sábado, 17 de junho de 2017

Ars Imitatur Vitae... o Limite Humano - Por Luiz Domingues




O cinema, sem dúvida alguma, glamorizou atores e atrizes aoponto de torná-los mega-celebridades, muito acima do que outros artistas jamais houveram atingido anteriormente, salvo algumas exceções pontuais do mundo da música; teatro & dança e da literatura, ainda que em escala muito mais branda, devido aos meios de comunicação absolutamente mais modestos à disposição, antes do advento do fascínio gerado pela tela grande.

Naturalmente que uma indústria paralela cresceu em volta, a explorar tal furor. A imprensa escrita criou meios, os mais variados para aproveitar tal modismo e ao mesmo tempo tal ação tratou de retroalimentar o fenômeno, quando potencializou de uma forma incalculável. 

Departamentos específicos foram criados nas redações dos jornais, para cobrir o cinema e revistas surgiram aos montes, especializadas, ao abrir caminho para todo o tipo de cobertura e plataforma, indo parar até nos álbuns de figurinhas; nas histórias em quadrinhos e na própria literatura, que enxergou no cinema um filão e este, em contrapartida, muito alimentou-se dos livros, a estabelecer uma relação direta, no sentido de usar romances; contos, crônicas, poesia, ensaios e biografias para que todos esses meios de linguagem pudessem adaptar-se em filmes.

Com todo esse crescimento, foi mais do que natural que na linha de frente dessa cadeia de ultra-exposição em escala gigantesca, os atores tornassem-se celebridades admiradas, aliás mais do que isso, adoradas, literalmente, ao gerar expectativas. 

Naturalmente que a perspectiva criada no imaginário popular poder-se-ia quebrar a qualquer momento, mediante a suscetibilidade, a contar com as intempéries humanas e inerentes de tais artistas, a envolver todo o tipo de sortilégios que acometem qualquer ser humano e aí, por não fazer-se de rogados, os jornalistas foram atrás também da espetacularização da miséria humana, para repercutir ao máximo os eventuais desvios de conduta; fragilidades, segredos pessoais e sim, a “fofoca” gera muito interesse e por conseguinte, dinheiro. 

Surgiram as publicações especulativas e logo o rádio seguiu a tendência, ao usar o seu espaço no "dial" para tratar desse tipo de discussão e claro, com o surgimento da TV, isso aumentou ainda mais.

Os grandes astros & estrelas do cinema foram a envelhecer e tirante tragédias pontuais com a ocorrência de acidentes; violência urbana ocasional e doenças súbitas, que ceifaram alguns, ainda em idade jovem e/ou mediana, a maioria deixou-nos por morte natural mediante o avançar da idade. 

Foi por volta das décadas de setenta e oitenta que uma enxurrada de mortes em grande profusão, de tais celebridades chocou os fãs, para gerar a impressão de que tais perdas fossem surpreendentes, como uma espécie de coincidência, talvez uma “maldição”, sinal apocalíptico ou coisa que o valha. Todavia, o que ocorreu na verdade, foi apenas a decorrência do curso natural do limite humano e sendo assim, tais artistas deixaram-nos, apenas por ostentarem uma faixa etária mais ou menos equânime e nesse caso, nada houve de surpreendente, mas apenas, tais pessoas sucumbiram à normalidade da vida.


O tempo avançou e outras super celebridades surgiram, não só do meio artístico, mas de outras áreas também. Gente ligada ao esporte, atletas principalmente, alçaram-se a um patamar olímpico, com o perdão do trocadilho. E por conseguinte, pessoas dos mais variados campos da sociedade, notadamente políticos, que inclusive passaram a usar o marketing cada vez mais para elaborar as suas campanhas eleitorais etc. 

E com o surgimento da Internet, o que já era enorme, amplificou-se muito mais, portanto, a sensação de grandiosidade das notícias e leve-se em conta a rede de boatos e mentiras deslavadas, também ganhou uma proporção inimaginável. Para o bem e para o mal, a super repercussão das notícias, verdadeiras ou falsas, norteiam a imaginação da opinião pública mundial, na atualidade. 

Causou furor em 2016, e de certa forma a estender-se ao dias atuais de 2017, a escalada vertiginosa de óbitos ocorridos entre Rock Stars, alguns de proeminência mundial. Muitas pessoas comentam que tal efeito dominó caracterizou uma onda de azar pela grande quantidade de perdas sob um curto espaço de tempo, mas a lógica do raciocínio é a mesma que fora observada, quando muitos astros do cinema das décadas de vinte a quarenta, principalmente, deixaram-nos tempos atrás, ou seja, muitas pessoas na mesma faixa etária, a envelhecer e falecer mais ou menos na mesma época. 

A mesma ressalva observa-se sobre casos pontuais de mortes ocorridas por outros motivos, mas na prática, a realidade é que a geração de Rockers das décadas de cinquenta e sessenta, principalmente, atingiu uma faixa etária que coloca-os como pessoas a observar a idade septuagenária a nonagenária em média e assim, é mais do que natural que deixem-nos. 

Desagradável, é claro que queríamos contar com eles aqui, sempre jovens e a exercer a sua genialidade artística a influenciar-nos, mas ninguém está acima do limite humano, nem mesmo os gênios e assim, resta-nos a resignação, ainda que sofrida e o consolo de que a tecnologia preserva-nos a sua arte através de material de áudio & vídeo, principalmente, e temos a internet como manancial livre (ao menos por enquanto), para a exploração de todo o tipo de pesquisa a envolve-los.

“Ars Imitatur Vitae”, sim... a arte imita a vida, somos mortais e temos a nossa limitação, não tem outro jeito.
Matéria publicada inicialmente no Blog Limonada Hippie, em 2017.

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