sexta-feira, 3 de março de 2017

Lei que Não Pega - Por Luiz Domingues



Entre tantos países que compõe o planeta, a representar territórios demarcados para que nações vivam, cada uma dentro de sua própria cultura; língua, tradições e regulamentos distintos, existe um em específico, que é pitoresco. Aliás, como diria a chef de cozinha,  Bela Gil, “pitoresco” poder-se-ia ser substituído por “picareta”, em muitos aspectos, senão vejamos:

Em qual país do mundo, a máxima: “rouba mas faz”, a designar administradores públicos que realizam obras, mas assumidamente roubam o erário público, tem o beneplácito do povo? Como assim tolerar um executivo público que rouba, um centavo que seja?

Mais uma máxima típica, dá conta de que esse país cessa o seu poder de trabalho, muitos dias antes dos festejos do natal e só volta após o carnaval. Um hiato inacreditável e que dá margem a uma piada que corre desde sempre e em tempos de Internet, amplifica-se: pessoas desejam “feliz ano novo” umas às outras, em tom de galhofa, durante a passagem da “quarta-feira de cinzas”, ou seja, logo após o término do Carnaval. 

Existem as que vão além, ao afirmar que a semana está morta e o país só começa mesmo na segunda-feira posterior, mas sabe como é... em plena quaresma, tudo feito sob marcha lenta, até passar a Páscoa...

Pois tem outro axioma tão acintoso quanto, que diz: “Lei que não pega”, cuja força é tão grande, que no imaginário popular, de fato derruba a legislação, ao demarcar uma demonstração de escárnio para com os poderes legislativo; judiciário & forças policiais. 

Será possível conceber essa mesma mentalidade no bojo dos povos de outras nações? Tirante os países de terceiro e quarto mundo, onde a miséria é tão gritante que as normas básicas de civilização não fazem sentido, é normal dar de ombros para uma lei, até o ponto em que seja tão óbvia a sua ineficácia e que motive os legisladores a revê-la?

“A Lei que não pega” não existia no velho oeste norte-americano. De fato, diante daquele território inóspito e enorme, por décadas, a bandidagem teve muito espaço para agir, mas por falta de logística, ausência do poder público em um país em construção, e em meio a uma época municiada por poucos recursos tecnológicos e não pela inexistência da Lei, propriamente dita.
Então, nesse exótico país onde o povo “resolve” desobedecer uma Lei até que ela caia no seu ridículo desuso, é mesmo muito singular, no mau sentido do termo. Qual seria mesmo esse país onde uma Lei só é obedecida se cair no gosto popular?

4 comentários:

  1. Boa noite meu prezado Luiz!
    A indagação de surpresa "como assim?" me leva a pensar que a "Lei Que Pega" é exatamente a maldita "Lei do Gérson"!
    A lei do individualismo, a lei da carteirada, a lei que impõe a todos que a lei oficial seja submetida ao gosto popular como se fosse o tal paredão do BBB..................
    E também fica a dúvida: quem fiscaliza o fiscal?

    P.S.:Ouvindo Lynyrd Skynyrd.......

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    1. Olá, amigo Gil !
      Exato !

      A raiz primordial dos males que afligem o povo brasileiro é justamente esse maldito paradigma do "Jeitinho", a famigerada "malandragem" que não deixa-nos avançar nunca. Tudo aqui é baseado na malandragem, que em termos reais quer dizer : egoísmo. Enquanto isso não mudar, este país não sairá do lugar. E diante dessa realidade, a sua pergunta fica sem resposta, pois não temos fiscais confiáveis...

      Boa audição aí, belíssima escolha, melhor ouvir "Free Bird", mesmo...

      Grande abraço e muito grato pelo comentário !!

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    2. E não é que havia me fugido a utilização dessa palavra que está em voga sem ser diretamente utilizada?
      Sabe, já tem um tempo que tenho comentado com pessoas próximas que nós precisamos ser mais humanistas que esquerdistas ou direitistas ou outros "istas".
      A cada polarização, a cada ponto de vista (principalmente os mais extremos), percebe-se o "foda-se" em que estamos metidos.

      P.S.: Ao som de Outlaws.......... =)

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    3. Com a recente ultra polarização entre "direitistas" e "esquerdistas" nas Redes Sociais da Internet, é notório que a vontade ali é só brigar, buscar a contenda, como obtusos membros de torcidas uniformizadas dos clubes de futebol. Uma coisa que o John Lennon dizia com veemência era ser contra todos os "ismos", adotando uma posição quase utópica, quase ingênua como Gandhi, talvez, mas que no frigir dos ovos, é o posicionamento mais progressista possível, enxergando além da ganância, do materialismo exacerbado, pensando no utópico ser humano sem fronteiras, sem diferenças, compartilhando fraternalmente e isso nada tem a ver com ideologia de esquerda como muitos criticam, mas vai além do socialismo puro e simplesmente. Difícil de entender-se e mais ainda em colocar em prática, eu sei, mas um dia chegaremos lá.

      Por enquanto, o negócio é fazermos nossa parte, humildemente nas nossas pequenas ações pessoais do cotidiano em respeitar as normas, não tentar burlá-las o tempo todo e ouvir muito "Outlaws", esse sim um "fora da Lei" que vale a pena...

      Abração !!

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