimento era no entanto, menos enigmático do que imaginava-se, ao querer designar apenas uma ideia : o ciclo de vida. Portanto, dentro dessa prerrogativa, doenças são passíveis em ser criadas pelo próprio Ser Humano, na medida em que cumpre o seu ciclo vital. Essa foi a vital diferença de Ben Casey em relação à Dr. Kildare, que investia mais no enfoque humanista, em termos de resiliência pelas falhas inerentes do Ser humano, e a oferecer portanto, suporte amigo nas horas ruins, em termos de compreensão. Antes de avançar, que fique claro, já escrevi sobre Dr. Kildare e particularmente gosto dos dois seriados igualmente, sem predileção acentuada, e a enxergar nas diferenças, méritos para ambos.

De volta às palavras chave, a sua apresentação na introdução do seriado, com a imagem de uma lousa (quadro-negro), mediante a voz da personagem, Dr. David Zorba (interpretado pelo ator, Sam Jaffe), pronunciando-as pausadamente, com tom professoral e as desenhar pela sua representação gráfica, com os seus respectivos símbolos científicos. Só por esse ar solene e cerebral, já era possível instigar a imaginação, certamente. A ação passava-se no Hospital Geral de Los Angeles, um hospital público.

Ben Casey (interpretado por Vincent Edwards), era um jovem neurocirurgião a trabalhar em tal hospital. O seu estilo menos doce que o do seu rival, o Dr. Kildare, imputou-lhe à época, a alcunha de "galã arrogante", em detrimento da personagem de Jim Kildare ser um bom moço, solícito e cordial.

Mais cerebral e menos preocupado em ser amigo do paciente, Casey era mais objetivo e geralmente encarava a doença, não como algo vindo a esmo para o enfermo, mas como uma somatização de diversos fatores a interagir em seu cotidiano, que desencadearam-na.

O seu supervisor era um médico idoso e muito experiente, Dr. David Zorba (interpretado pelo ótimo ator, Sam Jaffe), ou seja a observar uma outra semelhança com o seriado rival, Dr. Kildare, que tinha a figura senior do diretor do hospital, Dr. Gillespie (interpretado por Raymond Massey).

Bettye Ackerman (como Maggie Graham) e Harry Landers (como Ted Hoffman), ambos na foto acima, foram atores de apoio no elenco fixo, também, além de Jeanne Bates; Marlyn Mason; Nick Dennis, John Zaremba (futuro The Time Tunnel) ; Jim McMullan; Kim Stanley, e Glenda Farrell

Foram produzidos 153 episódios, em cinco temporadas, compreendidas entre 1961 e 1966. Ben Casey cativou a audiência norteamericana, e de inúmeros países do mundo onde foi exibida com sucesso.

No Brasil, foi exibida na extinta TV Excelsior. Curiosamente, essa emissora também exibia o seriado concorrente, Dr.Kildare, em outro dia da semana (e certamente aproveitou-se muito bem dessa saudável rivalidade entre as séries e os atores protagonistas, a suscitar muita polêmica entre o público telespectador). E se considerarmos que ali, na primeira metade dos anos sessenta não havia redes sociais e a internet era algo só plausível como fantasia futurista do desenho animado do estúdio Hanna-Barbera, “The Jetsons”, a repercussão que estabeleceu, na proporção inversamente presente com a tecnologia disponível da época, foi um feito extraordinário.

O papel da medicina na sociedade também foi amplamente discutido nas entrelinhas de vários episódios, a edificar o seriado, sem dúvida alguma.

Sobre a produção em si, esta ficou a cargo da produtora pertencente ao famoso ator / cantor, Bing Crosby, a tratar-se da "Bing Crosby Productions", e ele em pessoa escolhera o ator, Vincent Edwards para interpretar a personagem protagonista, Ben Casey.  Os criadores do seriado foram : James Moser e Richard Boone, e a produção ficou a cargo de Matthew Rapf, a representar a "BC Productions". A música tema, criação de David Raksin, tornou-se um grande sucesso comercial como "single", e chegou a figurar nos principais charts (paradas de sucesso), da música norteamericana, na época, ao atingir a figurar entre as quarenta canções mais ouvidas e vendidas, ou seja, um resultado espetacular para o mercado super competitivo dos Estados Unidos, ainda mais ao levar-se em conta também o fato da excelência musical observada na década de sessenta, portanto, foi algo bastante significativo. Uma curiosidade interessante, o pianista dessa gravação foi o celebrado, Valjean.  Um neurocirurgião experiente, Dr. Joseph Ransohoff, prestou apoio técnico para os roteiristas não falarem bobagens, dando credibilidade ao seriado.

Ao seguir o caminho do marketing que a série concorrente, Dr. Kildare também obteve, Ben Casey ganhou também a sua versão em história em quadrinhos. Inicialmente em tiras publicadas em alguns jornais norteamericanos, mas logo alcançou a primazia em ter uma revista própria, publicada pela importante editora "Dell".

Claro, mesmo muito bem produzida e desenhada por ilustradores dotados de grande técnica (Neal Adams e Gene Colan), quando a série saiu do ar, a revista perdeu leitores, mesmo por que não era uma revista de quadrinhos direcionada para crianças e adolescentes, portanto, mantivera-se restrita a um público leitor volátil.  Kits a conter brinquedos e souvenirs os mais diversos, tendo a série como tema, também entraram no mercado e venderam muito.

Claro, assim como Richard Chamberlain (Dr. Kildare), Vincent Edwards (Ben Casey), lançou-se como cantor, a gravar um disco no rescaldo do sucesso do seriado, mas... deixe para lá, prefiro não comentar sobre tal deslize de sua parte...

Um outro luxo que essa série teve, foi em contar com muitos diretores de categoria da TV, na época, e também alguns que militavam no cinema. Nomes consagrados como Sydney Pollack; Leo Penn, e Mark Rydell, são alguns entre vários que contribuíram, ao dirigir vários episódios. O próprio ator protagonista, Vincent Edwards, reivindicou o desejo em dirigir alguns episódios e mesmo ao ter criado um certo mal-estar nos bastidores, entre os produtores, logrou êxito em seu intento, ao dirigir sete episódios.

A lista a conter os atores convidados que participaram desses 153 episódios é gigantesca, e contém muitos rostos conhecidos que participaram de um sem número de trabalhos em seriados norteamericanos e também do cinema. Se você que está a ler esta matéria, assistiu bastante seriados norteamericanos das décadas de cinquenta; sessenta & setenta, principalmente, haverá por reconhecer diversos desses artistas citados abaixo. Eis alguns nomes : 

Anne Francis; Davy Jones (The Monkees); Beau Bridges; Malachi Throne (este participou de todas as séries de Irwin Allen); Paul Comi (todas as series de Irwin Allen, também); John Anderson (também figura recorrente nas séries de Irwin Allen); Ed Begley; Stella Stevens; Ellen Burstyn; Ray Waltson; Jack Warden; Yvonne Craig (recentemente falecida, 2015, a bela "Batgirl" de Batman de 1966); Elsa Lanchester (interpretou a clássica versão da noiva do Frankenstein, dos anos trinta); Abraham Sofaer (outro ator de confiança de Irwin Allen); Edward Andrews (veterano ator dos filmes de Frank Capra, nos anos trinta e quarenta); Robert Culp; Suzanne Pleshette; Lee Grant; Peter Falk (o famoso inspetor, "Columbo", da série homônima); Susan Gordon; Howard Da Silva; Greg Morris; Richard Basehart (o "almirante Nelson" de Voyage of the Bottom of the Sea); Barbara Barrie; Leslie Nielsen; Bill Bixby (Bruce Banner, ou seja, o prório Hulk, quando sereno de "The Incredible Hulk"); Bruce Dern; George C. Scott; Telly Savalas (o tenente "Kojak" da série homônima); Mabel Albertson, Eddie Albert; Robert Blake (o próprio detetive "Baretta", da série homônima); Patty Duke (The Patty Duke Show); Felicia Farr; James Franciscus; Lee Marvin; Burgess Meredith (o vilão "Pinguim" do Batman de 1966); Simon Oakland; Cliff Robertson; Rod Steiger; Tuesday Weld; Edward Asner; James Caan; Melvyn Douglas (veterano ator dos anos 1930 e 1940), Sammy Davis Jr.; Clint Howard; Eduard Franz; Patricia Neal; Ricardo Montalban ("The Fantasy Island"); James Whitmore; Dana Andrews (outro veterano ator dos anos 1940 e 1950); Witt Bissell (o "general" em "The Time Tunnel"); William Demarest; Jill Ireland; Darren McGavin (o jornalista investigativo, Kolchak de "Kolchak, the Nightstalkers"); Katharine Ross; Rip Torn; Jessica Walter; Shelley Winters; Michael Ansara (ator em todas as produções de Irwin Allen, e provavelmente o sujeito mais sortudo do mundo, por que foi marido na vida real, de Barbara Eden, a "Jeannie" de "I Dream of Jeannie"…); Gladys Cooper; James Farentino; Richard Dreyfuss; George Hamilton; Victor French (The Little House on the Prairie); Van Johnson; Eartha Kitt (esta uma cantora / atriz e que interpretou a 3ª Mulher-Gato de Batman de 1966); Roddy McDowell; Don Marshall (Land of the Giants); Susan Oliver; Billy Mumy (o famoso Will Robinson de "Lost in Space"); Nehemiah Persoff; Linda Gay Scott; Cesar Romero (o "coringa" de Batman de 1966); Everett Sloane; Gloria Swanson (a grande diva do cinema dos anos 1920 e 1930); e muitos outros, pois eu citei alguns apenas, por incrível que pareça, ao leitor.

Pela época em que foi lançada, começo dos anos sessenta, as suas primeiras temporadas foram produzidas em preto e branco, no entanto, foi mais uma série norteamericana que fez a transição da produção do conceito do preto e branco para a cor, por volta de 1966. Foi também bastante parodiada em programas humorísticos norteamericanos, a explorar a seriedade do mote original para demoli-lo em meio à pilhéria do humor popularesco.

Uma inovação interessante deu-se quando a personagem, Ben Casey, participou de um episódio de uma outra série, chamada : “Breaking Point”, que era da mesma produtora de Bing Crosby, e tal experiência certamente abriu caminho para o conceito do "Spin-off", que ganharia força, muitos anos depois na TV norteamericana, a designar séries derivadas de outras séries, e assim a fornecer a sobrevida a um certo personagem já querido do público, mas sob um contexto inteiramente novo.

Na última temporada, o ator veterano, Sam Jaffe deixou a série e uma nova personagem foi introduzida, para dar continuidade à dramaturgia, e assim sugerir a substituição do supervisor do hospital. Entrou em cena, o Dr. Daniel Niles (interpretado pelo também veterano ator Hollywoodiano, Franchot Tone, foto acima). Sam Jaffe e Franchot Tone eram experientes atores de cinema que tiveram trabalhos relevantes entre as décadas de trinta e cinquenta, e estavam a adaptar-se bem igualmente nas produções de TV, no decorrer dos anos sessenta.

E além de ganhar cores, a série seguiu uma tendência de mercado entre 1965 e 1966, quando muitos seriados adotaram o formato de história contínua, ao estilo de uma novela, com cada episódio a estabelecer um "gancho", a visar prender a atenção do telespectador, até a sua continuação, a ser vista no próximo episódio. Tendência que persiste em muitos seriados norteamericanos da década de noventa para cá. Todavia, tal novidade na época, não garantiu a audiência que os produtores esperavam e Ben Casey encerrou a sua saga através da sua quinta temporada, em 1965 / 1966. E também obteve anos depois, uma tentativa de retorno, ocorrido em 1988, na forma de um TV Movie (The Return of Ben Casey), mas que não causou uma grande comoção e convenhamos, foi uma outra época na América do Norte, e os valores haviam mudado bastante. Sobre os episódios, muitos destacam-se pela qualidade de texto observado em seus respectivos roteiros e argumentos.

Citar todos seria impossível para não tornar esta matéria um tratado. E citar poucos, seria injusto perante a qualidade de tantos, muito bons e omitidos apenas pela falta de espaço. Opto por poucos, para deixar a ressalva de que muitos são verdadeiramente excelentes.

Um em específico, oriundo da primeira temporada, e que mostra-se muito interessante, é o da moça epilética (interpretada por Joan Hackett), que sofre um acidente de carro; perde o seu bebê e tem diagnosticada a origem de sua doença, na verdade, em um fator psicológico, adquirido pela super proteção em que fora criada pelos seus pais. Casey mostra-se veemente com o pais dela, sendo até invasivo e mau humorado, mas ... fora necessário. 

Outro, da segunda temporada mostra uma moça (Illyana, interpretada por Janet Margoli), filha de um imigrante pobre, que acidenta-se, para tornar-se parcialmente cega. Sob uma estranha circunstância, ela envolve-se no hospital com um bandido (Ollie, interpretado por Steven Hill), também internado e protegido por magnatas arrogantes. Casey dosa a aspereza com a doçura, para lidar com essa estranha relação.

Mais um, e desta feita inserido na terceira temporada e bem interessante, ambienta-se no mundo do futebol norteamericano. É quase uma praxe das séries estadunidenses, mas ao menos um episódio, mesmo que seja um seriado de Sci-Fi e situado dez séculos adiante de nossa época, eles tratam por inserir um episódio relacionado aos esportes que eles amam. Geralmente futebol norteamericano e baseball, mas o boxe; basquete; e o automobilismo também comparecem com frequência, como mote a alimentar histórias.  Desta feita, o caso é o de um jogador de futebol norteamericano, veterano e turrão (Terry Dunne, interpretado por Neville Brand, um ator muito rodado nas séries dos anos 1950, 1960 e 1970), que tem problemas oftalmológicos que podem fazer com que tenha que aposentar-se, mas ao mesmo tempo que não deseja fazer isso, ele recusa o tratamento. Somente o Dr. Ben Casey para persuadi-lo a aceitar o tratamento...

Na quarta temporada, um surpreendente, Jerry Lewis, que vivia então a sua fase de ouro no cinema, ao protagonizar comédias malucas, interpreta um médico sério (a personagem do Dr. Dennis Green), e sério até demais por sinal, pois mostra-se em tal história, à beira de um colapso nervoso, motivado pelo excesso de trabalho.

Na quinta temporada, o Dr. Ben Casey envolve-se com uma paciente chamada, Jane Hancock (interpretada por Stella Stevens), que acordara de um coma que havia durado por treze anos. Tudo bem, a ética médica proíbe terminantemente que médicos ou enfermeiras envolvam-se emocionalmente com pacientes, mas a comoção pela situação ali colocada em meio à dramaturgia, não causou polêmica sobre tal deslize moral do eficiente doutor.

O ator Vincent Edwards, deixou-nos em 1996, vencido por um câncer no pâncreas. Sam Jaffe partira antes, em 1984, com 93 anos de idade, também por câncer.

Desconheço a existência de um Box Set de DVD com as cinco temporadas, lançado no mercado do Brasil, com legendas e / ou a dublagem brasileira de época em português, e que aliás, é sempre muito nostálgica para todo mundo que acompanhou a série nos anos sessenta, e invariavelmente com os atores norteamericanos a falar um português bem articulado, graças ao trabalho dos nossos valorosos dubladores. E diga-se de passagem, a conter sotaque paulista ou carioca, a depender da produção local brasileira dessa época, geralmente feitas em estúdios de São Paulo ou do Rio de Janeiro.

O jeito é recorrer aos colecionadores particulares que sempre providenciam tal material; assistir no You Tube (isso quando esse portal não cria empecilhos, devido aos direitos autorais), ou acostumar-se com a caixa de DVD de origem norteamericana, sem legendas em português, mas recheada com extras sensacionais.

Ben Casey marcou época, certamente.  Ao lado de Dr. Kildare, sua série contemporânea e concorrente rival direta, foi uma série que ajudou a consolidar a tradição de seriados a enfocar o mundo da medicina.

Abordou através de seus episódios, a área médica de uma maneira bastante criativa, ao mostrar as questões éticas, mas também a deixar claro que a enfermidade não é fruto de um mal aleatório que acomete os Seres Humanos, mas pelo contrário, é gerada por uma série de fatores e muitas vezes, provocados por nós mesmos, por não prestarmos atenção nos detalhes da vida, principalmente no que concerne-nos diretamente, obscurecidos que somos pela vida frenética em meio à sociedade de consumo, através de seu cotidiano gasto em apenas um objetivo : ganhar dinheiro...

De certa forma, o Dr. Ben Casey é uma espécie de avô do Dr. House, personagem protagonista da série homônima, que fez e ainda faz sucesso no pós-anos 2000.
Neste frame de um episódio, o grande, Sammy Davis Jr. como ator convidado, a contracenar com Vincent Edwards (Ben Casey)

Tal personagem não era sarcástica, é verdade, no entanto, apresenta uma forma realista e sem rodeios para tratar com objetividade e franqueza, todos os pacientes.

Ouça o tema de abertura da série :

Eis o Link para escutar no You Tube :

https://www.youtube.com/watch?v=10Jklu-kd8k

Por fim, a grande chave da série cumpriu-se com galhardia ! Fechamos todos um ciclo de vida que resume-se em : homem; mulher; nascimento; morte e infinito...