sábado, 21 de abril de 2018

CD Simbiose / Arcpelago - Por Luiz Domingues



Que a vertente do Rock Progressivo setentista foi a mais vilipendiada da história, por detratores de toda a espécie, creio não haver dúvida alguma, nesta altura dos acontecimentos, século XXI a caminho de encerrar a sua segunda década de existência. 

Fruto de motivações nada nobres, tal ataque causou um estrago e tanto e o resultado foi o que verificou-se a seguir, com a criação de uma paradigma infame a ditar a norma para que essa escola estética passasse a ser odiada pelas gerações posteriores, sem questionamentos. Por sorte, nem todos aceitaram ser tratados como membros de uma boiada e assim, houve quem não aceitou a regra imposta e desses poucos abnegados resistentes, continuou-se a respeitar e admirar tal vertente, para que graças à tal resistência heroica, ao estilo de verdadeiros "maquis", o gênero pudesse sobreviver, ainda que a habitar o mundo underground, para manter a chama acesa, mesmo que sob uma proporção ínfima. 

Por conta de tal persistência, eis que jovens (que em tese nem deveriam saber o que representou tal estética oriunda de tantas décadas atrás), surgiram no panorama artístico, espalhados pelo mundo, a montar bandas, fomentar uma cena e reviver o mais puro Art-Rock de outrora. E claro, dentro do corolário do Rock Progressivo, ou seja, a respeitar as suas mais belas tradições a versar pela sofisticação musical, sob inúmeros aspectos. 

Por exemplo, o apreço inerente pela música erudita, e à Folk music de raiz europeia, os dois pilares da alma mater do estilo, além da extrema preocupação em caprichar nos arranjos individuais de cada instrumentista e da banda como um todo, fora o esmero na produção dos timbres, na respectiva resolução do áudio, ao buscar-se o produto final. Um típico fã de Rock progressivo não presta atenção apenas na melodia cantada como uma canção Pop qualquer que toca no rádio ou que ouve forçosamente em uma "balada", mas vai fundo na sua prospecção por todos os detalhes e vibra com cada elemento dentro da obra de um artista. 

Certamente por ser um gênero onde a sofisticação musical é uma marca registrada, o apuro do artista é automático na elaboração de sua obra, o que faz desse estilo, algo muito especial, sem nenhum demérito a outras escolas dentro do Rock, mas a deixar claro que para tocar Rock Progressivo, é preciso ter embasamento técnico, teórico e conhecimento de áudio para mediante tal carga de bagagem mais avantajada, ser possível pleitear a atenção dos exigentes fãs desse estilo. Ou seja, isso explica muita coisa ocorrida muitos anos atrás, como por exemplo a ação da parte dos marqueteiros inescrupulosos que apostaram em slogans infames como: “I Hate Pink Floyd”... pois avacalhar o estilo era mais fácil do que optar por estudar por anos a fio, para fazer parte dessa cena, mas enfim, não dá para voltar em 1977, infelizmente, para mudar o que aconteceu ali, em termos de vilipêndio ao gênero...

O importante é que apesar do ataque massacrante, o estilo mostra-se vivo em pleno 2018, e dessa forma, festivais de Rock Progressivo multiplicam-se pelo Brasil e diversos países, a apresentar uma gama enorme, a mostrar bandas jovens, além de até dar margem a revitalizar bandas clássicas dos anos setenta e assim, diante desse panorama alvissareiro, hoje eu tenho o prazer de comentar sobre o trabalho de uma banda carioca e moderna, chamada: “Arcpelago”, que mergulhou fundo na sonoridade clássica do Rock Progressivo setentista e lançou o CD “Simbiose”, com muitos méritos.

Sob múltiplas e ótimas influências advindas da parte de artistas clássicos dessa escola, esse ótimo quarteto progressivo apresenta um som coeso, muito bem engendrado harmônica; rítmica e melodicamente, além de mostrar inspiração nas composições e um trabalho muito bom nos arranjos, sem deixar de mencionar um áudio excepcional, com valorização total de timbres vintage, um verdadeiro oásis para os apreciadores dessa escola sofisticada e exigente por natureza. 

Através do CD “Simbiose”, o Arcpelago apresenta seis canções muito interessantes, algumas inclusive com longa duração, uma marca registrada do Rock Progressivo tradicional, isto é, com o claro uso do recurso das suítes, típico elemento herdado da música erudita, onde a construção de uma peça complexa é permeada por diversas partes, mas a comunicar-se entre si e a manter um elo primordial como ponto de referência. E até faixas bem curtas, bem próximas da Folk Music.

  O baixista, Jorge Carvalho, em ação. Foto de Lívia Botelho

O álbum abre com “Sopro Vital”, sob início a insinuar-se sinfônico. Mas rapidamente entra em climas mais amenos onde o timbre do órgão Hammond, sob ação rápida da caixa Leslie, logo demarca onde estamos a pisar, isto é, sob o porto seguro do Prog Rock clássico. 

Adorei a base da guitarra, com muita energia e os detalhes com outros teclados são muito inspiradores. O timbre do baixo é absolutamente matador. Um Rickenbacker, modelo 4001, nas mãos de um baixista de alto quilate (Jorge Carvalho) e sob a preocupação em timbrar como antigamente, faz toda a diferença. Lembrou-me o trabalho de diversas bandas europeias setentistas incríveis que eu tenho certeza que os rapazes também gostam, mas não vou enumerá-las aqui, pois a minha idiossincrasia não importa neste momento e o que interessa-me neste caso é enaltecer a sonoridade do Arcpelago. 

Gostei muito do solo fantasmagórico feito através do sintetizador, Mini Moog (o ótimo tecladista, Ronaldo Rodrigues, é o piloto das teclas dessa banda) e também o solo de guitarra, belíssimo, ao final da canção (Eduardo Marcolino é o guitarrista neste disco, mas nos dias atuais a guitarra da banda é comandada por Diogo Aratanha), em momento de desdobrada rítmica, providencial pela beleza.

É ótimo o trabalho do baterista (Renato Navega), com técnica e muita criatividade em seus desenhos rítmicos e muito bom gosto nas sutilezas empreendidas sobre as campanas dos pratos. A parte cantada é pequena, mas muito bonita a evocar quase uma inspiração sutil pelo canto gregoriano. A letra é bem típica das preocupações de um letrista Progger padrão, ou seja, a expressar busca pela reflexão existencial mais profunda, a destoar completamente do horror popularesco que ouve-se através da mídia mainstream da atualidade, portanto, como é bom saber que há vida inteligente ainda, neste planeta.

 O baterista, Renato Navega, em destaque. Foto : Carlos Vaz

"Distância entre um Dia e Outro” começa com um piano elétrico muito bem pontuado e um baixo violento, no uso e abuso de distorção, versado nas mais belas tradições de baixistas como: Greg Lake e John Wetton. A base da guitarra é pesada, dissonante e muito instigante a lembrar claramente o trabalho do King Crimson, em seus melhores dias vividos na década de setenta. O baterista dá um show, não apenas pelas suas viradas técnicas a buscar elementos jazzísticos, mas também na condução, com uma caixa com o som "seco" e um trabalho brilhante realizado ao chimbau e pratos de condução, ou seja, é óbvio que o genial baterista, Bill Brufford, influenciou-o bastante, que maravilha.

                 O guitarrista, Eduardo Marcolino, em destaque.
 
A terceira faixa, “Ebulição dos Tempos” começa com um riff forte, auxiliado por acentos marcantes. Gostei bastante do solo de guitarra, com timbre encorpado e a bela melodia proposta pelo Mini Moog. E mais uma vez a linha de baixo e bateria mostrou virtuosismo e uma sincronicidade perfeita. Sobre a letra, busca-se novamente o tom da seriedade como seu norte. Gostei da frase:


“Almas vazias choram a Liberdade / Lágrimas aflitas banham a ocisão / E afogam entre as vistas a regeneração”


Cidade Solar” é outra canção instrumental. A levada inicial do baixo, sob um típico Riff versado pelo Hard-Rock setentista, trabalha com tônica e oitava como base primordial e por si só, já agradou-me muitíssimo, mas vou além, pois preciso observar que o timbre espetacular, impressiona. Possui um estalo médio agudo que eu particularmente aprecio muito e quando o Jorge informou-me que nesta faixa usou um baixo Fender, modelo Mustang, fiquei muito impressionado com o resultado, visto que a grosso modo parecia o timbre mais agressivo do Fender, modelo Precision. O trabalho dos sintetizadores é mais uma vez muito bom. Ronaldo é um grande tecladista, piloto de tecladeiras setentistas, com maestria. O arranjo da guitarra está igualmente excelente, tanto base, quanto solo.

Tecladista e vocalista, Ronaldo Rodrigues em ação. Foto : Lívia Botelho
 
Universos Paralelos” é uma faixa curta, com delicioso sabor Folk Rock. Lembra muito o trabalho de bandas europeias marcantes da década de setenta, mas também de brasileiras similares. É belíssimo o violão conduzido ao estilo "batido" e também a melodia central conduzida pela guitarra. Já a mencionar o trabalho do Mellotron, este é emocionante. Só quem viveu a década de setenta com intensidade sabe o quanto o timbre desse instrumento é marcante ao extremo. É difícil achar tal teclado original, disponível hoje em dia e acredito que o Ronaldo usou um simulador, mas o timbre ficou muito fidedigno, uma beleza.

A formação do Arcpelago, que gravou o CD Simbiose, com o guitarrista, Eduardo Marcolino (canto inferior à direita).

A última faixa do álbum, “Dentro de Si”, lembra muito o trabalho de bandas progressivas brasileiras e setentistas. Mais uma vez o trabalho do baixista, Jorge Carvalho, impressiona pela sua técnica e criatividade, além do timbre impressionante. Novamente a pilotar um Rickenbacker, desta feita no uso de um modelo 4003, o som do baixo é um massacre sonoro de tão bonito pelo timbre e corpo, robusto como ele só. Em alguns momentos onde sobram notas, a ressonância do “sustain” que ele deixa é incrível, mesmo. Gostei muito dos solos; o de Mini-Moog, a base com órgão Hammond, além de mais uma vez fazer uso de piano elétrico em alguns detalhes e um solo de guitarra muito melódico, a la David Gilmour. A letra da canção mais uma vez investiu no humanismo reflexivo, sob introspecção analítica, algo muito incomum nos dias atuais, ainda bem...

Sobre a capa do álbum, a ilustração é simples em seus traços a mostrar uma arte subjetiva. Sugere a presença dos quatro componentes da banda, unidos em uma espécie de mônada, ou seja, algo bem sutil e tudo sob cores leves, em tom pastel. Toda a concepção do design gráfico da capa e encarte, foi obra de Fernanda Pio. Com fotos da banda, individuais e coletiva, por Patrícia Soransso e Vítor Granja. O álbum foi gravado entre dezembro de 2014 e setembro de 2015. Gravação e mixagem sob a responsabilidade de Eduardo Magliano e masterização por Pedro Garcia.

A destacar-se o press-release no encarte, assinado pelo histórico jornalista cultural, Joel Macedo, membro da equipe original da Rolling Stone Brasileira, no início dos anos setenta e sedimentado escritor e tradutor de livros internacionais, há muitos anos.


Eis o álbum “Simbiose”, na íntegra para o leitor degustar o trabalho do Arcpelago:

Eis o Link para assistir no You Tube:


Formação do Arcpelago nesse álbum:

Eduardo Marcolino: Guitarra e Violão

Jorge Carvalho: Baixo

Renato Navega: Bateria

Ronaldo Rodrigues: Teclados e Voz

O atual guitarrista do Arcpelago, Diogo Aratanha. Foto: Lívia Botelho
 
Na atualidade de 2018, o guitarrista titular da banda é Diogo Aratanha.


Para conhecer melhor o trabalho da banda, acesse:


Canal do You Tube:





Página do Facebook:




Contato direto com a banda:


@arcpelago
 
Para encerrar, eu nunca acreditei nos argumentos falaciosos que embasaram o vilipêndio covarde que o Rock Progressivo recebeu ao final dos anos setenta e por conta de tal convicção não abalada, continuei firme e forte a apreciar essa escola, com muita ênfase, portanto, é com alegria que vejo, após quatro décadas decorridas da deflagração da ogiva nuclear por parte de seus detratores, que o gênero sobreviveu e dá mostras de revitalização. Dessa forma, saúdo o trabalho do Arcpelago e desejo-lhe uma longa carreira, com mais trabalhos tão bem feitos ou ainda melhores que este CD, “Simbiose”, que é muito bom, a surgir no futuro. 

sábado, 14 de abril de 2018

CD Naked Zen / Márcio Okayama - Por Luiz Domingues


Márcio Okayama é considerado um dos maiores guitarristas do Brasil, há muitos anos. Professor muito respeitado de uma escola famosa de música, que é sonho de consumo para aspirantes a músicos que transitam entre as escolas virtuoses, baseadas na estética do Hard-Rock & Heavy-Metal, dos anos oitenta e adeptos do Jazz-Fusion de uma maneira geral, Márcio é muito bem versado nessas estéticas citadas, mas vai muito além, pois possui uma base cultural muito forte por trás, como bagagem extra e decisiva para que a sua visão da música seja avantaja, o suficiente para garantir-lhe tal ecletismo. 

Um entusiasta da tecnologia, Okayama também tem forte identificação com as artes plásticas, devido ao fato de ser neto de uma artista de primeira grandeza, a senhora, Tsukika Okayama, que nos anos quarenta e cinquenta do século passado, foi componente do importante grupo, “Guanabara”, uma cooperativa artística formada por artistas plásticos estrangeiros que radicou-se no Brasil logo após o término da II Guerra Mundial, e em sua maioria formada por nipônicos. De sua avó famosa, ele herdou o apreço pelas artes plásticas em geral, ao ponto de hoje gerenciar em paralelo à sua carreira musical, um centro cultural nipo-brasileiro em São Paulo, chamado, "Hitsu 76", no mesmo endereço em que foi residência e atelier de sua avó, no bairro da Aclimação, na zona sul de São Paulo.



E vai muito além, pois Márcio Okayama também ostenta um lado esotérico forte e empresta tal musicalidade adquirida com todos os méritos, para diversos projetos interessantes, como por exemplo, ao ter musicado as palestras do famoso cromoterapeuta, Valcapelli, na busca incessante em estabelecer a relação das notas musicais com as cores e a vibração inerente produzida por ambas, a repercutir em cura para diversas doenças.


Como eu conheci pessoalmente o Márcio e o seu Centro Cultural, "Hitsu 76", ao final de 2017, gerou uma crônica com certa complexidade até, pois fui surpreendido positivamente, sob inúmeros aspectos. Convido o leitor a tomar conhecimento dessa experiência e que envolve amigos em comum, meus e de Márcio, o pessoal da banda, Pictórica, outra boa surpresa de tal referida tarde de um sábado, quando eu estive na companhia deles todos no citado espaço cultural, através do link da crônica, que direciona ao meu Blog 2:




E nessa ocasião, eis que eu recebi vários presentes, conforme mencionei na crônica acima mencionada, e entre eles, uma cópia de um trabalho recente de Márcio, o CD “Naked Zen”. É sobre esse trabalho que falo, agora, portanto, ao analisar o seu conteúdo artístico. 

Trabalho eminentemente instrumental, tem em seu bojo uma coleção composta por oito temas criados e executados por Márcio, quase que inteiramente sob forma solitária, com pouca participação de músicos convidados, o que faz dele em princípio, um álbum bastante reflexivo, circunspecto e expressivo, tudo ao mesmo tempo, agora. Por tal expressividade criativa, o disco foge inteiramente da expectativa de quem esperaria um disco padrão de um músico orientado pelo Jazz-Fusion, a exibir doses de virtuosismo didático, mas é na verdade, instigante; étnico e místico, a demonstrar uma linha eclética ao extremo.


Sobre as faixas do disco, a primeira canção é: “Nanotecnologia”.  Sob um baixo minimalista a dar peso e manter um "looping" constante (executado pelo baixista, Marco Nunes), acrescido do uso de bateria eletrônica e efeitos programados, Márcio desenha a canção com diversos dedilhados sobrepostos, através de bastante dissonância harmônica. Causa uma forte impressão tal musicalidade, nada próxima da música Pop tradicional e talvez por isso mesmo seja melhor apreciada por músicos, entretanto, eu achei ousada a sua colocação como primeira faixa, a correr tal risco anticomercial, explícito.


“Noite”, a segunda canção, traz mais um trabalho bonito com harmonia bem concatenada, para dar vazão a belos desenhos rítmicos e melódicos. A influência da música brasileira é nítida, a mostrar violões sobrepostos e muito bem tocados. Há o apoio do violonista, Floriano Villaça, como convidado especial, nesta faixa.


“Tracajá” é ainda mais raiz em sua concepção, do que a música anterior. Seria como trazer à tona, violeiros nordestinos a tocar ao luar do sertão, como uma imagem proposta. A percussão é bastante incisiva (executada por Marco Nunes), ao apoiar muito bem. Tem muito do aspecto de música incidental, produzida especialmente para o cinema e claro, essa é mais uma faceta de Márcio Okayama, pois ele já compôs várias trilhas, e portanto tem o traquejo para musicar com maestria, os audiovisuais.


“Equinócio” é outra faixa onde o trabalho feito ao violão, e mostra o apreço de Márcio Okayama pelo som Folk, a música étnica, e a dita, World Music.


“Passagem” é uma canção forte e traz a contundente identificação de Okayama com a música asiática em geral, japonesa em específico. O seu apreço às suas origens hereditárias vai além do orgulho nipônico, e certamente abriu-lhe um mundo de possibilidades no campo da teoria musical, quando ele avançou em seus estudos, pois pesquisou com esmero as escalas orientais e tornou-se assim um dos maiores especialistas nesse campo, no Brasil. Trata-se de uma faixa forte, com toda essa alma nipônica a fluir com contundência e beleza.


“Reflexo é mais uma faixa com bela resolução harmônica e dedilhados muitos inspirados. É uma canção bastante meditativa, ao apresentar uma brasilidade mais inspirada em elementos da natureza campestre, digamos assim. O violonista, Floriano Villaça, participa dessa faixa, igualmente. 



“Chronos” é uma canção bastante mística. O som da percussão evoca os tambores shamânicos, em um primeiro instante. Depois, o tema avança para algo mais tecnológico e bastante experimental a lembrar trilha de instalação avantgarde em exposições de artes plásticas. Bem, esse é um mundo artístico onde Okayama também transita bem e tem forte identificação pessoal, conforme eu já havia alertado ao leitor, anteriormente.


“Axolote” fecha o disco. Aqui a brasilidade Folk é explícita. Mais uma vez a maestria de Okayama ao violão, impressiona, com dedilhados precisos e tudo sob um belo timbre. É como se estivesse a tocar sozinho, sob o entardecer, em algum sítio arqueológico no Piauí ou coisa que o valha, tamanha a beleza panorâmica que tal melodia sugere.


Sobre a capa, trata-se de uma expressiva pintura, com o dorso humano feminino a sugerir calor, pela forte expressão do vermelho encarnado e do amarelo incandescente. Na contracapa, uma foto bastante informal do artista a segurar a guitarra no colo e um copo com café em seu conteúdo, a sugerir ser uma foto de estúdio em algum momento descontraído, durante a gravação do disco. Produção de Márcio Okayama, com masterização de Cássio Martin.


Músicos convidados:

Marco Nunes (baixo e percussão)

Floriano Villaça (violão)


Para conhecer melhor o trabalho de Márcio Okayama, visite o seu Site (muito completo, por sinal, tem este álbum incluso para audição, disponível):




Recomendo a audição do CD Naked Zen, do guitarrista/violonista, Márcio Okayama, um trabalho rico, com muitas influências boas e execução de alto gabarito.

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Patrulha do Espaço - 13/4/2018 - Sexta-Feira / 18:30 Hs. - Entrada Gratuita - Parque Governador Manoel Ribas - Ponta Grossa / PR



Patrulha do Espaço

Turnê de Despedida - Entrada Gratuita

13 de abril de 2018 - Sexta-Feira - 18:30 Horas

Parque Governador Manoel Ribas

Ponta Grossa  -  PR

Patrulha do Espaço :
Rolando Castello Junior - Bateria
Rodrigo Hid - Guitarra e Voz
Marta Benévolo - Voz
Luiz Domingues - Baixo e Voz

quarta-feira, 4 de abril de 2018

CD 10 Anos!/ Medusa Trio - Por Luiz Domingues




Conheço o guitarrista, Milton Medusa, há alguns anos. Sei que é um estudioso, professor de uma das mais prestigiadas escolas de música de São Paulo e do Brasil e que costuma envolver-se em inúmeros projetos musicais, a passear por muitos estilos musicais variados e sob circunstâncias ecléticas, Ao ir de trabalhos como “side-man” de cantores, a bandas tributo a artistas internacionais, direção e produção musical para outros artistas e gravações. Porém, ante tanta versatilidade, é claro que dedica-se ao seu trabalho solo, igualmente e com afinco. 

Neste caso, a sua banda, o “Medusa Trio”, está na ativa há muitos anos e recentemente lançou um CD, denominado: “10 Anos!”, justamente para celebrar a sua longevidade e não deixou por menos ao marcar a efeméride (iniciou atividades em 2007 e lançou esse trabalho ao final de 2017), sob altíssimo estilo.


Milton tem como base primordial de sua música, o Hard-Rock praticado na década de oitenta, predominantemente, mas é bem versado no Blues e mediante muito estudo, desenvolveu-se também no mundo do Jazz-Fusion, que tem as suas vertentes em ramificações variadas, mas a salientar a amálgama do virtuosismo instrumental, como um modus operandi. Contudo, eclético por natureza, ele também aprecia a música brasileira de uma forma geral, o Hard-Rock e o Progressive Rock dos anos setenta e claro, muita música instrumental, portanto, é por essa riqueza e bom gosto todo que o seu trabalho transita. 

Além de seus excelentes companheiros, Fernando Tavares (baixo) e Luis Pagoto (bateria), ambos igualmente instrumentistas de altíssimo padrão e professores famosos na mesma escola onde Milton leciona, o disco contou com muitos convidados ilustres nesse álbum, e dessa forma, enriqueceu-o sobremaneira. Entre tantas feras, o CD apresenta os guitarristas convidados, em participações super inspiradas: Robertinho do Recife (Metalmania; Fagner; Gal Costa), Sergio Hinds (O Terço), Mozart Mello (Terreno Baldio) e André Christovam (Fickle Pickle). 

O tecladista, Fernando Cardoso (Violeta de Outono), toca em várias faixas. Willie de Oliveira, ex-vocalista do Rádio Táxi, canta a única canção vocalizada e o excepcional guitarrista/tecladista, Daril Parisi (Platina), faz backing vocals nessa mesma faixa. 

O áudio do CD é de ótimo padrão, com mixagem caprichada a realçar muitas sutilezas nas sobreposições de guitarras, além de garantir não só à guitarra, mas também ao baixo e bateria, timbres muito bons, encorpados. Há uma concepção sonora mais próxima dos anos oitenta, é bem verdade, com um certo excesso de reverber, mas esse também é um aspecto Pop a ser observado, embora trate-se de um disco instrumental em 90% da obra, portanto, deduz-se que a banda não tenha tido tal preocupação comercial, mas a sonoridade foi uma questão de escolha pessoal. 

A capa do álbum é discreta, porém, bonita, traz a figura petrificada da medusa mitológica em pleno mar, com a água espumante do oceano a chocar-se com ela e na contracapa, segue o padrão com a continuidade dessa imagem. 

No encarte, eu apreciei a ficha técnica caprichada com muitas informações, inclusive a conter breves comentários escritos pelo próprio, Milton, a respeito de cada faixa, e nesse aspecto a se mostrar elucidativo e até poético em alguns momentos. Além de uma foto promocional da banda, posada, mas em postura de apresentação ao vivo, a empunhar instrumentos e sob uma bela paisagem do mar, visto que Milton é natural da cidade de Santos-SP, e toda a sua carreira foi construída primordialmente com tal bela cidade praiana a inspirá-lo. Falo a seguir, sobre as músicas dessa obra:


Sábado de Sol” é a primeira faixa do álbum e apresenta-se como um Blues clássico em sua estrutura harmônica e rítmica, a soar muito bem nas mãos de músicos virtuoses por natureza e preparo técnico, mas que tiveram o bom senso em estabelecer um arranjo comedido, sem extrapolar as tradições do gênero. Portanto, a tocar com extrema desenvoltura e bom gosto, mas ao mesmo tempo na observação das fronteiras tradicionais do Blues, o Medusa Trio faz aqui um Blues muito gostoso de se ouvir e por que não, até dançar, sem amarras ou constrangimentos, a estabelecer uma alegria natural, muito gostosa em saborear-se. Gostei dos solos mais ardidos e da base limpa de guitarra. 

Ondas Rolando no Mar”, vem a seguir. Aqui a aposta é no Pop oitentista com certa queda pelo Hard-Rock daquela década. Gostei muito da base feita sob belos arpejos, e também da linha de baixo na parte A, com efeito "looping" e apoio firme da bateria. Lembra bandas oitentistas que buscavam o Pop, em essência, e tinham influência Fusion, no estilo do “Toto” e demais contemporâneas.

Guitarras Brasileiras”, pelo seu título, já dá a ideia de que Milton faz uma linda homenagem a guitarristas brasileiros que tinham a forte influência da MPB sob múltiplas vertentes e também eram/são Rockers por excelência, casos gritantes de Pepeu Gomes, Armandinho, Paulo Rafael e Robertinho de Recife, entre outros. Ou seja, a se tratar de grandes feras e Milton não se fez de rogado, pois a sua atuação é espetacular nessa faixa, com balanço, solos e bases incríveis, incluso com a introdução de violões para dialogar com as guitarras. Gostei muito também de uma parte C, muito criativa. 

Anos Setenta”, é a quarta canção e nessa faixa, o Riff Hard-Rock, bem ao estilo dos anos setenta dá início aos trabalhos, mas é nítido que há uma boa influência do Blues-Rock, igualmente. Fernando Tavares brilha intensamente ao fazer um solo muito técnico e ao mesmo tempo, ultra melódico, a mostrar seu talento criativo e sob um belo timbre, devo registrar. Tem também nas partes B e C, atrativos muito interessantes e Milton mostra toda a sua técnica, inclusive no uso da alavanca, bem ao estilo de guitarristas mais contemporâneos seus, casos de Joe Satriani e Steve Vai. E o Riff final, sob uma convenção rápida e muito precisa, mostra a banda muito afiada. 

O Blues do Rock”, como o título sugere, recorre ao Blues como base, mas sob uma pegada quase a beirar o Country-Rock virtuose de uma banda como o Dixie Dregs, por exemplo. Fernando Tavares faz mais um solo espetacular de baixo e o baterista, Luis Pegoto, brilha, ao soltar frases muito pontuais, mesmo ao manter uma batida tradicional, na maior parte do tempo. 


Libertadora”, mostra um Hard-Rock em essência, daqueles baseados no estilo “AOR”, bem do final dos anos setenta/início dos oitenta, onde bandas como “Foreigner”, “Boston” e “Journey” foram os seus maiores expoentes, sem dúvida. Contudo, há uma pitada de Rock Progressivo setentista, pois como Fernando Cardoso tocou órgão Hammond nessa faixa, um ligeiro interlúdio desse estilo é notável, ao trazer lá pelo meio da canção, uma evocação do som do “UK” e dos discos solo do tecladista, “Rick Wakeman”, sem dúvida. Os solos de Milton impressionam não só pela técnica, mas pelos timbres, muito bonitos.


Ganhar e Perder” é a única faixa cantada e é super Pop Rock dos anos oitenta e não é para menos ao contar com a voz potente do ex-vocalista do “Rádio Táxi”, Willie de Oliveira. O refrão é bem "grudento", tem algumas convenções mais complexas que lembram o som do “Taffo”, uma referência óbvia e da qual acho não carecer nenhuma explicação adicional.


6 cordas e Muitas Alegrias”, antes mesma de ser escutada, tem no encarte uma explicação muito bonita do Milton, sobre sentir-se gratificado em ser músico e conviver com tantos músicos incríveis com os quais já tocou e toca na atualidade. E sobre a canção em si, trata-se de uma mini suíte, onde Milton construiu diversas partes distintas para dar vazão aos seus convidados poder atuar. Portanto, contém o trecho Progressivo, para que Sergio Hinds fizesse o seu solo; Hard-Rock para a atuação de Robertinho de Recife, Jazz-Fusion com Mozart Mello, a brilhar e finalmente e André Christovam, com o seu slide, fecha com o solo em ambientação Blues-Rock. E ao final, um trecho onde todos, incluso, Milton, solam sob revezamento. Uma faixa poderosa, portanto, com tantas feras juntas.


Trem Azul”, levou-me á reflexão de que quando pensei já ter ouvido todas as possibilidades dessa linda canção de Lô Borges & Ronaldo Bastos, sob múltiplas interpretações, incluso as clássicas, do próprio, Lô e de Elis Regina, eis que o Medusa Trio surpreende-me e apresenta-a sob uma vestimenta Blues, belíssima. Adorei a introdução bastante criativa e a levada vigorosa da banda.


O Blues do Medusa”, tem uma condução melódica na guitarra, espetacular, a lembrar, pelo estilo e timbre, o som de Jeff Beck. Aqui a base harmônica é bem Jazzy e a sobreposição de guitarras, solos e base, é muito bonita. Essa faixa foi gravada muitos anos atrás, em 2009, com o baixista, Ronaldo Lobo, na formação.


Gravado no estúdio Purosom, de São Paulo, em 2017, tendo como técnico de gravação; mixagem & masterização, Edson Paulino. 
As intervenções do órgão Hammond, foram gravadas no estúdio, Áudio Freaks, com o técnico, Renato Coppoli. 
Mozart Mello gravou sua guitarra em seu Home Studio, em São Paulo. 
Robertinho de Recife gravou no RR Studios - Polorio, no Rio de Janeiro.
André Christovam gravou no Music Studio em Glascow, na Escócia.

Direção de estúdio: Milton Medusa e Edson Paulino

Pré-produção de Milton Medusa e Fernando Tavares.

Direção de arte: Michel Camporeze Teér

Fotos: Deca Pertrini

Formação do Medusa Trio nesse álbum

Milton Medusa: Guitarra

Fernando Tavares: Baixo

Luis Pagoto: Bateria

(Faixa 10 – Ronaldo Lobo – Baixo)


Músicos convidados:

Fernando Cardoso: Teclados

Sergio Hinds: Guitarra

Robertinho de Recife: Guitarra

Mozart Mello: Guitarra

André Christovam: Guitarra

Willie de Oliveira: Voz

Daril Parisi: Backing Vocals


Agradeço muito ao Milton, pela amizade e inclusive por ter sido um dos maiores incentivadores para que eu empreendesse esforços para escrever o meu livro autobiográfico sob o foco da minha carreira musical e por ter apresentado-me ao Fernando Tavares, que foi o meu editor na revista Bass Player, no período em que eu fui colaborador desse veículo. E pela inclusão do meu nome na lista de agradecimentos aos apoiadores do seu trabalho, fiquei muito honrado e feliz por isso.


Para conhecer melhor o trabalho do Medusa Trio, acesse o seu site oficial:




O canal de You Tube da banda:




E a página da banda, no Facebook:



Eis aí um trabalho que eu recomendo, por apresentar música de alto quilate, feita por músicos virtuoses, mas que observam o bom senso acima de tudo, portanto, não é um trabalho feito para ser apreciado apenas por músicos, mas agrada a todos.