Mas inversamente aos progressos que a humanidade foi
alcançando, em termos de ciência; artes e cultura, aquele sentimento instintivo
de autopreservação, que em si não é nocivo e pelo contrário, tem seu valor,
pois tem muito a ver com a motivação pessoal em caminhar para frente, sofreu
mutações ao longo do tempo. O que era para ser uma força motriz da autoestima e
fator de incentivo para cada indivíduo ter a clareza de propósitos para seguir
em frente na sua busca individual pela evolução, adquiriu uma variante doente,
degenerada, amoral, que alimenta o ego e transmite via neurotransmissores,
mensagens ao cérebro, do tipo : quero ter prazer; quero levar vantagens sobre
os demais...
Intimamente ligada ao ego e corrosivamente contagiosa, a
instituição da corrupção vem das mais remotas lembranças pré-históricas da
humanidade, portanto. Ancestral, é também endêmica e sistêmica ao mesmo tempo, por
natureza, espalhando-se de forma silenciosa e sorrateira por todas as brechas
da sociedade.
É de uma ingenuidade atroz achar portanto, que o mundo é gerido
por mocinhos e bandidos, como os filmes de “Western” fizeram-nos crer, pois todos estão sujeitos à
essa contaminação. Não está apenas na
classe política e entre grandes empresários que beneficiam-se das “maracutaias”
que envolvem grandes obras estruturais de porte oficial.
Está no dia a dia da sociedade, com pequenas transações
que ocorrem em todos os setores, até em ambientes inacreditáveis, onde jamais poder-se-ia
imaginar haver motivações mesquinhas, como por exemplo no seio das religiões
oficiais. Está em todas as classes sociais, não é coisa de “peixe grande” dos
bairros nobres, ou “sardinhas’ da periferia. Não isenta gêneros. Homens e
mulheres cometem atos de corrupção o tempo todo. Não é racial; étnico.
Espalha-se por todas as nações do planeta. Não tem nada a ver com ideologias.
É
errôneo achar que só no capitalismo é passível de acontecer, pela obviedade de
ser um sistema baseado no dinheiro e na ganância, mas vide a derrocada da
utopia esquerdista, corroída por tantos escândalos que não derrubaram apenas o
muro de Berlim, mas toda a ilusão de conceber-se “fraternidade de fachada”; hipócrita;
mentirosa; “na marra”, e na porrada. Corrupção envolve ego, que insufla, cega o
ser humano. O prazer hedonista imediato obscurece os propósitos maiores do
homem.
Em suma, assistimos com entusiasmo os esforços das
instituições em combater a corrupção de forma implacável. É auspicioso o
momento em que vivemos no Brasil, com tantas investigações; provas sendo
colhidas; pessoas sendo presas; julgamentos sendo feitos à luz da lei; e
condenações que punem corruptos adequadamente e tratam de recapturar os
recursos surrupiados dos cofres públicos. Claro que entusiasmo-me vendo esse
esforço sem precedentes, mas faço uma ressalva : acho um grande erro ficar
endeusando magistrados, como se fossem astros de cinema ou Rock Stars, só
porque estão em evidência na mídia, sendo enaltecidos pelas suas ações, muito
mais porque estão minando adversários políticos exaltados em grande escala na imprensa e portanto, sob efeito de espetacularização atendendo
interesses pessoais de alguns partidos, incluso a própria mídia. É uma forma de corrupção,
também, pensar e agir dessa forma. Primeiro, que tais agentes da polícia e justiça, são
funcionários públicos cumprindo suas funções normais e o mínimo que espera-se
de tais profissionais é que exerçam-nas com empenho e honestidade. Não há nada
excepcional em suas ações que mereça esse “oba-oba” ridículo, a não ser que é
nítida a intenção de certos grupamentos em capitalizar tais resultados para
lograrem êxito em suas intenções político-partidárias.
Segundo ponto, o que uma pessoa de bem tem que esperar da
justiça, é que seja equânime, “cega” como simbolicamente é retratada, no afã de
mostrar sua isenção. Portanto, investigar a corrupção faz-se mister e tem meu
total apoio, mas não vou sair na rua usando camiseta com a estampa ostentando a
figura de algum juiz alçado à condição de “super-herói”. Espero que a justiça seja de fato implacável e a expressão “doa a
quem doer”, seja praticada sem exceções, sem atender os interesses do grupo A,
B ou C ou engavetar investigações, seja
de quem for. E se isso ocorrer mesmo, ficarei satisfeito como cidadão,
mas não vou idolatrar figuras exponenciais da justiça. Terão meu respeito e admiração
pela lisura e profissionalismo, mas nada mais que isso, porque é um absurdo
achar que o que fazem é algo excepcional, quando não é. Apenas cumprem suas
funções com dedicação e honestidade, sendo
assim, isso é o mínimo que poder-se-ia esperar deles. E vamos com muita calma,
pois ainda tem muito engavetamento e vista grossa por aí, portanto, aplaudir só
quando inimigos políticos são desmascarados não é uma atitude ética a ser
considerada, mas ao contrário, apenas quando não houver nenhum grão de pó debaixo dos tapetes, ou “tapetões”
para ficar mais no clima, e as gavetas e arquivos completamente vazios, com todo
corrupto sendo investigado; condenado e preso, independentemente de ser inimigo
político ou da sua “turma”, aí sim, estaremos de fato dando um salto na
sociedade brasileira, para erradicar a corrupção.
Para encerrar, insisto num ponto crucial a meu ver,
principalmente sobre o caso brasileiro, e que já enfoquei em matérias
anteriores : o combate à corrupção tem uma erva daninha maldita na nossa
cultura em específico, e que enquanto não for extirpada, sofreremos. Trata-se
do famigerado “Jeitinho Brasileiro”, esse maldito paradigma do povo brasileiro
em arrumar maneiras de levar vantagem em qualquer situação, mediante o uso e
abuso de falcatruas. Enquanto não erradicarmos isso de nossa alma, seremos
eternamente uma republiqueta das bananas, com a pior classe política do mundo, formada
por gente como a gente, que nasceu acreditando nesse modus operandi.
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